Emmanuel Macron nomeia Michel Barnier, de direita, para primeiro-ministro da França

Quase dois meses depois das eleições legislativas na França, o presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou nesta quinta-feira (5) um novo primeiro-ministro: o ex-comissário europeu de direita Michel Barnier, 73 anos. Barnier foi o negociador da União Europeia para o Brexit, a saída do Reino Unido do bloco europeu.

Foram 60 dias de impasse após a realização das eleições legislativas, convocadas pelo próprio Macron e que resultaram em uma Assembleia Nacional sem maioria. Barnier sucederá a Gabriel Attal, o primeiro-ministro mais jovem da República francesa, de 35 anos, e se tornará o mais velho chefe de Governo do país.

O novo premiê terá que tentar formar um governo capaz de sobreviver à censura no Parlamento e pôr fim à mais grave crise política em décadas na França. As negociações para a escolha se aceleraram desde fim dos Jogos Olímpicos, em meados de agosto.

Uma longa lista de possíveis candidatos, quase todos de direita, foi evocada e, desde a semana passada, Macron acelerou as consultas às lideranças políticas com vistas ao nome mais consensual possível. Os nomes dos ex-ministros Xavier Bertrand (conservador) e Bernard Cazeneuve (socialista) ganharam impulso no começo da semana, mas os dois não parecem ter recolhido apoio suficiente.

Esquerda descartada 

A coligação da esquerda Nova Frente Popular (NFP), vitoriosa do pleito, exigia que o novo premiê viesse dos partidos que a compunham a coalizão. Em nenhum momento, entretanto, o presidente demonstrou aceitar essa possibilidade, evocando as fraturas internas dentro da NFP e a inflexibilidade da coalizão sobre o seu programa de governo.

Macron dizia procurar um primeiro-ministro que não seria imediatamente recusado pela Assembleia, que deve aprovar a escolha. Assim, o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) acabou assumindo protagonismo indireto na escolha.

O jornal Le Monde diz que Macron consentiu que o Reunião Nacional tivesse a última palavra em relação à escolha do chefe de governo. Segundo reportagem do diário, Marine Le Pen estava sendo consultada diariamente pelo Palácio do Eliseu sobre o que pensa a respeito de um ou outro potencial candidato.

A sigla tem 126 deputados, aos quais se somam outros 16 eleitos liderados pelo presidente dos Republicanos, Eric Ciotti, que se aliaram à extrema direita e a transformam na terceira força política da Assembleia, atrás da base aliada (166 deputados) e da Nova Frente Popular (193).

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Extrema direita "vai analisar" discurso de Barnier 

Após o anúncio desta quinta, o presidente do RN, Jordan Bardella, e a líder do partido na Assembleia, Marine Le Pen, afirmaram que analisariam "o discurso de política geral" de Barnier antes de decidir se bloquearão ou não a sua posse.

"Nós pedimos que as grandes emergências dos franceses, o poder aquisitivo, a segurança, a imigração, sejam finalmente resolvidas, e reservamos qualquer meio de ação política se este não for o caso nas próximas semanas", disse Bardella no X.

Le Pen declarou que Michel Barnier "parece cumprir pelo menos o primeiro critério que havíamos solicitado, ou seja, um homem que respeite as diferentes forças políticas e seja capaz de se dirigir ao Reunião Nacional, que é o primeiro grupo da Assembleia Nacional, da mesma forma que outros grupos".

Já o líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon protestou contra a nomeação. "As eleições foram roubadas dos franceses", denunciou. Ao descobrir "um primeiro-ministro nomeado com a autorização e talvez por sugestão do Reunião Nacional", Mélenchon conclamou, em um vídeo publicado nas redes sociais, "a uma mobilização mais poderosa possível", anunciando uma manifestação para este sábado (7).

O secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure, disse que "estamos entrando em uma crise de regime". Ele descreveu uma "negação democrática levada ao auge: um primeiro-ministro do partido que ficou na quarta posição e que nem sequer participou na frente republicana" para barrar a vitória da extrema direita nas eleições legislativas.

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Macron irredutível sobre o seu projeto para a França

Macron buscava um primeiro-ministro compatível com os planos que ele próprio tem para o país. O presidente era criticado por toda a oposição devido à indecisão, que de certa forma paralisa a Assembleia e sobretudo o governo, num momento de agravamento da situação das contas públicas. 

A imagem do presidente com ar desconcertado, tenso, perdido ou de cabeça baixa está nas capas de todos os jornais franceses nesta quinta-feira (5), horas antes da revelação do escolhido para comandar o palácio Matignon.

O portal de notícias France Info afirma que a reforma da Previdência, que aumentou a idade mínima da aposentadoria para 64 anos, era a principal razão do impasse. Macron quer preservar a reforma como seu principal legado político, enquanto a esquerda e a extrema direita prometem revogá-la tão logo a Assembleia iniciar a temporada de votações em outubro, durante a análise do orçamento de 2025. 

Enquanto o bloqueio se arrastava, o fundador do partido França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, promoveu uma petição que pede o impeachment de Macron. O documento já recolheu 81 assinaturas entre os 577 deputados do plenário.

Com AFP e Reuters 

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