Ian Cheibub mergulha nas tradições umbandistas da família e produz imagens lavadas em ervas santas

Com 15 anos, Ian Cheibub, de Niteroi (RJ), já fotografava protestos. Aos 25, ele já teve fotos publicadas por agências e veículos nacionais e internacionais, como Le Monde e The New York Times. Ele esteve nos Encontros Fotográficos de Arles, na França, onde apresentou "Alumbre na Macaia".

Patrícia Moribe, de Arles

"Alumbre significa iluminar, mas, ao mesmo tempo, se encantar, e macaia, é um lugar sagrado e uma floresta onde tem muitas ervas", explica Ian Cheibub, quinta geração de um terreiro de umbanda em Niterói, onde sua avó é atualmente a mãe de santo. "É essa relação que encontrei entre as ervas e a fotografia, uma maneira de fotografalizar a macumba e macumbalizar a fotografia".

"Durante muitos anos eu fotografei aquilo, mas em algum momento eu me dei conta que esse é um tema muito batido e, principalmente, muito fotografado de uma forma etnográfica, sabe? Então, isso me incomodava muito, principalmente sendo da religião; eu sou um ogã, que é um comunicador", relata o artista. Para se distanciar do aspecto exótico, Ian se voltou para as memórias de infância, de quando tomou um banho de santo, de ervas sagradas, feito pela avó.

Para produzir imagens que só ele poderia fazer a partir de uma experiência própria, passou a fotografar o terreiro com filme e depois mergulhar as películas em um banho de ervas sagradas. Os resultados são imagens que se borram, que ganham outros fachos de cores. "Tem um lado que é estético que você de fato pode ver o efeito, mas, por outro lado, é uma forma poética que encontrei de banhar esses meus irmãos de santo que estão presentes em forma de luz, nos negativos."

Magia e fotografia

"Então tem essa relação da magia com a fotografia, porque a fotografia tem essa coisa do mágico de se revelar, assim como na macumba, que são essas cantorias e essas práticas religiosas, que não são puras, que são especificamente brasileiras e que são formas de inventar e subverter os mundos que a gente vive", acrescenta.

"Em algum momento da minha carreira eu percebi que só documentar o mundo e mostrar o mundo não era o suficiente para mim", conta Ian Cheibub.

Ele resolveu então fazer uma mudança radical na maneira em que trabalha. Para ele, não bastava o olhar de fotojornalista, de "pegar um pedaço da realidade, do mundo e mostrar para o público".  Ele passou a se interessar cada vez mais pelas diferentes formas de utilizar a fotografia, a revelação, os materiais e os suportes. Para explorar "quando a magia entra no real e onde o real entra na magia", explica.

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