França: governo de novo premiê é "o mais conservador" em quase 20 anos, analisa imprensa francesa

A imprensa francesa desta segunda-feira (23) analisa a composição do novo governo francês, anunciado no sábado (21) pelo primeiro-ministro Michel Barnier. Os diários não poupam críticas ao projetos do novo premiê nomeado pelo presidente Emmanuel Macron, dois meses após o segundo turno das eleições legislativas antecipadas, em julho. 
 

As capas dos maiores jornais franceses trazem fotos do novo primeiro-ministro, para quem "o mais difícil começa agora", diz o conservador Le Figaro. Em sua primeira entrevista à TV francesa, no domingo (22), ao canal France 2, Barnier fez um apelo por um "compromisso". Ele visa principalmente resolver a crise orçamentária no país, afetado pela baixa credibilidade da França junto aos  investidores internacionais, segundo avaliação do próprio premiê. 

O novo governo será "um milagre ou um fracasso", afirma o diário em editorial. Após descartar vários nomes de possíveis ministros envolvidos em polêmicas e pastas julgadas desnecessárias, como o Ministério da Laicidade, que será finalmente o da Cidadania, o premiê já é alvo de várias críticas por escolhas como Bruno Retallieau. O novo ministro do Interior é considerado reacionário por parte da mídia francesa, aponta o texto. Por isso, "os riscos de queda" são numerosos, aponta Le Figaro

"Um governo na corda bamba", diz o jornal La Croix em sua manchete, salientando que a maioria dos ministros escolhidos por Barnier é do centro ou da direita, grande perdedora das eleições legislativas antecipadas, "o que não reflete o resultado" da votação, considera. Para o diário, "a fraqueza deste novo governo é flagrante para se pensar no futuro com serenidade". O diário critica também a falta de personalidades fortes nos ministérios, ocupados majoritariamente por políticos desconhecidos do grande público.

Conglomerado de perdedores

"O pacto reacionário" é a manchete do jornal de esquerda Libération, para quem o novo gabinete é "o mais conservador desde a era de Nicolas Sarkozy", presidente francês de 2007 a 2012, e "um amontoado de perdedores das eleições legislativas". Em editorial, o diário considera que, antes de avaliar a composição do governo, é preciso considerar "o preocupante desvio democrático" por trás das escolhas de Barnier. Para Libé, a decisão de Macron de dissolver a Assembleia para mobilizar os franceses a escolher novos deputados, mas não respeitar o resultado das urnas depois que a coligação de esquerda venceu a votação, "fragilizou uma democracia que já estava mal". 

A equipe de reportagem do jornal Le Parisien conversou com cidadãos e cidadãs francesas em três cidades: Paris, Marselha, no sul, e Clermont-Ferrand, no centro. Segundo o diário, o sentimento geral entre os entrevistados é de perplexidade e dúvida com as escolhas do novo premiê. Para eles, a nova guinada à direita do governo não representa o resultado das urnas. Outros acreditam que o gabinete não apresenta nenhuma novidade e nada mais é do que "uma colcha de retalhos incoerente", nas palavras do eleitor parisiense Jérôme, de 43 anos. 

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