EUA: Declarações de Melania Trump a favor do aborto são tentativa de suavizar 'retórica' do marido em plena campanha

A ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, apoia fortemente o direito ao aborto, segundo escreveu em suas memórias, que serão lançadas na terça-feira (8), em plena campanha eleitoral americana. O jornal britânico The Guardian teve acesso a um exemplar e publicou trechos do livro, comentados por especialistas. Logo depois, Melania se mostrou evasiva e tentou desconversar sobre o assunto, na reta final da campanha presidencial nos EUA.

"Por que alguém, além da própria mulher, teria o poder de determinar o que ela faz com seu corpo? O direito fundamental à liberdade individual que uma mulher tem (...) dá-lhe autoridade para "interromper a gravidez se desejar", escreve Melania Trump em páginas reveladas pelo Guardian.

As mulheres devem estar "livres de qualquer intervenção ou pressão do governo", insiste a esposa do candidato republicano.

"Restringir o direito de uma mulher optar por interromper uma gravidez indesejada é o mesmo que proibi-la de controlar o seu próprio corpo. Mantive esta crença durante toda a minha vida adulta", acrescenta ela, segundo o jornal britânico.

A questão do aborto é central no duelo de 5 de novembro entre o antigo presidente republicano, que conta com o voto dos conservadores, e a vice-presidente democrata Kamala Harris, esta última defendendo ativamente o direito à interrupção voluntária da gravidez (aborto).

Evasiva

Mas num vídeo de campanha divulgado na quinta-feira, Melania Trump se mostrou mais evasiva.

"A liberdade individual é um princípio fundamental que protejo, sem dúvida. Não há espaço para concessões neste direito essencial que as mulheres têm desde o nascimento. Mas o que realmente quer dizer 'Meu corpo, minha escolha?', pergunta Melania retomando o slogan de luta pelo direito ao aborto.  

"A campanha de Trump está a tentar suavizar a sua retórica sobre o aborto, para mudar as palavras que usa para falar sobre o que quer infligir às mulheres americanas", analisa Moira Donegan, do Guardian, nesta sexta-feira (4).

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"Eles esperam que isto convença os eleitores, especialmente aqueles em estados indecisos como Nevada e Arizona, onde as iniciativas de direitos ao aborto também estarão em votação em novembro", acrescenta. "Como tantas vezes acontece com as declarações públicas de Trump, a intenção não é informar, mas enganar; na verdade, eles não mudaram seus objetivos", escreve Donegan.

A equipe de campanha de Kamala Harris rapidamente se manifestou. "Infelizmente para as mulheres em toda a América, o marido da senhora Trump discorda veementemente dela", disse a porta-voz da campanha democrata, Sarafina Chitika, num comunicado.

Trump afirma ter encorajado a mulher

Questionado pela Fox News sobre o assunto, Donald Trump garantiu que incentivou a mulher a se expressar com sinceridade.

"Conversamos sobre isso e eu disse a ela: 'Você tem que escrever aquilo em que acredita, não vou lhe dizer o que você tem que fazer'", disse Trump.

"Há pessoas que são muito, muito de direita nesta questão, ou seja, que não querem uma exceção" à proibição do aborto, acrescentou. "E há outras pessoas que veem as coisas de maneira um pouco diferente."

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Muitos estados do sul proibiram ou restringiram severamente o acesso ao aborto desde que o Supremo Tribunal, em junho de 2022, dinamitou a jurisprudência que protegia este direito à escala nacional.

O candidato republicano se felicitou muitas vezes por ter contribuído para essa decisão ao nomear três juízes conservadores para o Supremo Tribunal durante o seu mandato.

Ira dos que criticam o aborto

Os comentários de Melania Trump provocaram a ira dos opositores ao direito ao aborto. "A maior parte do que ela diz é simplesmente falso", reagiu o grupo SBA Pro-Life em X, retomando um dos argumentos anti-aborto segundo o qual as mulheres seriam pressionadas a recorrer a ele.

"O apoio de Melania Trump ao aborto é antifeminista e claramente se desvia do ensinamento da nossa fé católica. Ela está errada", criticou Kristan Hawkins, presidente do Students for Life, um grupo que visa "a abolição do aborto". "O aborto acaba com uma vida inocente", ela insistiu.

"Direitos reprodutivos"

Mas embora a opinião pública seja maioritariamente a favor do direito ao aborto, o próprio Donald Trump teve de ajustar um pouco a sua posição sobre a questão.

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O candidato republicano tenta agora apresentar-se como um defensor dos "direitos reprodutivos", o que o levou a ser acusado de traição pelos conservadores.

Já muito investida nesta questão enquanto vice-presidente, Kamala Harris fez uma campanha vigorosa em defesa do direito ao aborto e, segundo as sondagens, é considerada muito mais concreta do que o seu rival na matéria.

(Com agências)

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