RSF defende proteção de jornalistas que investigam questões relacionadas com direitos das mulheres

Em relatório publicado nesta terça-feira (22), a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pede aos Estados que "garantam" a proteção dos jornalistas que trabalham em questões relacionadas com os direitos das mulheres. Sete anos depois das revelações sobre as agressões sexuais do ex-produtor de cinema americano Harvey Weinstein, o levantamento "Jornalismo na era #MeToo" aponta que "a repressão de jornalistas especializados e mulheres jornalistas continua sendo um problema importante".

Para avaliar o impacto do #MeToo na profissão, a RSF entrevistou 113 de seus correspondentes jornalistas em 112 países. Desde 2017, segundo a organização de defesa da imprensa, mais de 80% dos profissionais consultados notaram um aumento significativo do número de reportagens publicadas sobre os direitos das mulheres, questões de gênero e violência sexual e de gênero. Porém, 27% dos jornalistas ouvidos disseram que trabalhar com esses assuntos continua sendo "perigoso". E cerca de 60% conhecem pelo menos um jornalista que sofreu algum tipo de intimidação em relação ao tema abordado.

Segundo a RSF, a onda #MeToo estimulou a criação de novas mídias e publicações especializadas em todo o mundo. O movimento favoreceu o desenvolvimento de melhores práticas jornalísticas e de diversas redes profissionais.

"Mas, apesar de todos os avanços, os jornalistas especializados nos direitos das mulheres e na violência de gênero ainda são os principais alvos de ataques que vão desde campanhas de assédio na internet até assassinatos. Esses abusos devem parar", declara Anne Bocandé, diretora editorial da RSF.

Entre outros casos citados no documento, a jornalista turca Hale Gönülta? recebeu ameaças de morte por reportagens que revelaram a violência contra meninas e mulheres da minoria yazidi, sequestradas para se tornar escravas sexuais de extremistas da organização terrorista Estado Islâmico. Já a jornalista francesa Salomé Saqué foi alvo de "deepfakes" de teor pornográfico.

Dezesseis recomendações

No relatório, a RSF, sediada em Paris, faz 16 recomendações e pede aos Estados que protejam esses jornalistas, "incluindo no direito penal circunstâncias agravantes" em casos de perseguição cibernética contra mulheres, jornalistas e minorias de gênero.

A RSF defende que as redações dos meios de comunicação capacitem melhor os seus colaboradores que possam ser vítimas de perseguição cibernética. Outra recomendação é a criação de cargos de editores especialmente encarregados das questões de gênero ('gender editors').

#MeToo

O movimento #MeToo começou em outubro de 2017, com as revelações envolvendo o ex-produtor Harvey Weinstein, nos Estados Unidos, mas depois se espalhou para cerca de 40 países: #EuTambém, no Brasil, #EnaZeda, na Tunísia, #Cuéntalo, na Espanha e #WoYeShi, na China, são algumas das versões locais criadas por mulheres vítimas de violências sexuais e sexistas.

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O ex-produtor americano, 72 anos, cumpre uma sentença de 16 anos de prisão em Nova York, depois de ser declarado culpado de estupro na Califórnia. Ele voltou às manchetes nesta segunda-feira (21), depois que os canais de TV NBC News e ABC News revelaram que Weinstein foi diagnosticado com leucemia mieloide crônica e está recebendo tratamento na prisão.

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