Sébastien Lapaque ganha prêmio literário francês com livro sobre Bernanos e Zweig no Brasil

O livro "Échec et mat au paradis" (Xeque-Mate no Paraíso) do jornalista francês Sébastien Lapaque venceu nesta segunda-feira (4) o prêmio Renaudot, na categoria ensaio, que é um dos mais importantes prêmios literários da França, ao lado do Goncourt. "Échec et mat au paradis" recria o encontro entre os escritores francês Georges Bernanos e austríaco Stefan Zweig no Brasil em 1942.

O crítico literário, romancista e ensaísta francês Sébastien Lapaque tem mais de 20 livros publicados e o Brasil ocupa um lugar de destaque na sua obra. A primeira vez que ele esteve no país foi em 2001, seguindo os passos do escritor católico francês Georges Bernanos (1888-1948) que se autoexilou sob os trópicos brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial. Essa pesquisa virou livro, "Sous le soleil de l'exil", (Sob o sol do exílio), publicado em 2003, na França.

Vinte e um anos depois, Lapaque volta a publicar um livro sobre o Brasil e Bernanos: "Échec et mat au paradis", pela editora Actes Sud. Este último relato, dá mais espaço a um segundo personagem, o escritor Stefan Zweig (1881-1942) que também se autoexilou no Brasil. Um dos autores mais lidos da época, o austríaco de origem judaica estava no país desde 1941, fugindo do nazismo e da guerra. Era sua terceira viagem ao "Brasil, país do futuro", título de um de seus livros.

Bernanos e Zweig se encontraram uma única vez no início de 1942, em Barbacena, interior de Minas Gerais, onde o escritor francês morava na fazenda Cruz das Almas. Poucas semanas depois, o escritor austríaco se suicidava em Petrópolis, ao lado da mulher Lotte (1908-1942), desiludido com a humanidade.

Diálogo recriado

"Échec et mat au paradis" é construído em torno desse encontro que foi real, mas nenhum registro do diálogo entre os dois escritores foi feito. Lapaque, baseado em uma pesquisa minuciosa e em um grande conhecimento da obra dos dois autores decidiu recriar, ou melhor, inventar a conversa. Ele escreveu inicialmente como uma peça de teatro, publicada em português com o título "Esse paraíso da Tristeza", em 2018.

Para o livro em francês, o jornalista teve a ideia de fragmentar o diálogo, inserindo entre as partes relatos pessoais com as lembranças das várias viagens, encontros e a relação com o Brasil em mais de 20 anos.

"Échec et mat au paradis" revela também a história do Brasil na era Vargas, com todas as suas ambiguidades, mas a narrativa vai além. O livro dá detalhes da jornada do 15 de janeiro de 1985, dia em que Tancredo Neves foi eleito indiretamente o primeiro presidente civil brasileiro depois de duas décadas de ditadura militar.

Prêmios literários

O prêmio Renaudot é um dos mais importantes da França. Na categoria ficção, venceu o romance "Jacaranda", de Gaël Faye.

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O Goncourt, o mais prestigioso do país, também foi anunciado nesta segunda-feira e recompensou o romance "Houris", do franco-argelino Kamel Daoud. Essa foi também uma premiação política. "Houris", sobre a guerra civil argelina, provocou uma onda de críticas e tensões entre a França e a Argélia, após sua publicação em agosto. O governo argelino baniu o livro do país e chegou a proibir a editora Gallimard, que publica a obra, de participar do salão do livro de Argel.

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