Dos números às letras: brasileira doutora em economia lança livro de poesia em Nova York
Georgia Rodrigues tem artigos publicados questionando a viabilidade de uma moeda única no Mercosul, escreveu sobre a necessidade de pensar o acordo do bloco com a União Europeia de modo a não comprometer o desenvolvimento justo e sustentável. Ela é doutora em economia com uma passagem pelo Instituto de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Columbia, onde começou sua trajetória em Nova York.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Dos tempos de doutoranda, interrompidos pela pandemia, ela guarda amigos e uma decepção amorosa que se transformou no impulso para seu primeiro mergulho no mundo da literatura. A economista acaba de lançar "Uma carta para meu ex-futuro amor: a letter to my ex-future love", uma coleção de poesias sobre um coração partido em contexto pandêmico.
Sobre a transição dos números para as letras, Georgia explica que "foi uma transição e também não foi". "Desde pequena eu escrevo. Eu aprendi a escrever poesia quando eu tinha 14 anos, na escola de Freda que eu estudava, lá em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. E eu fiquei apaixonada pelos sonetos", conta admirada com a "montagem de 4 em 4" e com "a liberdade de rimar" os versos. "Parece música!"
A pandemia frustrou sua experiência de intercâmbio, já que com a ordem de confinamento ela teve de voltar ao Brasil. Buscando uma conexão com o exterior, Georgia entrou no aplicativo de relacionamentos Coffee Meets Bagel para encontrar alguém com quem conversar sobre Nova York e, assim, conheceu o que chama de seu "Ex-Futuro Amor".
Como muitos solteiros na pandemia, Georgia descobriu que as dificuldades do namoro pós-Covid-19. Segundo o Pew Research Center, o interesse em encontrar um parceiro permaneceu o mesmo após a pandemia, mas a maioria considera a paquera um processo mais difícil. Estudos mostram que aplicativos de namoro podem afetar negativamente a saúde mental, gerando sentimentos de solidão e ansiedade. No caso da economista, a promessa de um amor resultou em um único encontro e uma dolorosa decepção. Mas com o apoio dos amigos e da poesia, ela conseguiu se reerguer e decidiu financiar seu primeiro livro.
Editoras independentes
Georgia conta que teve que buscar editoras independentes e lidar com feedbacks desanimadores. Uma das razões era seu desconhecimento do mercado. "Eu comecei a pesquisar um monte de editoras e um dos feedbacks que tive é que eu não era uma pessoa famosa, porque eu não tinha histórico de vendas", relata.
Com o incentivo de um fundo cultural, ela cobriu parte dos custos da publicação. "Eu tive que colocar um pouco mais do meu dinheiro, mas não foi muita coisa. O fundo cobriu quase tudo. Neste fundo da cultura, no Rio de Janeiro, na classificação de mulheres e escritoras tinha uma cota para mulheres. Então fui, consegui e fiz."
Publicado pela editora Labrador e apresentado na Festa Literária Internacional de Paraty, o livro chegou também aos primeiros lugares de venda de poesia em português na Amazon França. "A internet nos gerou um mundo com menos barreiras, onde você pode ter maior visibilidade. Eu pensei, nossa, o pessoal realmente gostou", Georgia comenta.
O caminho da economista pela literatura ilustra como a digitalização dos livros possibilitou que escritores iniciantes alcançassem maior visibilidade e pudessem chegar ao seu público-alvo de modo mais eficaz, como explica um relatório sobre o impacto da digitalização no mercado literário feito pela Pontifícia Universidade do Paraná. "Eu acho que se não tivesse esse ambiente virtual, provavelmente as pessoas no exterior não ficariam sabendo do livro", acredita.
As livrarias e editoras especializadas também ampliaram o mercado para novas autoras. Georgia lançou seu livro em Nova York na livraria feminista Cafécon Libros, no Brooklyn. De propriedade de uma mulher afro-latina, a editora se dedica a dar visibilidade a mulheres artistas e minorias.
"Eu pensei, a história foi aqui no Brasil e lá (Nova York). Tem que ter um desfecho lá também. Tem também que florescer aqui em Nova York. É uma história que ressoa universalmente. Mulheres do Brasil, mulheres em Nova York. Todo mundo passa por um relacionamento tóxico. Todo mundo sofreu na pele as consequências da pandemia", diz.
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