'Europa está preparada para enfrentar a nova presidência de Trump nos EUA', diz chanceler francês

O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, comentou a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e o impacto do pleito no diálogo entre Washington e a União Europeia. Em entrevista exclusiva à RFI, o chefe da diplomacia também falou sobre as relações da França com Israel, estremecidas em meio ao conflito no Oriente Médio e tensões recentes entre os dois países.

"Sobrevivemos a 59 eleições presidenciais americanas. Obviamente, sobreviveremos à 60ª", disse o chefe da diplomacia francesa durante entrevista concedida nesta terça-feira (12) à RFI e ao canal France 24. "A França está pronta para defender seus interesses, especialmente na agricultura e na indústria, sem tremer, se o novo governo Trump tomar medidas consideradas protecionistas", alertou o ministro das Relações Exteriores.

O primeiro mandato de Donald Trump foi marcado pela imposição de taxas alfandegárias punitivas sobre uma infinidade de mercadorias e produtos em todo o mundo, incluindo produtos franceses, com o argumento de reequilibrar o grande déficit comercial dos Estados Unidos com seus parceiros comerciais. E o presidente reeleito já advertiu que as tarifas continuam sendo a pedra angular de sua política comercial, falando em impor uma sobretaxa de 10% a 20% sobre todos os produtos estrangeiros que entram nos Estados Unidos.

Mas na opinião de Barrot, o próximo governo norte-americano estaria cometendo "um grande erro de cálculo" se aplicasse "tarifas à Europa de forma indiscriminada e maciça". Ele lembrou que a União Europeia é o maior parceiro comercial dos Estados Unidos e que a aplicação de impostos de importação adicionais "penalizaria severamente o grande número de empresas americanas que atualmente estão sediadas na França ou na Europa" e que exportam para o mercado americano. "Isso privaria imediatamente a classe média americana de uma parte inteira de seu poder de compra, porque ela também compra produtos importados da Europa", avaliou.

Ao ser questionado se o continente europeu está pronto para essa nova era Trump, o ministro francês disse que Paris, como todo o bloco, já vinha se preparando para essa "transformação do mundo" e que a Europa vem fazendo tudo para "alcançar sua soberania e independência", completou Barrot. Para o chanceler, "a Europa está muito mais preparada para uma presidência de Trump do que estava em 2016. Porque, basicamente, as grandes crises pelas quais passamos, a Covid e suas consequências, mas também a guerra na Ucrânia, consolidaram a unidade dos europeus".

Relação com Israel

A entrevista com Jean-Noël Barrot foi feita pouco antes de seu encontro com o embaixador israelense em Paris, convocado pelo chanceler após um incidente diplomático durante sua visita a Israel na semana passada. Na ocasião, policiais israelenses entraram armados em Eleona, uma das propriedades da França em Jerusalém, no Monte das Oliveiras, e prenderam dois militares franceses. A cena foi filmada e provocou indignação das autoridades de Paris.

"Essa é uma situação inaceitável, e é por isso que decidi convocar o embaixador israelense na França", disse o chanceler. "Esta é uma oportunidade para a França reiterar que não tolerará a entrada de forças armadas israelenses em seus domínios - domínios pelos quais é responsável e que protege - e reafirmar com veemência que esse incidente nunca mais deve acontecer", completou Barrot.

No final do dia, após ter recebido o embaixador israelense, o Quai d'Orsay, sede da diplomacia francesa, reiterou a posição de Paris. Segundo um comunicado, o embaixador "foi informado de que a presença de seguranças israelenses armados na propriedade de Eleona e a prisão de dois militares do Consulado Geral da França em Jerusalém, que têm status diplomático, são inaceitáveis, especialmente entre dois países com uma forte relação bilateral e no contexto de uma visita que visa diminuir as tensões". O comunicado anuncia ainda que "serão adotadas medidas para garantir que tais atos não voltem a ocorrer".

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