Brasil tenta conter oposição da Argentina à taxação de super-ricos no G20
Vivian Oswald;
Correspondente da RFI no Rio de Janeiro
16/11/2024 05h56Atualizada em 16/11/2024 11h46
Os negociadores das 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia (UE) e a União Africana seguem negociando no Rio de Janeiro o comunicado final da cúpula do G20, na próxima segunda (18) e terça-feira (19). A presidência brasileira tenta conter a ofensiva do presidente argentino Javier Milei, que depois de ter bloqueado as negociações sobre gênero, se opõe agora à taxação dos super-ricos.
Este G20 é um teste para a diplomacia brasileira em meio a um contexto geopolítico turbulento, que se tornou ainda mais complexo com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. A delegação de diplomatas argentinos parece ter vindo decidida a tumultuar o já complicado cenário do acordo, que só sai se houver consenso entre os líderes do grupo.
O presidente Javier Milei agora é contra o trecho do texto sobre a tributação de grandes fortunas, uma prioridade da presidência brasileira. Ainda não se sabe se a Argentina irá rejeitar partes específicas ou o comunicado final como um todo. A diplomacia brasileira vê neste posicionamento do líder argentino um reflexo da aproximação de Milei com Trump. Durante a campanha, o republicano prometeu cortar impostos e taxas para empresas nos EUA.
Milei participou na quinta-feira (14) de um jantar de gala no clube de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, tornando-se o primeiro presidente estrangeiro a visitar o republicano eleito. No discurso durante o jantar, Milei qualificou a vitória de Trump em 5 de novembro como "a maior virada política de toda a história, desafiando o establishment político, mesmo arriscando sua própria vida".
Nesta sexta, durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), na Flórida, Milei propôs a criação de uma aliança de países "guardiões do legado ocidental". Nessa aliança estariam "os Estados Unidos liderando no norte, a Argentina no sul, a Itália na velha Europa, e Israel, o sentinela na fronteira do Oriente Médio", declarou o presidente argentino. O argentino multiplica os sinais de que deseja ser o interlocutor privilegiado de Washington na América do Sul na próxima administração.
Encerramento do G20 Social
Na manhã de sábado (16), o presidente Lula reúne-se com o secretário-geral da ONU, António Guterres, no Forte de Copacabana. Depois, ele participa do encerramento do G20 Social, onde representantes da sociedade civil debateram os três eixos da presidência brasileira do bloco e entregam um documento com a suas conclusões.
No início da noite, o presidente Lula é esperado no Festival da Aliança Global, organizado pela primeira-dama, Janja, com shows de 30 artistas na Praça Mauá. No domingo (17), o líder brasileiro participa do encerramento do Urban20, que é o fórum de prefeitos do G20. Na parte da tarde, terá os primeiros encontros bilaterais, que também estão previstos para a tarde de terça. A lista completa ainda não foi fechada. Mas estão confirmadas as bilaterais com os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, da França. Biden chega ao Rio no domingo, depois de visitar a Amazônia.
Ontem, no G20 Social, o secretário de Assuntos Especiais da presidência, Celson Amorim, afirmou que é preciso "ver como as coisas evoluem" para comentar o impacto da volta de Trump à Casa Branca. Segundo Amorim, é preciso respeitar os processos de todos os países.
Na sexta, Lula visitou o Forte Copacabana, que está sendo preparado para as suas reuniões bilaterais com líderes estrangeiros. Estão previstas, em princípio, dez conversas bilaterais.
A cidade está mais vazia que de costume por conta do feriado prolongado, mas nem por isso sem trânsito. O tráfego no entorno do aeroporto Santos Dumont, cercado por soldados e tanques, e que permanecerá fechado nos dias da cúpula, é complicado. A expectativa é que a partir da noite de domingo, a circulação fique ainda mais restrita.