França diz que vai manter oposição a tratado com Mercosul e protestos de agricultores continuam no país
A França advertiu nesta terça-feira (19) que continuará "a manter um braço de ferro pelo tempo que for necessário" com a Comissão Europeia para se opor ao tratado de livre comércio com os países do Mercosul, contra o qual os agricultores franceses voltaram a protestar esta semana.
Um debate no Parlamento será organizado, seguido por uma votação sobre esse projeto de acordo, temido especialmente pelos pecuaristas franceses que receiam a concorrência desleal dos exportadores de carne latino-americanos, anunciou o governo francês.
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A França "continuará em uma queda de braço pelo tempo que for necessário" com Ursula Von der Leyen contra o tratado, enfatizou na noite anterior a porta-voz do governo francês, Maud Bregeon, explicando que uma votação dos parlamentares servirá para "reforçar a posição do presidente e a do primeiro-ministro".
"É legítimo que a Assembleia Nacional possa se expressar sobre a questão, há muitos deputados envolvidos porque têm agricultores em suas regiões e, de forma geral, porque isso diz respeito a todos os franceses", explicou Bregeon.
Para ela, o acordo com os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai), defendido por vários membros da União Europeia, como a Alemanha e a Espanha, "constitui uma concorrência desleal absolutamente inaceitável para os nossos pecuaristas, porque não é coerente do ponto de vista ecológico, especialmente em relação ao Acordo de Paris" sobre mudanças climáticas.
"Contrariamente ao que muitos pensam, a França não está isolada e vários países estão se juntando a nós", assegurou o presidente francês Emmanuel Macron na segunda-feira, durante o G20 no Rio de Janeiro. Ele mencionou os "poloneses, austríacos, italianos e vários outros na Europa".
Agricultores franceses mantêm protestos
Os agricultores franceses continuam sua mobilização nesta terça-feira em todo o país, especialmente para expressar sua oposição à assinatura desse acordo pela UE. A Coordenação Rural, o segundo maior sindicato agrícola da França, está aumentando a pressão ao ameaçar realizar ações mais bloqueadoras.
Maud Bregeon expressou seu desejo de que essas manifestações "ocorram de forma pacífica", "sem qualquer dano a bens ou pessoas", à medida que o Natal se aproxima.
O ministro italiano da Agricultura, Francesco Lollobrigida, manifestou-se na segunda-feira contra o projeto de acordo com o Mercosul em sua forma atual, exigindo que os agricultores do bloco da América do Sul estejam sujeitos às mesmas "obrigações" que os da UE. Ele é membro do Fratelli d'Italia, o partido de extrema-direita liderado pela chefe do governo Giorgia Meloni, de quem ele é próximo.
"Somos favoráveis, em princípio, a um acordo com o Mercosul", afirmou, contudo, na segunda-feira, em Bruxelas, o ministro italiano das Relações Exteriores, Antonio Tajani. "Mas há pontos que precisam ser resolvidos", ponderou imediatamente o conservador do partido Forza Italia, membro da coalizão governante.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, reafirmou na segunda-feira que o acordo entre a UE e o Mercosul "deve ser finalmente concluído".
Negociado há mais de 20 anos, esse tratado prevê, entre outras coisas, cotas de importação de carne bovina com tarifas alfandegárias reduzidas ou inexistentes na Europa.
Seus defensores destacam que ele promoveria a exportação de carros, máquinas e produtos farmacêuticos da União Europeia.