No G20, Lula diz que 'desigualdade fomenta ódio, extremismo e violência'
Do UOL, no Rio e em São Paulo
19/11/2024 11h58Atualizada em 19/11/2024 13h22
O presidente Lula (PT) afirmou que a desigualdade fomenta o "ódio, o extermismo e a violência", em reunião do G20 sobre reforma de instituições onde são tomadas decisões globais, nesta terça-feira (19).
O que aconteceu
Lula disse que a riqueza gerada no mundo não chega aos mais necessitados, gerando violência e ameaça à democracia. Para Lula, "a globalização neoliberal fracassou".
A fala ocorreu durante discurso para defender a democratização de instituições multilaterais. "A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio. O futuro será multipolar. Aceitar esta realidade pavimenta o caminho para a paz."
Em particular, Lula pediu mudanças no Conselho de Segurança da ONU, que não está conseguindo exercer seu papel de moderação dos conflitos armados no mundo. "A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional. O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes", afirmou. O Brasil, juntamente com países como Índia e Japão, tem um pleito antigo de criação de mais cadeiras permanentes no Conselho de Segurança, para democratizar as decisões. Além disso, o país questiona o veto dos países com assentos permanentes, como os Estados Unidos, que têm bloqueado declarações mais incisivas sobre o conflito Israel-Gaza.
Veja trechos da fala de Lula
O mundo voltou a crescer, mas a riqueza gerada não chegou aos mais necessitados. Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência, nem que a democracia esteja sob ameaça. A globalização neoliberal fracassou.
Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor.
A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio.
A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo.
Lula, em evento do G20
Reforma das instituições multilaterais
Declaração final do G20 abordou a necessidade de reforma de instituições multilaterais. O texto aprovado este ano contempla pontos parecidos com os que já listados no ano passado, quando o G20 foi realizado na Índia —país que também priorizou o tema nas discussões.
Há uma defesa do multilateralismo, particularmente dos órgãos das Nações Unidas. O termo multilateralismo se refere à tomada de decisões em conjunto por diferentes países, em um ambiente de diálogo e cooperação. Políticos populistas de direita, como Donald Trump e Javier Milei, criticam o que chamam de "globalismo" das instituições multilaterais.
No documento, o G20 destaca papel de organizações multilaterais. O documento cita como exemplo a OMS (Organização Mundial da Saúde), FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial. "Nós incentivamos o FMI e o Banco Mundial a continuar seu trabalho relacionado a opções viáveis que sejam específicas de cada país e de forma voluntária para ajudar aqueles países e relatar aos ministros de Finanças do G20 no ano que vem."
Contraste entre a defesa do multilateralismo presente no documento e o anúncio de oposição de Javier Milei. O presidente argentino emitiu um comunicado oficial cerca de uma hora e meia antes da divulgação da declaração final, em que dizia discordar de diversos pontos, dentre eles a "vulnerabilização das soberanias [nacionais]" gerada pelas instituições de governança global.
Documento reforça um pedido para a inclusão de mais membros no Conselho de Segurança da ONU. O texto reforça a necessidade da criação de cadeiras para a América Latina e a África (hoje sem membros permanentes) e mais espaço para países da Ásia-Pacífico (hoje a região é representada pela China e pela Rússia, que também faz parte da Europa).