Universidade na França dedica jornada para discutir desafios da língua portuguesa no cenário global
Como promover e proteger a língua portuguesa e as culturas dos nove países que têm o idioma como oficial em um mundo cada vez mais dominado pelo inglês? Esse foi o tema central da 4ª Jornada da Lusofonia, evento internacional organizado pela Universidade Clermont Auvergne, em Clermont-Ferrand, região central da França.
Realizado nesta quinta-feira (21), o encontro reuniu acadêmicos, diplomatas e especialistas para discutir o papel da língua portuguesa em um cenário global marcado pela predominância de idiomas hegemônicos, como o inglês, especialmente em áreas como ciência, tecnologia e entretenimento.
A língua portuguesa, com mais de 260 milhões de falantes nativos, é uma das mais faladas no mundo. Mas, como outros idiomas, tem perdido relevância internacional diante da crescente predominância do inglês amplamente utilizado em áreas como tecnologia, ciência, diplomacia e entretenimento em todo o mundo. Para que o português mantenha sua relevância internacional, é necessário expandir seu alcance e atrair interesse de falantes não nativos.
"No último recenseamento, que foi feito pelo instituto Camões, o português é colocado com uma quarta língua mais falada por pessoas nativas do mundo. Então, nós precisamos trabalhar justamente para que essa língua não seja somente uma língua utilizada como ferramenta para nativos, mas atrair também pessoas que não necessariamente têm nacionalidades de países lusófonos que possam aprender e se interessar por esse idioma", destaca Ailton Sobrinho, professor do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade Clermont Auvergne (UCA).
Universidades francesas e o ensino do português
Muitas universidades francesas têm departamentos de língua portuguesa, indicando o interesse pelo idioma na França. Somente na Universidade de Clermont Auvergne são mais 200 alunos, de graduação e pós-graduação. Comércio internacional, turismo e tradução são as principais áreas de atuação visadas. A Inteligência Artificial (IA) representa um grande desafio, principalmente para os tradutores, segundo Ailton Sobrinho.
"Acredito que nós não vamos conseguir substituir o homem por uma máquina, porque ela nunca terá essa sensibilidade de compreender os contextos, de compreender as especificidades de uma língua. Então eu prefiro acreditar que a profissão do tradutor, a figura humana, ela será sempre essencial nesse trabalho, nessa profissão", afirma.
A UNESCO e o papel do Brasil na promoção do português
A embaixadora do Brasil na Unesco, Paula Alves de Souza, foi uma das participantes da Jornada da Lusofonia. Ela lembrou que o papel da Unesco, formada por 194 países, é justamente a promoção e a defensa da diversidade cultural e linguística. Foi a Unesco que declarou o dia 5 de maio Dia Mundial da Língua Portuguesa. Paula Alves de Sousa ressalta, no entanto, a importância do governo brasileiro ter uma política nacional de proteção de sua língua e cultura.
"O papel do governo é investir em uma produção cultural de língua portuguesa. Por exemplo, investir recursos na produção audiovisual, no cinema brasileiro e justamente investir em salas de cinema e na reserva de mercado para que as pessoas possam assistir a filmes brasileiros", exemplifica.
Outro campo de exploração, segundo a embaixadora, é na área das ciências e da educação. "É tentar fazer que a língua portuguesa seja a língua da ciência, e que a gente possa escrever e produzir em língua portuguesa e assim ganhar cada vez mais força e espaço no meio científico", defende.
Paula Alves de Sousa acrescentou que, em um mundo cada vez mais globalizado, a preservação do idioma tem que ser um esforço contínuo. "É uma batalha difícil, talvez quase perdida, mas precisamos insistir. O mundo está se tornando cada vez mais anglófono e particularmente norte-americano. E com isso, nós teremos uma única cultura mundial e cada vez menos diversidade cultural. Isso sem dúvida alguma, é um empobrecimento para todos nós", alerta.
Mesmo diante de cortes orçamentários, a embaixadora acredita que é possível direcionar recursos de forma eficiente para a promoção da cultura brasileira. "Hoje é impossível você pensar em cultura se você realmente está tentando ainda alimentar ou dar vacina para as pessoas. Na realidade é pouco dinheiro para muita coisa, para muitos objetivos. Mas é pensar criativamente, para poder ter investimento na cultura", diz Paula, citando o Fundo Setorial do Audiovisual como um exemplo do uso de recursos com criatividade e boa gestão.
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