Presidente da Coreia do Sul decreta lei marcial mas volta atrás após revolta da oposição
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, decretou lei marcial nesta terça-feira (3). Após chamar a oposição de "forças antiestatais", o chefe de Estado alegou que a medida era necessária para proteger o país das ameaças "comunistas norte-coreanos". Mas poucas horas depois, diante das reações da oposição, o presidente anunciou que anularia a decisão. As declarações têm como pano de fundo um debate parlamentar tempestuoso sobre o orçamento.
"Para salvaguardar uma Coreia do Sul liberal das ameaças representadas pelas forças comunistas da Coreia do Norte e eliminar elementos antiestatais... declaro lei marcial de emergência", disse Yoon Suk Yeol em um discurso exibido ao vivo pela televisão. "Por meio dessa lei marcial, reconstruirei e protegerei a livre República da Coreia, que está afundando nas profundezas da ruína nacional. Essa é uma medida inevitável para proteger as liberdades e a segurança do povo, bem como para garantir a existência contínua e a segurança da nação contra as forças antiestatais que estão tentando derrubar nosso sistema", completou.
Após o anúncio, foram proibidas todas as atividades políticas e os meios de comunicação estão sob controle do governo, informou o chefe do Exército, Park An-su, em um comunicado. Yoon Suk Yeol, que enfrenta uma queda de braço com a oposição motivada pelo orçamento, venceu as últimas eleições, em 2022, com vitória apertada.
Após o anúncio, o líder opositor, Lee Jae-myung, instou a população a se manifestar em frente ao Parlamento, que foi isolado. "A imposição ilegal da lei marcial pelo presidente Yoon Suk-yeol é inválida", disse ao vivo Lee Jae-myung. "Venha para a Assembleia Nacional agora. Também estou indo para lá", acrescentou. Imagens da televisão local mostravam centenas de pessoas se reunindo em protesto diante da Assembleia.
A decisão do presidente Yoon de impor a lei marcial causou uma onda de choque no país e o parlamento da Coreia do Sul votou contra a aplicação da medida. De acordo com a lei sul-coreana, a lei marcial deve ser suspensa imediatamente após a votação parlamentar.
Poucas horas depois, o presidente voltou atrás e anunciou que pretendia anular sua decisão.
Criticar a Coreia do Norte para desviar a atenção
Segundo Marie-Orange Rivé-Lasan, professora da Universidade Paris Cité, a alegação da proteção do país contra uma eventual ameaça da Coreia do Norte é algo comum na política de Seul. "É um argumento que tem peso e, nas várias campanhas eleitorais, rotular os progressistas como norte-coreanos, como vermelhos, é um tema recorrente", aponta a especialista. "Hoje, as pessoas tendem a confundir a ameaça das forças comunistas norte-coreanas com a ameaça dos chamados progressistas 'pró-norte-coreanos'. Na situação atual, isso está totalmente desconectado, especialmente porque até mesmo o partido do atual presidente não concorda de forma alguma com a decisão de declarar a lei marcial de emergência", pondera.
A professora ressalta que o anúncio do presidente sul-coreano é feito em um momento de extrema tensão política no país. Segundo ela, "isso ocorre após uma longa crise de confiança no presidente Yoon, e a sociedade civil também se mobilizou, juntamente com o Partido Democrático da oposição, para pedir o impeachment do atual presidente em várias ocasiões e de várias formas legais", aponta a especialista. "É preciso dizer que, na cultura política sul-coreana, já houve um precedente quando a presidente Park sofreu impeachment há dez anos", lembra a professora.
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