Doze datas para entender a guerra que durou 13 anos na Síria e resultou na queda de Bashar al-Assad
Desde o levante popular em Dera, em 2011, até a queda do regime de Bashar al-Assad neste domingo, 8 de dezembro de 2024, a Síria viveu 13 anos em guerra e o conflito continua tendo repercussões em todo o Oriente Médio.
Paul Khalifeh, correspondente da RFI em Beirute
A guerra na Síria é o conflito mais longo do século 20. Ela deixou cerca de 500 mil mortos, mais de um milhão de feridos, seis milhões de refugiados e milhares de deslocados.
Metade da população síria foi afetada pelo conflito que terminou em 8 de dezembro com a queda de Bashar al-Assad. Os riscos geopolíticos desta crise provocaram a intervenção direta dos Exércitos russo, turco, americano, iraniano e israelense.
A RFI selecionou algumas datas que ajudam a entender melhor a situação no país.
15 de março de 2011
A primeira manifestação contra o regime sírio ocorreu em Dera, no sul do país, um reduto histórico do Partido Baath, que estava no poder desde 1963. O movimento de protesto foi provocado pela prisão e tortura de cerca de quinze adolescentes acusados de terem desenhado grafites em um muro, contra o presidente Bashar al-Assad.
O descaso do governo com as áreas rurais e a crise agrícola, agravada por anos de seca, aumentam o ressentimento da população. Com o passar dos dias, o protesto se politizou e os manifestantes apresentaram uma série de demandas sociais e políticas.
No final do mês, apareceram os primeiros slogans pedindo a "queda do regime". Apesar da repressão das forças de segurança, os protestos continuaram e se espalharam por outras regiões da Síria.
17 de julho de 2012
O Exército Livre da Síria (FSA), formado por dissidentes do Exército regular e brigadas islâmicas, criado um ano antes na Turquia, inicia a batalha por Damasco. Os insurgentes assumem o controle do sul, centro e norte da capital. O governo mantém o controle de Damasco e das áreas que levam à passagem de fronteira de Masnaa com o Líbano.
A dinâmica da ofensiva rebelde aos poucos muda em direção a Aleppo. Os distritos orientais da segunda maior cidade e capital econômica da Síria caem nas mãos dos grupos de oposição. A crise síria acaba se transformando em uma guerra civil.
30 de abril de 2013
O líder libanês do Hezbollah, Hassan Nasrallah, reconhece oficialmente a participação de seus combatentes na guerra ao lado do exército sírio. Esse combate permitiu que as tropas registrassem, seis semanas depois, sua primeira vitória após uma série de derrotas em todo o país.
Tropas do governo, apoiadas por combatentes do Hezbollah, tomaram a cidade de Qusayr, na fronteira com o Líbano, na província de Homs, em 5 de junho. Esta data marca a regionalização do conflito sírio.
21 de agosto de 2013
Mil e quatrocentos civis morrem em um duplo ataque com gás sarin que teve como alvo duas áreas controladas pelos rebeldes em Ghouta Oriental, na periferia de Damasco.
A oposição acusa as forças do regime de estarem por trás do massacre. Damasco nega qualquer responsabilidade. Este ataque químico ocorre logo após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciar que o uso desse tipo de arma é uma "linha vermelha" que, se ultrapassada, provocaria uma resposta norte-americana.
Mas, em vez de uma resposta militar, os Estados Unidos e a Rússia concordam em desmantelar o arsenal químico da Síria, sob a supervisão de especialistas das Nações Unidas.
14 de janeiro de 2014
Os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), o precursor do grupo Estado Islâmico (EI), fundado por Abu Bakr al-Baghdadi, tomam a cidade de Raqqa, no norte, que caiu nas mãos de rebeldes locais alguns meses antes. Esta cidade foi decretada a capital provisória do "Califado" proclamado pelo EI.
A organização consegue controlar um quinto do território sírio e um quarto do Iraque, antes de ser derrotada por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e pelo Exército sírio apoiados pelas forças russas, para retomar a cidade de Palmira.
30 setembro 2015
Em nome da "luta contra os terroristas", a Rússia, aliada de longa data da Síria, anuncia, para surpresa de todos, sua participação militar direta na guerra ao lado do Exército sírio. Dezenas caças decolam da base aérea de Hmeimim, disponibilizada ao Exército russo pelas autoridades sírias, na província de Latáquia. A intervenção da Rússia permitirá que o regime, que está muito enfraquecido, recupere aos poucos o controle de dois terços do território.
24 de agosto de 2016
O argumento da "luta contra o terrorismo" é retomado um ano depois pela Turquia para justificar a entrada de seu Exército na Síria. A Operação Escudo do Eufrates na província de Aleppo tem como alvo dois grupos: o EI e as milícias curdas YPG, aliadas a Washington. O Exército turco expandirá sua área de atuação para a província vizinha de Idlib, que se torna o último reduto de islâmicos e rebeldes expulsos de outras partes da Síria.
23 de março de 2019
As Forças Democráticas Sírias (SDF), dominadas pelos curdos e apoiadas pelo Ocidente, assumem o controle da cidade de Baghouz, no leste da Síria, o último reduto do EI. Essa conquista sela o desmantelamento do autoproclamado califado de Abu Bakr al-Baghdadi. O grupo Estado Islâmico perde sua capital síria, Raqqa, em outubro de 2017, após uma batalha de meses com as forças curdas apoiadas pelos EUA.
15 junho de 2020
Entrada em vigor da Lei César, assinada alguns meses antes pelo então presidente dos EUA, Donald Trump. O texto, que proíbe praticamente todas as transações financeiras e econômicas com a Síria, empobrecerá a população e arruinará o Estado sírio, acabando com suas fontes de financiamento. César é o pseudônimo do sírio que vazou milhares de fotos de prisioneiros torturados em prisões do governo.
6 de fevereiro de 2023
Um terremoto de 7,8 graus devasta a região, matando 50.000 pessoas na Turquia e 6.000 na Síria. Do lado sírio, o desastre é agravado pelas sanções americanas e ocidentais que afetaram fortemente os setores hospitalar e de resgate. Após o desastre, vários países árabes retomam o contato com o presidente Bashar al-Assad. Damasco poderá retomar seu assento na Liga Árabe o presidente sírio será convidado para a cúpula árabe em Riad em 18 de maio.
8 de dezembro de 2024
Um avião decola ao amanhecer do aeroporto de Damasco com Bashar al-Assad e sua família a bordo. Depois de 25 anos no poder, incluindo 13 anos de guerra civil, o presidente sírio é derrubado após uma ofensiva organizada por uma coalizão rebelde, que começou na cidade de Idlib em 27 de novembro.
No dia seguinte, a Rússia anuncia que concedeu asilo ao presidente deposto e a sua família por "motivos humanitários". A rápida queda do regime surpreendeu o mundo inteiro. O Exército sírio, enfraquecido por 13 anos de guerra e pelas sanções ocidentais, desmoralizado, desmotivado, desistiu de defender Bashar al-Assad.
Com informações da AFP
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