Moçambique vive novo surto de violência após validação de resultados eleitorais pela justiça
Os protestos pós-eleitorais podem se intensificar ainda mais em Moçambique, onde cenas de tumultos eclodiram na segunda-feira (23), depois que o Conselho Constitucional validou definitivamente os resultados das eleições gerais realizadas em 9 de outubro.
O presidente eleito Daniel Chapo, candidato do partido histórico governista Frelimo, conclamou todos os moçambicanos a "trabalharem juntos", enquanto o candidato da oposição Venâncio Mondlane, que deixou Moçambique por motivos de segurança, continua reivindicando a vitória. Na noite de segunda-feira, ele convocou seus apoiadores a "continuar a luta".
Mesmo após dois meses de protestos da população, o Conselho Constitucional confirmou a vitória de Daniel Chapo, o candidato da Frelimo que está no poder desde 1975. Ele obteve 65,17% dos votos, uma pontuação quase cinco pontos menor do que a anunciada inicialmente pela comissão eleitoral. Seu oponente, Venâncio Mondlane, obteve 24,19% dos votos.
Daniel Chapo apela ao diálogo
"Faço um apelo a todos os setores da sociedade do nosso país, em particular aos jovens e ativistas de todas as convicções políticas. Posso garantir que sua voz foi ouvida e que vamos trabalhar em uma revisão completa do nosso sistema eleitoral. Devemos construir uma nova arquitetura democrática que atenda às aspirações de nossa sociedade e não apenas aos interesses partidários", declarou o presidente eleito Daniel Chapo.
Tensão continua
Nesta terça-feira (24), a capital moçambicana, Maputo, ainda estava dominada pela tensão. A população deixou a raiva explodir na noite de segunda-feira, após o anúncio dos resultados: lojas, bancos e supermercados foram saqueados e bloqueios de estradas foram incendiados, cobrindo a capital com uma fumaça espessa.
Cenas semelhantes ocorreram nas cidades do norte do país - Nampula, Zambézia, Cabo Del Gado - onde a oposição é forte. Os protestos pós-eleitorais já causaram a morte de pelo menos 130 pessoas em dois meses.
"Legalização da humilhação"
Venâncio Mondlane, que se encontra no exterior e teme pela sua segurança, continua a afirmar a sua vitória e a sua determinação em continuar o protesto. "Este é um momento sério. Ou mudamos o nosso país agora, ou aceitamos curvar-nos aos anúncios do Conselho Constitucional, mas isso significaria aceitar a legalização do roubo, da fraude eleitoral, a legalização da humilhação do próprio povo. Nós, moçambicanos, devemos nos preparar para os dias difíceis que virão", disse ele na noite de segunda-feira.
"São esses momentos difíceis que nos permitirão escrever uma nova página da história. A história da humanidade não é apenas pavimentada com rosas, não é apenas feita de momentos de felicidade e prazer, ela também é escrita em tempos difíceis. Mas a verdade é que temos a vitória garantida. Para todos vocês, nessas circunstâncias, saibam que sairemos vitoriosos", declarou o opositor.
Reações internacionais
Washington disse estar "preocupado" com a "falta de transparência" nas eleições gerais de Moçambique. "Os Estados Unidos apelam a todas as partes interessadas para que se abstenham da violência e se envolvam em uma colaboração significativa para restaurar a paz e promover a unidade", advertiu o corpo diplomático dos EUA.
A União Europeia disse estar "extremamente preocupada" com a violência pós-eleitoral e com a perda "considerável" de vidas humanas até o momento, e pediu "responsabilização" por parte dos envolvidos.
De acordo com a ONG Decide, pelo menos 16 pessoas morreram e 42 ficaram feridas por tiros desde a noite de segunda-feira, 23 de dezembro, em manifestações de protesto contra os resultados.
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