O ano de 2025 será decisivo para o clima, em meio a um contexto internacional turbulento
O ano de 2025 será decisivo para o clima. Embora as catástrofes climáticas aumentem a olhos vistos, tornando cada vez mais urgente a adoção de medidas de mitigação, o contexto político internacional, incerto e turbulento, associado aos cortes de orçamento nas principais economias do mundo dificultam o trabalho e as respostas esperadas na COP30, em Belém.
O contexto geopolítico está mais tenso do que nunca, relegando o clima para segundo plano, com as guerras em Gaza e na Ucrânia, os conflitos comerciais à vista com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, a instabilidade política na França, Alemanha, Austrália e no Canadá, a ascensão da populismo e o negacionismo climático, resume a reportagem publicada no Le Monde nesta sexta-feira (3).
Trump deu um choque na diplomacia climática ao prometer retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris no primeiro dia de seu mandato, em 20 de janeiro, saída que entrará em vigor um ano depois. Este contexto faz de 2025 o mais complexo desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015.
Na COP29, em Baku, em novembro de 2024, os participantes não conseguiram reafirmar o compromisso de virar a página dos combustíveis fósseis - carvão, petróleo e gás -, devido ao bloqueio dos países produtores de petróleo. Além do Reino Unido, apenas os Emirados Árabes Unidos, o Brasil e os Estados Unidos ? nos últimos dias da presidência de Joe Biden ? submeteram as suas novas metas de redução de gases de efeito estufa às Nações Unidas. Entretanto, as medidas propostas foram consideradas insuficientes pelos especialistas em clima, ressalta o Le Monde.
Sobrou para o Brasil e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na COP30, em Belém, encontrar uma solução para o financiamento da transição energética. Especialistas ouvidos pelo Le Monde consideram que o Brasil é um dos países que pode enfrentar este desafio. "Berço das convenções ambientais das Nações Unidas, o Brasil é conhecido pela sua experiência em negociações climáticas e pela sua ampla rede diplomática. É um dos poucos países que pode falar com todos os envolvidos, seja a Rússia, a China, os principais países emergentes ou a administração Trump. Resta que a responsabilidade pela ambição não cabe apenas à presidência das conferências sobre o clima, mas também a todos os Estados", observa a reportagem do jornal francês.
A taxação dos ultrarricos, defendida pelo presidente brasileiro, é considerada uma boa opção para enfrentar os investimentos necessários à transição energética na próxima década.
Jogo duplo da Austrália
Em uma longa reportagem sobre a matriz energética da Austrália e seus projetos de descarbonização, o jornal Le Figaro mostra que o governo australiano vende uma imagem de país consciente e comprometido com a ecologia, campeão na produção de energia solar, de hidrogênio e outras fontes de renováveis. Mas faz um jogo duplo ao aumentar ativamente suas exportações de combustíveis fósseis, muito rentáveis para a balança comercial do país.
O governo local se justifica ao afirmar que a guerra na Ucrânia e as sanções aplicadas contra a Rússia criaram uma demanda internacional de energia que o país procura atender. Cerca de 80% da produção australiana de gás natural é exportada na forma liquefeita (GNL), principalmente ao Japão e à Coreia do Sul, fornecendo quase 15% das receitas de exportação do país. Com isso, a Austrália se mantém como o terceiro maior exportador mundial de carvão e gás, dois combustíveis fósseis implicados no aquecimento global.
A Austrália permanece um dos principais emissores de gases de efeito estufa por habitante no mundo: 15,3 toneladas de CO2 por pessoa, o que representa quatro vezes mais do que na França, indica o Le Figaro. Enquanto o governo de Camberra dá asas aos seus interesses comerciais, o território australiano enfrenta cada vez mais inundações, secas e incêndios violentos, que destroem a fauna e a flora locais, destaca a reportagem.
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