Na França, fundador do Telegram reconhece gravidade das acusações feitas contra a plataforma

O fundador do Telegram, Pavel Durov, indiciado na França, disse aos juízes em dezembro que tinha "consciência da gravidade dos fatos" alegados contra a sua plataforma e prometeu "melhorar" a sua moderação. O conteúdo do interrogatório foi revelado pela agência AFP neste sábado (18).

Durov foi indiciado no final de agosto na França por uma série de supostas irregularidades relacionadas ao crime organizado. O Ministério Público do país acusa o fundador do Telegram de não agir contra a divulgação de conteúdo criminoso nas mensagens trocadas na plataforma.

Quando foi indiciado, Pavel Durov culpou primeiro uma falha das autoridades francesas, garantindo que esteve sempre "disponível e pronto para responder a todos os pedidos" do governo do país. "Fiz o meu melhor" para responder "à altura", disse o bilionário de 40 anos.

Mas no dia 6 de dezembro, no seu primeiro interrogatório, Durov declarou que "tinha conhecimento da gravidade de todos estes fatos". Ele recusou a ideia de ter fundado o Telegram em 2013 com o seu irmão "para criminosos", mas a presença deles, "uma fração mínima", "também aumentou", admitiu o homem, que tem várias nacionalidades (francesa, russa e dos Emirados Árabes Unidos).

"Erro"

Os perguntaram a Durov: a plataforma verifica com precisão a identidade de seus usuários? "Não, e acho que este é o caso de todos os serviços de mensagens", respondeu o indiciado.

Eles também o questionaram sobre a criptografia de parte das conversas. Um "padrão da indústria", retrucou Pavel Durov, satisfeito com o fato de nenhum funcionário do Telegram "poder ter acesso às mensagens" e causar "um vazamento", porque um algoritmo gerencia a decodificação.

Os juízes detalharam então cerca de quinze grupos dedicados à criminalidade infantil, narcóticos, fraudes, armas, busca de bandidos, com presença na plataforma, o que rendeu ao CEO do Telegram a acusação de cumplicidade em atividades criminosas.

"Você tem consciência de que a facilidade de utilização do Telegram permite a qualquer pessoa ter acesso a plataformas ilícitas, de uma forma muito mais simples que na dark web?", perguntaram os juízes. Durov discordou, alegando que Telegram é "eficiente" e exclui "15 a 20 milhões de contas de usuários e um a dois milhões de canais e grupos" mensalmente.

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O bilionário responsabilizou a Justiça e associações pela falta de feedback, e afirmou ter lançado recentemente parcerias com algumas delas.

"Por que não ter feito isso antes?", insistiu um juiz, lembrando também os alertas das mídias. Pavel Durov reconheceu um novo "erro": ter considerado que a imprensa "nunca acrescentava nada de sólido".

Um juiz também o questionou sobre a função "Pessoas Próximas", suspeita de ter prestado serviços criminais baseados em localização. "Na maioria dos países", esta opção, remodelada após a custódia policial, não foi utilizada para "fins ilegais", garante Durov.

Por fim, um juiz chegou a ironizar: "A França pode ter uma particularidade no que diz respeito à gastronomia, mas certamente não no que diz respeito à delinquência".

"Insatisfeito"

Durov repetiu durante o interrogatório estar "pessoalmente insatisfeito" com o que considera como ofensas, "ruins para a sociedade e para os negócios". Se a empresa sediada em Dubai anunciou o seu primeiro lucro líquido anual no final de dezembro, segundo Pavel Durov, ela também tem dívidas de US$ 2 bilhões.

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"Estamos empenhados em melhorar os nossos processos de moderação", prometeu, fazendo eco aos anúncios que fez setembro, saudados por Emmanuel Macron, sobre a sua maior colaboração com as autoridades judiciais ou sobre a moderação que deve tornar-se "uma fonte de orgulho". "Minhas equipes fizeram muitos progressos", sublinhou Durov.

Na França, o Telegram afirma ter respondido a quatro solicitações judiciais no primeiro trimestre de 2024, em comparação com 673 no último. De acordo com dados recolhidos por internautas que o Telegram não confirmou à AFP, uma progressão comparável é visível na grande maioria dos países.

Durante os primeiros seis meses de 2024, globalmente, o Telegram forneceu "informações de identificação (...) relativas a mais de 10.000 usuários". "Não é muito, comparado aos possíveis 950 milhões de usuários", disse um investigador.

Os juízes devem reexaminar detalhadamente o depoimento de Durov, que deve fornecer documentos que comprovem suas declarações. Ao ser indagado sobre essa questão, o advogado de Durov, David-Olivier Kaminski, não quis responder.

O Telegram disse à AFP que a empresa "tem cooperado com autoridades judiciais de todo o mundo desde 2018, fornecendo informações sobre criminosos quando solicitadas por meios válidos e através dos canais de comunicação corretos".

(Com AFP)

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