Combates se intensificam na República Democrática do Congo e ONU organiza reunião de urgência

Combates se intensificaram neste sábado (25) na República Democrática do Congo (RDC) entre o exército local e o M23, grupo rebelde que conta com o apoio de Ruanda. As tensões se aproximam de Goma, a capital da província de Kivu do Norte e uma reunião de urgência foi convocada pelo Conselho de Segurança da ONU neste domingo (26). A comunidade internacional teme a escalada de violência na região onde soldados da missão regional das Nações Unidas, entre eles um sul-americano, perderam a vida.

Com informações de Paulina Zidi, correspondente da RFI em Kinshasa, e agências

Detonações podiam ser ouvidas nos arredores de Goma neste sábado, um dia após combates intensos, que resultaram na morte de Peter Cirimwami, governador do Kivu do Norte. O exército sul-africano também anunciou a morte, na sexta-feira, de nove soldados que lutavam como parte da força regional da SADC (Southern African Development Community) ou da força de manutenção da paz da ONU (Monusco). Entre as vítimas fatais estão três membros do exército de Malauí que atuavam na SADC e um uruguaio da Monusco.

"Nas últimas 24 horas, vimos uma deterioração na situação de segurança na província de Kivu do Norte [...]. Infelizmente, um soldado perdeu a vida", confirmou o exército uruguaio, acrescentando que outros quatro de seus recrutas também ficaram feridos. "Eles estavam completando sua missão de um ano na região. Os próximos deveriam começar na próxima semana, mas os voos foram suspensos até segunda ordem", disse o porta-voz do exército, coronel Fernando Botti.

O conflito entre o exército congolês e o M23, um grupo rebelde de maioria tutsi que, segundo a ONU, contaria com o apoio de 3.000 a 4.000 soldados ruandeses, já dura mais de três anos e exacerbou uma crise humanitária crônica na região. A RDC acusa Ruanda de tentar, com a ajuda de grupos armados como o M23, colocar as mãos nas riquezas do leste do Congo. Por sua vez, Kigali nega que suas tropas estejam envolvidas com os rebeldes do M23 em Kivu do Norte.

Milhares de deslocados

A situação nas últimas horas aumentou as tensões de segurança em Goma, cidade de 800.000 habitantes na fronteira com Ruanda, já saturada pela chegada constante refugiados que se amontoam em seus arredores. De acordo com a ONU, mais de 400.000 pessoas foram deslocadas pelos combates desde o início de janeiro. Esse número é o dobro do anunciado na semana passada, com muitos dos novos deslocados tendo se mudado para Goma, onde já havia mais de 600.000 pessoas nos campos ao redor.

Os hospitais estão lotados de militares e civis. Em algumas áreas de Goma há cortes de eletricidade e o fornecimento de água já está comprometido.

"Esta semana, vimos movimentos pânico nos acampamentos de deslocados nos arredores da cidade por causa dos confrontos muito próximos", relatou Joseph Amadomon, coordenador de Médicos sem Fronteiras (MSF) em Goma. "A situação aqui é muito tensa. Nos últimos dias, a linha de frente tem se aproximado cada vez mais dos acampamentos para os deslocados" alerta.

Continua após a publicidade

A cidade de Sake, a apenas 25km de Goma, já estaria nas mãos dos rebeldes, segundo fontes locais. Em Goma, as escolas fecharam suas portas por precaução.

Organizações internacionais ameaças se retirar

Várias organizações internacionais acionaram seus planos de evacuação. É o caso das Nações Unidas, que anunciaram a realocação de todos os seus funcionários não essenciais, mas garantiram que continuarão suas operações. Berlim pediu que

os alemães que vivem na região deixem o país. "Viagens não essenciais para outras partes da República Democrática do Congo, incluindo a capital Kinshasa, não são recomendadas no momento", acrescentou.

No âmbito diplomático, a União Africana expressou sua preocupação e seu presidente, Moussa Faki Mahamat, pediu que um cessar-fogo negociado anteriormente entre as partes seja respeitado. Já a União Europeia, que também se mostrou preocupada com a escalada do conflito, frisa a responsabilidade de Ruanda nas tensões. Sem mencionar ou usar o termo "sanções" em seu comunicado à imprensa, a UE adverte que assumirá suas responsabilidades se a luta continuar. Em um comunicado, Bruxelas pede que Ruanda "pare de apoiar o M23 e se retire".

O presidente francês Emmanuel Macron pediu o "fim imediato da ofensiva do M23 e das forças ruandesas, e sua retirada do território congolês". Macron também pediu "a retomada do diálogo o mais rápido possível e expressou sua determinação em apoiar os esforços de paz".

Continua após a publicidade

O Conselho de Segurança das Nações Unidas, que deveria se reunir na segunda-feira (27) para discutir a crise na região, mudou sua agenda e convocou uma reunião de urgência neste domingo (26). O chefe da missão de paz da ONU no país, Bintou Keita, deve participar do encontro.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.