Macron se diverte com vídeos feitos por inteligência artificial para promover cúpula em Paris

Emmanuel Macron na pista de dança nos 1980, ao som de "Voyage, voyage", como protagonista de filme cômico "OSS 117", na pele do ator Jean Dujardin, e até dando dicas de cabeleireiro influenciador. O presidente francês publicou neste domingo (9), nas redes sociais, uma compilação de vídeos produzidos por inteligência artificial com o seu rosto para promover a realização de uma cúpula internacional sobre o tema em Paris, nesta segunda (10) e terça-feiras (11).

"Muito bem feito. Está muito bem feito, me fez rir", disse o chefe de Estado em um vídeo real publicado no Instagram, após várias sequências falsas que foram criadas ao longo de anos por internautas, entre elas algumas que fizeram muito sucesso na França.

O clipe presidencial termina com uma das paródias mais famosas, na qual Emmanuel Macron assume as feições do famoso personagem McGyver. "Sou eu mesmo", brincou o chefe de Estado, em seu vídeo verdadeiro.

"Falando sério, com inteligência artificial, podemos fazer coisas muito grandes: mudar a saúde, a energia, a vida em nossa sociedade", afirmou o presidente. "A França e a Europa devem estar no centro desta revolução para aproveitar todas as oportunidades e também para levar adiante os nossos princípios, aquilo em que acreditamos. Este é o objetivo desta cúpula", explicou ainda.

Durante dois dias, chefes de Estado e de governo e CEOs de gigantes da IA, como o da Open AI, Sam Altman, e o da francesa Mistral AI, Arthur Mensch, se reunirão para discutir diversas questões relacionadas ao setor, da políticas à economia, passando pela ética, legislação e diplomacia.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, o vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Guoqing, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, confirmaram presença.

Foco na ação, mas sem enquadramento legal

Ao contrário das cúpulas anteriores em Bletchley Park (Reino Unido), em 2023, e Seul (Coreia do Sul), em 2024, que se concentraram em questões de segurança, a presidência francesa quer que a de Paris se foque na "ação". O objetivo é que o maior número de participantes se declarem a favor de uma governança global da inteligência artificial e assumam compromissos para uma IA sustentável. A criação de um mecanismo legalmente vinculativo, entretanto, ainda não está em pauta.

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"Nosso desejo não é gastar nosso tempo falando somente de riscos. Há também o aspecto de oportunidade que é muito real", garantiu à AFP Anne Bouverot, enviada especial da presidência francesa para o evento.

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A França é "uma campeã da colaboração internacional e tem a oportunidade de ser líder para o resto do mundo", disse à AFP Max Tegmark, presidente do Future of Life Institute, uma organização sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos que alerta regularmente sobre os efeitos nocivos dessa tecnologia. Para este físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o país não pode perder este "momento crucial" da cúpula da IA, que reúne os principais players do setor na capital francesa.

Ataques cibernéticos e biológicos

O Future of Life Institute apoia o lançamento, neste domingo, de uma plataforma que visa mapear os principais riscos ligados à IA e às soluções desenvolvidas em todo o mundo. "Identificamos cerca de 300 ferramentas e tecnologias que abordam esses riscos", disse Cyrus Hodes, que coordenou a iniciativa denominada "GRASP", à AFP. Os resultados serão enviados à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aos membros da Parceria Global sobre Inteligência Artificial (GPAI), que inclui a França e se reúne no domingo.

O primeiro relatório internacional sobre segurança da IA, resultado de uma colaboração de 96 especialistas e apoiado por 30 países, a ONU, a União Europeia e a OCDE, também foi apresentado na quinta-feira, para informar os tomadores de decisões políticas sobre os perigos desta tecnologia.

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Embora alguns riscos estejam bem estabelecidos, como a criação de conteúdo falso online, o pesquisador de ciência da computação Yoshua Bengio, laureado em 2018 com o prêmio Turing, diz que "evidências de riscos adicionais, como ataques biológicos ou cibernéticos, estão surgindo gradualmente". A longo prazo, ele se preocupa com uma "perda de controle" dos humanos sobre as IAs, motivada pela "sua própria vontade de viver".

"Muitas pessoas achavam que dominar uma linguagem como o ChatGPT-4 (robô da OpenAI) era ficção científica há apenas seis anos", lembra Max Tegmark. "O problema é que muitas pessoas no poder ainda não entenderam que estamos mais perto de construir uma inteligência artificial geral do que de saber como controlá-la."

Dominação das máquinas?

A inteligência artificial geral seria comparável, se não superior, à dos humanos, e vários grandes nomes do ecossistema, como o próprio Sam Altman, acreditam que conseguirão isso nos próximos anos. "Se observarmos a taxa de aumento da capacidade, podemos pensar que chegaremos lá em 2026 ou 2027", acrescentou Dario Amodei, chefe da start-up americana Anthropic, em novembro.

O risco é que, "no pior cenário, essas empresas americanas ou chinesas percam o controle e a Terra seja dominada por máquinas", alerta Max Tegmark.

"A tecnologia está evoluindo muito rápido", diz Stuart Russell, professor de ciência da computação na Universidade da Califórnia, Berkeley, e codiretor da Associação Internacional para IA Segura e Ética (IASEAI). O mais preocupante "seria ter sistemas de armas onde a inteligência artificial controla e decide quem atacar e quando", acrescenta.

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Para esses especialistas, os Estados devem implementar salvaguardas. "Precisamos tratar o setor de inteligência artificial da mesma forma que tratamos todos os outros setores", enfatiza Tegmark.

"Antes de construir um reator nuclear perto de Paris, precisamos demonstrar aos especialistas nomeados pelo governo que o reator é seguro", continua ele. "Deve ser o mesmo para a IA."

Corrida por data centers

A França acaba de anunciar que 35 locais "prontos para uso" foram identificados para hospedar data centers - estruturas gigantescas projetadas especialmente para permitir o treinamento de modelos de IA. Nesta corrida por infraestruturas, o fundo canadense Brookfield investirá € 20 bilhões na França, principalmente para construir um data center em Cambrai (Norte).

Na quinta-feira, a presidência francesa já havia indicado que os Emirados Árabes Unidos pretendem construir um gigantesco centro de dados no país, com um investimento total entre € 30 bilhões e € 50 bi, mas não revelou a sua localização.

Atualmente, a França conta com mais de 300 data centers, o que a coloca em sexto lugar no mundo entre os países que mais hospedam, depois dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, China e Canadá, de acordo com um relatório do Conselho Econômico, Social e Ambiental (CESE).

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