Crise entre França e Argélia chega a nível inédito com expulsões mútuas de agentes diplomáticos
O imbróglio diplomático entre a França e a Argélia só aumenta. Após oito meses de relações bilaterais abaladas, e um leve apaziguamento no início deste mês, as perspectivas de uma normalização entre Paris e Alger diminuem diante das expulsões mútuas de agentes diplomáticos.
Paris anunciou na terça-feira (15) a expulsão de 12 agentes diplomáticos argelinos e chamou seu embaixador para consultas, no mais recente capítulo da crise entre a Argélia e a França. A decisão do governo francês é uma medida equivalente à anunciada há dois dias por Argel, que decidiu expulsar 12 empregados da embaixada da França no país.
Os jornais franceses analisam a crise e recordam a origem do imbróglio: em julho do ano passado, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou ter reconhecido a soberania marroquina sobre o Sahara ocidental, uma região sem status definido e disputada há 50 anos entre a Argélia e o Marrocos.
Contribuíram para o aumento das tensões entre Paris e Argel diferendos sobre a gestão de imigrantes argelinos em território francês - após o atentado perpetrado em fevereiro por um argelino radicalizado, em Mulhouse, no leste da França - e a prisão de influenciadores argelinos residentes no território francês, acusados de apologia à violência.
Três argelinos presos
A situação piorou na última sexta-feira (11), quando três argelinos foram presos na França, um deles empregado consular argelino, indiciados por sequestro e relação com uma organização terrorista. Eles são suspeitos de terem sequestrado um conterrâneo exilado na França, opositor ao governo do presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune.
O jornal Libération avalia que a tensão entre os dois países, com expulsões de diplomatas e convocação de embaixadores, é inédita desde a guerra da independência da Argélia, entre os anos 1950 e 1960. Já o diário Le Figaro avalia que a mudança de tom de Paris ao recorrer à decisão de expulsar agentes diplomáticos, é "brutal".
O jornal Le Parisien destaca que o governo argelino culpa o ministro francês do Interior, Bruno Retallieau, pela crise. Figura da direita ultraconservadora da França, o republicano questiona há meses os acordos assinados entre os dois países em 1968, que determinam um status particular e favorável aos imigrantes argelinos na França.
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