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Imigrantes nos Estados Unidos vivem ambiente hostil

Imigrantes seguram painel de bandeiras e protestam contra violência policial em Los Angeles, nos EUA - Robyn Beck /AFP
Imigrantes seguram painel de bandeiras e protestam contra violência policial em Los Angeles, nos EUA Imagem: Robyn Beck /AFP

Jorge Ramos*

16/11/2011 00h01

Os Estados Unidos, ao longo de sua história, foi muitíssimo generoso com os imigrantes. Claro, houve momentos em que essa nação rejeitou e discriminou estrangeiros da Alemanha, China, Japão, Irlanda e América Latina, entre muitos outros. Mas, no fim das contas, sempre se emendou e voltou a abrir suas portas aos imigrantes. Esse é o lado certo da história.

"Nossa política migratória deve ser generosa; deve ser justa; deve ser flexível", escrevera o futuro presidente John F. Kennedy em 1958, em seu livro "Uma nação de imigrantes", publicado em 1964. "Com uma política assim, podemos olhar o mundo e nosso próprio passado com as mãos e a consciência limpas".

Esse ideal de Kennedy é muito diferente do que estamos vivendo atualmente. Nunca, desde que cheguei aos Estados Unidos em 1983, vi e senti um ambiente tão hostil contra os imigrantes. Uns os atacam e outros os deportam.

Como evidência disso, basta ver o Alabama e o Arizona, onde os imigrantes ilegais são perseguidos e presos, muitas vezes por mínimas infrações de trânsito. Nenhum dos candidatos republicanos à presidência apoia a legalização de 11 milhões de imigrantes ilegais. Alguns, inclusive, queriam enviá-los de volta aos seus países de origem (embora nunca expliquem como). O presidente Barack Obama não cumpriu sua promessa de apresentar uma proposta migratória ao Congresso durante seu primeiro ano de governo e, além disso, deportou mais de 1 milhão de imigrantes ilegais desde que tomou posse, separando milhares de famílias. Dos deportados, 45% não tinham nenhum tipo de antecedente criminal.

Por que isso está acontecendo?

Certamente, um dos fatores é a crise econômica e o fato de que muitos americanos culpam injustamente os imigrantes ilegais pela má situação do país. Alguns políticos se deram conta de que podem obter poder ao explorar a difundida suspeita de que imigrantes tiram empregos dos cidadãos e esvaziam os cofres do governo. Atacar os imigrantes ilegais, que não têm ninguém representando seus interesses, pode dar-lhes o impulso necessário para vencer as eleições. Além disso, não há latinos o suficiente nos Estados Unidos dispostos a votar em candidatos que realmente entendam a comunidade hispânica e sejam capazes de defendê-la de ataques injustos.

Mas, no final, estou convencido, os Estados Unidos farão o que é certo. Ronald Reagan o fez. Há 25 anos assinou a lei de Reforma e Controle da Imigração que anistiou 2,7 milhões de imigrantes. Muito me surpreendem os republicanos que dizem defender o legado de Reagan, mas que não se atrevem a votar no congresso por uma lei que tire milhões da obscuridade.

Aquele que escuta certas estações de rádio e de televisão, ou os discursos inflamados de muitos políticos de extrema direita, pode ter a falsa impressão de que quase todos os norte-americanos rejeitam uma reforma migratória. Mas não é assim.

A maioria dos americanos tem uma atitude generosa para com os imigrantes ilegais. Uma pesquisa recente realizada pela Univision e pela Latino Decisions revelou que 58% dos norte-americanos é a favor da ideia de tornar cidadãos dos Estados Unidos os imigrantes ilegais que não tenham cometido crimes, que paguem impostos e que falem inglês. (Entre os latinos o apoio a essa ideia é de 67%)

Atacar os imigrantes ilegais já está tendo suas consequências. Juízes bloquearam as partes mais prejudiciais das leis anti-imigração do Alabama e do Arizona. De fato, o autor da Lei SB-1070 do Arizona, o líder do senado no Estado Russell Pearce, acaba de perder seu posto em uma eleição revocatória. Ou seja, os eleitores, cansados de seus ataques a estrangeiros, o deportaram para sua casa assim como ele fez com tantos imigrantes.

Se os republicanos quiserem ganhar a Casa Branca, terão de moderar seus ataques aos imigrantes ilegais e propor algum tipo de plano para que estes possam ficar legalmente no país. É isso que quer a maioria dos norte-americanos, segundo nossa pesquisa. Se não o fizerem, será politicamente impossível para os republicanos conseguir mais de um terço dos votos latinos e, consequentemente, perderão mais uma vez a presidência.

Em outras palavras, trata-se de estar do lado correto da história. E isso significa estar do lado dos imigrantes. Kennedy esteve do lado correto, e Reagan também.

Quem se atreve a segui-los?

*Jorge Ramos, jornalista ganhador do Emmy, é diretor de notícias da Univision Network. Ramos, nascido no México, é autor de nove best-sellers, sendo o mais recente “A Country for All: An Immigrant Manifesto”.