Topo

A grande mentira dos republicanos

John Boehner disse que tem sérias dúvidas de que 2014 será o ano da reforma migratória - Evan Vucci/AP
John Boehner disse que tem sérias dúvidas de que 2014 será o ano da reforma migratória Imagem: Evan Vucci/AP

Jorge Ramos

14/02/2014 00h01

É uma grande mentira. Por alguns momentos, o Partido Republicano fez os hispânicos e os imigrantes acreditarem que realmente queria uma reforma migratória para este ano. Mas na verdade tudo parece indicar que nada vai acontecer.

O final da história é que os imigrantes sem documentos ficarão sem legalização por muito tempo ainda e os republicanos voltarão a ficar sem a Casa Branca em 2016.

É todo um jogo político. No ano passado, o Senado (com maioria democrata) aprovou uma proposta de reforma migratória. O ponto central era legalizar a maioria dos sem documentos e lhes dar um caminho para a cidadania. Chegou então a vez da Câmara de Deputados, dominada por republicanos, e aí tudo se pôs a perder.

Depois de muitas hesitações e consultas internas, o Partido Republicano deu a conhecer há alguns dias uma "lista de princípios" sobre imigração. A lista incluía, como era de se supor, mais segurança na fronteira, mais vistos, mais verificação nos empregos, mais registros de entradas e saídas de visitantes. Mas o importante é que daria um estatuto legal à maioria dos sem documentos.

Depois de divulgada a lista, muitos comentaristas e analistas, incluindo eu, nos sentimos otimistas de que o progresso quanto à reforma migratória finalmente ocorreria. Depois de tudo, os republicanos haviam chegado ao que parecia uma solução intermediária no que até então havia sido um ponto crítico no debate. Durante uma entrevista recente à CNN, perguntou-se ao presidente Barack Obama se vetaria uma iniciativa que não incluísse uma rota para a cidadania. "Não vou prejulgar o que chega ao meu gabinete", disse, dando um sinal de que estaria aberto à opção dos republicanos.

Mas de repente tudo parou: Mitch McConnell, o líder republicano no Senado, disse que a questão migratória não poderia ser resolvida este ano; o congressista do Tea Party Raul Labrador disse que se o presidente da Câmara de Deputados, John Boehner, levasse o tema a votação deveria perder seu cargo; e Boehner, cedendo à pressão, disse que tinha sérias dúvidas de que 2014 seria o ano da reforma migratória.

Imediatamente todos os republicanos (treinados em seus "talking points") começaram a culpar o presidente Obama pelo fracasso da reforma. Sim, efetivamente Obama não cumpriu sua promessa migratória em 2009. Mas que não fique dúvida: a culpa de que não haja reforma migratória em 2014 é do Partido Republicano e de Boehner. Nem sequer se atreveram a levar o tema a votação.

Seu cálculo político é que em 2015 poderão reanimar o tema. Mas enganam-se. Estaremos no meio de uma brutal campanha pela presidência. Ninguém vai querer lidar com migração nesse ano.

O mais grave para os republicanos é que em 2016 vão perder a maioria dos 16 milhões de eleitores hispânicos e certamente também perderão a Casa Branca. Esse tema vai persegui-los como um fantasma.

Entretanto, o presidente Obama também perde pela falta de ação dos republicanos. Nos próximos meses vai crescer enormemente a pressão para que detenha as deportações de milhares de sem documentos que não cometeram crimes. Ele diz que não tem autoridade para fazê-lo. Mas muitos que são advogados como ele acreditam que sim, tem. O argumento é o seguinte: se ele pode deter as deportações dos "Dreamers" [sonhadores] com a chamada ação diferida, também pode fazê-lo com seus pais, irmãos, vizinhos e companheiros de escola e de trabalho.

Há uma grave contradição na posição do presidente Obama. Ele diz que quer uma reforma migratória, mas ao mesmo tempo já deportou quase 2 milhões de imigrantes que teriam se beneficiado dessa medida. Não pode dizer "eu quero você neste país" e depois enviar agentes migratórios para deportá-lo. Suas ações contradizem suas palavras.

Enquanto isso, a situação dos sem documentos torna-se desesperadora. Um presidente quer deportá-los enquanto o único partido que pode fazer algo para legalizá-los lhes dá as costas. Este não é o sonho o americano que eles imaginaram quando vieram.

É uma grande mentira.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves