Topo

Republicanos, nunca se esquece quando alguém diz "não" na sua cara

Jorge Ramos

22/01/2015 00h01

É impossível não o considerar um ataque pessoal. Se os republicanos fizessem o que pretendem, mais de 5 milhões de sem documentos perderiam a proteção migratória que lhes foi dada pelo presidente Barack Obama com sua ordem executiva. O perigo de deportação voltaria a cair sobre eles e perderiam suas licenças de trabalho.

Os republicanos na Câmara de Deputados votaram --por 236 contra 191-- para revogar o decreto executivo de Obama que beneficia principalmente os Sonhadores (estudantes sem documentos) e os pais (sem documentos) de crianças que nasceram nos EUA. Dizem ser contra a decisão "inconstitucional" de Obama.

Mas muitos latinos não o viram dessa forma. "Isto representa um ataque pessoal contra mim e contra meus pais", disse Cristina Jimenez, diretora da United We Dream, maior organização de estudantes sem documentos do país.

A proposta republicana não passará no Senado, onde os republicanos não têm os 60 votos necessários para sua aprovação, nem sobreviveria a um veto presidencial. Quer dizer, fizeram isso só para deixar clara sua oposição ao presidente. Mas não percebem que a mensagem para os imigrantes latinos foi terrível: estamos contra vocês. (O ato executivo de Obama teve 89% de aprovação entre os hispânicos, segundo uma pesquisa da Latino Decisions.)

O Partido Republicano se queixou ultimamente de que alguns jornalistas latinos, inclusive eu, só queremos lhes perguntar sobre imigração. Dizem, com razão, que temas como economia, saúde e educação são mais importantes, de acordo com as pesquisas.

Mas o que os republicanos não entendem é que o tema da migração é, simbólica e emotivamente, o mais influente para nós. Define quem está conosco e quem está contra nós. Além disso, lhes perguntamos sobre imigração porque são os republicanos que estão bloqueando uma reforma migratória no Congresso e porque é um assunto não resolvido.

Os republicanos não parecem ter aprendido nada com sua derrota eleitoral em 2012. Sua própria análise dessa derrota dizia: "Se os hispânicos acreditarem que não os queremos aqui, fecharão seus ouvidos para nossas políticas." Absolutamente certo. Mas a mensagem de seu voto na Câmara de Deputados alguns dias atrás foi claríssima: não os queremos aqui.

Assim vão perder outra vez o voto latino e a Casa Branca em 2016. O próprio senador republicano Lindsey Graham disse recentemente que as possibilidades de seu partido ganhar a presidência são "quase inexistentes", a menos que façam algo para resolver o problema migratório.

Longe de resolvê-lo, o mantêm bloqueado no Congresso e continuam atacando os imigrantes.

Quase todos os seus possíveis candidatos à presidência têm posições anti-imigrantes. E se Mitt Romney decidir lançar novamente sua candidatura, voltará a perder o voto latino. Sua política de "autodeportação" o marcou negativamente entre os hispânicos, e por isso ele só obteve 27% do voto latino na última eleição presidencial.

Agora, um esclarecimento. Como jornalista e como imigrante, critiquei tanto os republicanos quanto os democratas. Critiquei duramente o presidente Obama por não cumprir sua promessa eleitoral de apresentar uma proposta de reforma migratória em seu primeiro ano de governo e voltei a criticá-lo no final do ano passado por ter deportado mais de 2 milhões de sem documentos e por não conter antes as deportações. Não é um assunto partidário. É simplesmente um assunto de direitos humanos, pendente e urgente.

Obama já fez tudo o que podia fazer. Não irá mais longe. Agora cabe aos republicanos agir. E não o estão fazendo.

Não é uma questão abstrata para nós. A metade de todos os hispânicos (maiores de 18 anos) é imigrante. Por isso, quando os republicanos atacam um grupo de imigrantes, o impacto é enorme entre todos os latinos, legais ou não.

Os republicanos estão preocupados, com toda a razão. Ninguém pode chegar à Casa Branca sem o voto latino. E, quando pedirem o apoio dos latinos nas eleições presidenciais de 2016, vamos lhes lembrar todas as vezes que votaram contra os imigrantes. São muitas: desde sua oposição ao Dream Act, passando pelo bloqueio que seu líder, John Boehner, fez à reforma migratória durante mais de 500 dias, até a votação da semana passada no Congresso. Nunca se esquece quando alguém diz "não" na sua cara.

Os republicanos não conseguem compreender que a migração é, para os latinos, um assunto da alma. E enquanto não o entenderem e fizerem algo a respeito, continuarão perdendo nosso voto e as eleições mais importantes do país. Sim, os republicanos têm um problema latino, e menos de dois anos para resolvê-lo. Ou perderão novamente.