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O futuro já chegou e é em outras telas (que não as da TV)

Jorge Ramos

26/02/2015 00h01

A TV não é mais o que era.

Acabo de entrevistar na televisão três jovens que não têm televisor. Na internet, concretamente no YouTube, há milhões de outros jovens que os veem e os seguem. Esses milhões de jovens também não têm televisor, e quando têm, não o veem. Bem-vindos ao futuro.

Esse fenômeno significa duas coisas. A primeira, é que há uma gigantesca migração de olhos da televisão para os computadores e, sobretudo, para os celulares. A segunda, é que esse é um enorme desafio para os meios de comunicação tradicionais; os que não se adaptarem (e muito rápido) a essa mudança no consumo de vídeos e informação estão condenados a desaparecer.

Os "milenares" (jovens de 18 a 34 anos) cresceram vendo televisão, mas já a dispensaram (ou se encontram no processo de fazê-lo). E seus irmãos mais jovens são membros da primeira geração que vive à margem do televisor; substituíram-no por tablets, computadores e celulares.

Para nós que trabalhamos na televisão, isso significa que estamos produzindo conteúdos que, com frequência crescente, são vistos pela primeira vez através de meios digitais e em redes sociais. Hoje, não é estranho que as entrevistas e reportagens que faço para a Univision, em espanhol, e para a Fusion, em inglês, sejam vistas em telas que não são de um televisor. Isso é novo.

Ao mesmo tempo, estão surgindo todos os dias produtores independentes de conteúdo na internet e nas redes sociais. Eles competem com muito êxito com programas de televisão. Muitas vezes nos superam. Longe de um estúdio de gravação, filmam segmentos curtos --de 10 a 20 minutos-- em suas próprias casas, em restaurantes e na rua (por um custo mínimo), e produzem programas sem censura, com absoluta naturalidade e geralmente concentrados em suas próprias vidas. Isso a televisão não sabe fazer bem.

Chumel Torres, Hector Trejo e Caeli Santa Olalla estão revolucionando a forma como os latino-americanos se informam e se entretêm. Se você ainda não os viu, o futuro já o deixou para trás.

Chumel Torres diz que não é jornalista. Mas se atreve a dizer o que muitos jornalistas do México não dizem. Seguindo a tradição de comediantes americanos como Stephen Colbert e Jon Stewart, Chumel (@ChumelTorres) zomba da classe política mexicana. Com uma boa dose de humor e grosserias, reflete a indignação de muitos diante dos abusos dos ricos e poderosos.

"A internet me deu a oportunidade de viver de minhas piadas", disse-me em uma entrevista.

Seu programa "O Pulso da República" é visto por milhões de pessoas em celulares e laptops às segundas e quintas-feiras. Acredito mais em Chumel do que em muitos repórteres mexicanos. Os vídeos postados por Caeli Santa Olalla (@CaElike) no YouTube são vistos mais de 350 milhões de vezes.

Qualquer presidente do mundo gostaria de ter uma audiência parecida. Mas o assunto dela não é política. Conta sua vida em vídeo, desde o que vai vestir naquele dia até as dúvidas que surgem na primeira vez (qualquer primeira vez). "Consigo viver disto", disse-me Caeli, uma atriz que acaba de completar 25 anos e que tenta fazer comédia. "O melhor é que podemos viver de algo que gostamos de fazer e podemos ser como somos."

O negócio de Hector Trejo, mais conhecido como Bully (@Bullysteria), são os desafios, "um diário de vida" e uma boa tentativa de gerar consciência social. Ele se junta com amigos e, diante da câmera, eles se comportam como se ninguém os estivesse vendo.

Assisti a um vídeo muito divertido enquanto eles comiam as asinhas de frango mais picantes do México. O resultado é impressionante. Milhões os veem e milhares comentam o que acharam. Essa retroalimentação é a inveja de qualquer partido político, igreja ou meio de comunicação. O que é ser "cool"?, perguntei a ele. Sua resposta foi inequívoca: "Alguém que vive bem sendo ele mesmo".

Hector, Caeli e Chumel não se vendem. Ponto. Fazem e dizem o que querem e não trocariam essa liberdade por um programa na televisão. De fato, a televisão interessa cada vez menos a eles, porque seus amigos e as pessoas que consideram importantes não assistem mais à televisão. As novas gerações não têm mais hora marcada para ver televisão. Quando querem ver algo, entram na internet e o veem, seja às 2h da manhã ou às 14h.

Não, isto não é o fim da televisão como mídia. Sempre haverá quem queira vê-la. Ela sobreviverá de alguma maneira, assim como o rádio e o cinema. Mas o futuro, que já chegou, é digital, interativo e em outras telas.