Topo

Pré-candidatos à Presidência dos EUA fazem promessas a eleitores hispânicos

Jeb Bush, ex-governador da Flórida - Carolyn Kaster/AP
Jeb Bush, ex-governador da Flórida Imagem: Carolyn Kaster/AP

13/05/2015 00h01

5 de Maio é um dia estranho nos EUA. Muitos americanos o usam como desculpa para ir a bares tomar cerveja mexicana, comer chips com molho e vestir um chapéu de aba larga. E muitos políticos o aproveitam para falar dos latinos e de nossa crescente influência neste país.

O 5 de Maio passado não foi exceção. Ao contrário, presenteou-nos um adianto de como poderão ser as campanhas presidenciais antes da votação de novembro de 2016. Foram duas maneiras muito diferentes de tentar atrair o eleitor hispânico. O republicano Jeb Bush enviou pelas redes sociais uma mensagem, em espanhol perfeito, sobre como aprendeu a amar e respeitar o México, país de origem de sua esposa, Columba. E a democrata Hillary Clinton pronunciou, em inglês, um forte discurso sobre como ajudará os imigrantes sem documentos.

Na verdade Clinton foi muito além do que se esperava. Prometeu, como Barack Obama em 2008, lutar no Congresso por uma reforma migratória que permita à maioria dos 11 milhões de sem documentos tornar-se cidadãos americanos. "Não se enganem", disse ela. "Hoje nenhum candidato republicano, declarado ou potencial, está apoiando clara e consistentemente um caminho para a cidadania [para os sem documentos]. Nenhum."

Mas depois foi muito além do próprio presidente Obama. "Se o Congresso se abstiver de atuar", continuou, "como presidente eu farei o possível dentro da lei para ir mais longe. Há muita gente como os pais dos Sonhadores [estudantes sem documentos] que merece uma oportunidade de ficar neste país. Eu também vou lutar por eles."

A ação executiva de Obama - que ajudaria mais de 4 milhões de sem documentos - está atolada nos tribunais. Mas Clinton diz que faria mais ainda e ajudaria mais imigrantes.

Vamos chamá-la de "a promessa do 5 de Maio". Agora falta aterrissar esse plano. Quando e como? Clinton o faria durante seus primeiros cem dias na Casa Branca? Suspenderia as deportações até conseguir a reforma migratória? É preciso dar uma data limite e mecanismos muito concretos para que se cumpra.

Mas o problema de Clinton é Barack Obama. Ele fez uma promessa parecida em 2008 e não a cumpriu. Por isso, quando muitos latinos ouviram o discurso de Clinton, disseram: "Não acredito em nada. Já ouvi essa história".

Além de um problema de credibilidade, há outro jurídico: todos sabemos que Clinton, se ganhar, será só presidente, e não rainha. Os tribunais e o Congresso poderiam bloquear suas melhores intenções. Se isso acontecesse, "a promessa do 5 de Maio" se evaporaria e não conseguiria absolutamente nada.

Mas o que a promessa de Clinton conseguiu foi diferenciá-la de todos os candidatos republicanos, e os pôs em sérias dificuldades diante do eleitorado latino. Será possível que Clinton tenha uma proposta migratória muito mais abrangente e compassiva que dois candidatos presidenciais que são filhos de imigrantes, Ted Cruz e Marco Rubio, e que Jeb Bush, cuja família é latina? Nenhum candidato republicano vai escapar de lhe perguntarmos o que promete para os sem documentos em troca de nosso voto, e de compararmos sua resposta com a proposta de Clinton. E não falar de imigração não é uma opção.

A coisa é essa. O que vão nos dar em troca de nosso voto? Não basta dizer algumas palavras em espanhol ou promessas vazias. Já nos queimamos antes, mas aprendemos.

Todos os candidatos estão tentando atrair desde já os latinos porque sabem perfeitamente que eles poderão definir a eleição. A matemática é simples. Obama ganhou de Mitt Romney em 2012 por quase 5 milhões de votos. Em 2016 cerca de 16 milhões de latinos irão às urnas, mais que o suficiente para pôr qualquer um na Casa Branca.

Eu já lhes disse: 5 de Maio é um dia estranho. Foi um dia de promessas, e agora é preciso ouvir a todos. Mas não vamos esquecer. E se não acreditarem em nós perguntem ao presidente Obama o que acontece quando nos prometem algo e não cumprem.