Flagelo gaúcho mostra a falta que faz civilidade institucional
O socorro financeiro da União ao Rio Grande do Sul produziu algo incomum no Brasil da polarização. Materializou-se em torno do decreto legislativo enviado por Lula ao Congresso para reconhecer a situação de calamidade pública do estado um raro lampejo de racionalidade. Por um instante, a solidariedade aos gaúchos prevaleceu sobre a mesquinharia.
O decreto da calamidade abre caminho para que o Tesouro financie a assistência aos gaúchos e a reconstrução do estado sem estourar a meta fiscal. Lula comprometeu os presidentes da Câmara e do Senado com a solução. Levou Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para sobrevoar as enchentes, no domingo.
Apenas 24 horas depois, Lula assinou no Planalto, ao lado de Lira, Pacheco e outas autoridades, o decreto que enviaria ao Congresso. A Câmara aprovou na mesma segunda-feira, em votação simbólica. Sabia-se que o Senado seguiria o mesmo caminho.
Eleito pelo Rio Grande do Sul, o deputado Osmar Terra, bolsonarista de mostruário, foi ao microfone. "Trata-se de uma catástrofe inédita no estado e não cabem disputas neste momento."
De repente, Lula e Eduardo Leite, presidente e governador de partidos diferentes, se entendem republicanamente. As Forças Armadas, até anteontem com um pé fora do seu quadrado, cumprem o dever constitucional de socorrer brasileiros em apuros.
Deputados e senadores do governo e da oposição trocam a politicagem pela política. A duração será, evidentemente, efêmera. Mas, seja como for, a plateia se dá conta da falta que faz ao Brasil a civilidade institucional.
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