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O "shutdown" americano e os avanços da China

14/10/2013 11h33

O impasse no Congresso sobre o orçamento americano e a interrupção das atividades não essenciais da administração federal (“shutdown”), inquieta o mundo inteiro. De fato, o “shutdown” junta-se à incerteza sobre a autorização do Congresso ao aumento do teto da dívida pública que deve ocorrer até a proxima quinta-feira (17). Caso contrário, o governo dos Estados Unidos estará técnicamente numa situação de calote.

Diante da crise, Christine Lagarde, diretora do FMI, declarou numa entrevista à rede americana NBC que o fracasso das negociações no Congresso poderá gerar “perturbações maciças no mundo inteiro”, com o risco de uma nova recessão nos Estados Unidos.

No outro quadrante do planeta, a China também lançou advertências. Num comunicado difundido pela agência oficial Xinhua, e publicado no jornal Global Times, afiliado ao cotidiano People's Daily, órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, o governo de Beijing atacou as turbulências geradas pelo conflito entre o Congresso e a Casa Branca.

Num recado curto e grosso o comunicado chinês sentencia: "Talvez tenha chegado a hora deste mundo confuso começar a pensar num mundo desamericanizado”. Num tom duro, o comunicado continua: "Em vez de honrar seus deveres como uma potência de liderança responsável, ...Washington abusa de seu status de superpotência e introduz mais caos no mundo, transferindo os riscos financeiros para o exterior, fomentando tensões regionais ... e deslanchando guerra indesejadas sob a cobertura de mentiras vergonhosas”.

A imprensa americana e européia registrou a agressividade do discurso oficial chinês. No entanto, outra notícia relativa às manobras financeiras da China passou meio despercebida. Segundo o blog Zero Hedge, especializado nos assuntos financeiros americanos e mundiais, a China tem realizado compras elevadas de ouro nos últimos anos. 

Subindo cerca de 100 toneladas por mês, o estoque de ouro da China passou da sexta posição mundial em 2009, para a segunda posição, situando-se apenas abaixo do total do estoque de ouro dos Estados Unidos. Há dois anos, citando fontes diplomáticas vazadas no Wikileaks, o mesmo blog observava que o aumento dos estoques de ouro na China alimentava a estratégia chinesa de tornar sua moeda nacional, o renminbi, a nova moeda de reserva internacional.

Em outras palavras, a China não está somente questionando a liderança mundial americana. Ela está se dotando de todos os instrumentos – diplomáticos, econômicos, financeiros, tecnológicos e militares – para desafiar os Estados Unidos no momento que julgar oportuno.