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China caminha para se tornar país campeão do livre-comércio

02/05/2014 09h25Atualizada em 02/05/2014 09h25

A divulgação das estatísticas mais recentes sobre as trocas internacionais mostrou que em 2013 a China se tornou o maior país exportador e importador do mundo. Desde 2009 a China já era o maior país exportador do planeta. Comentando a notícia, o porta-voz da administração alfandegária chinesa declarou: “trata-se de um marco decisivo para o desenvolvimento do comércio externo de nosso país”. Na realidade, o fato é bem mais significativo do que parece.

Dirigido pela economista indiana Madhur Ja, do banco londrino Standard Chartered, um estudo mais amplo mostra a dimensão histórica da atual performance comercial chinesa. Segundo o estudo, o comércio externo da China representa uma porcentagem elevada do comércio mundial (11,5%) e do próprio PNB do país (47%). Juntos, estes dois índices fazem com a China apareça como uma “mega-trader” equivalente ao império britânico no início do século 20.

Decerto, a China continua sendo um país desigual cuja renda média por habitante é modesta. Dentre os 55 países da classificação do Banco Mundial englobando a renda média US$ 4.086 e US$ 12.615 por ano, entre os quais se encontram o Brasil e a maior parte dos países latino-americanos, a China se situa numa posição modesta. Nesta classificação, medindo a renda nacional bruta (montante de salários e rendas) por habitante, a China fica abaixo do Chile, México, Brasil, Peru e Colômbia (as estatísticas sobre a Argentina não estão disponíveis).

Mas a comparação com o império britânico impressiona, sobretudo por razões geopolíticas. No auge de seu poderio – de 1850 até a Primeira Guerra Mundial - a Inglaterra tinha a maior frota de guerra do planeta e controlava domínios imensos na Ásia e na África, exercendo ainda plena tutela sobre o Canadá. Duas das maiorias vias de passagem marítima mundiais, o Canal de Suez e o estreito de Malaca, estavam sob a guarda da Royal Navy. Não havia a ONU, e quem podia falar grosso, como os primeiros ministros ingleses, de Lord Palmerston a Asquith, ganhava a parada. Cantando “Rule Britannia!” (Manda Inglaterra!), os funcionários civis e militares da rainha Vitória se espalhavam pelas quatros partes do mundo persuadidos que eram os novos romanos e que tinham o dever de civilizar todos os continentes, e não apenas o Mediterrâneo, como a Roma antiga.

Ora, a China passa exercer sua hegemonia comercial num contexto bem diferente. Além de não dispor de territórios ultramarinos ou de bases navais noutros continentes, a China está cercada de potências antagonistas como a Coreia do Sul e o Japão, com um vizinho peso pesado como a Índia e um parceiro comercial que é também um enorme rival, os Estados Unidos.

Comentando seu relatório, Madhur Jha declarou: “a China se tornará provavelmente uma campeão do livre-comércio”. Visão otimista, pressupondo que não haverá reações protecionistas com desdobramentos internacionais nos Estados Unidos, na União Europeia e noutros partes do mundo, diante do crescimento avassalador do comércio externo chinês.