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Relação entre China e Brasil põe Europa e EUA em alerta

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

20/05/2015 19h26

Na esteira da visita do primeiro ministro chinês, Li Keqiang, que passou por Brasília distribuindo investimentos como um Papai Noel fora de época, vale a pena recapitular o contexto mais geral da expansão econômica chinesa. Saindo do Brasil, Li Keqiang foi para a Colômbia, Peru e Chile.

Na realidade, a China tem relações com toda a América Latina e no último mês de janeiro ocorreu em Pequim o primeiro fórum ministerial China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Incluindo o Brasil, a CELAC integra 33 países membros.

Na ocasião, fazendo o balanço do fórum, Xue Li e  Xu Yanzhou, dois especialistas chineses de relações internacionais, consideraram que a América Latina não é uma zona prioritária na geopolítica chinesa, comparativamente à África. Sem falar obviamente do oceano Índico ou da Eurásia.

Agora, na mesma publicação australiana especializada em assuntos asiáticos, intitulada 'The Diplomat', a editora Shannon Tiezzi pondera que as relações entre a China e o Brasil se situam num patamar diferente dos outros países sul-americanos, por causa do volume das relações comerciais bilaterais e da filiação de ambos os países aos Brics.

Note-se também que para a China os interesses regionais da Ásia estão sempre em primeiro plano. Assim, paralelamente ao Banco de Desenvolvimento dos Brics, mais conhecido pelo seu acrônimo inglês NDB (New Development Bank), sediado em Xangai, a China expande o Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB).

O NDB, fundado na reunião dos Brics em Fortaleza em julho do ano passado, é detido numa proporção de 41% pela China, de 54% divididos em partes iguais pelo Brasil, Rússia e Índia, e de 5% pela África do Sul. Conforme o entendimento entre os países fundadores, seu primeiro presidente será o banqueiro indiano K. V. Kamath. O Brasil nomeará um dos quatro vice-presidentes do NDB, que começará a funcionar no final deste ano.

O AIIB, destinado a financiar projetos de infraestruturas na região Ásia-Pacífico, terá sede em Pequim. Mas o AIIB possui 57 países membros fundadores, incluindo o Brasil, distribuídos em todos os continentes. Ao lado do Irã e da Rússia, países bem próximos dos Estados Unidos, como Israel, Reino Unido, Polônia e Alemanha, também aderiram ao AIIB.

No mês de março deste ano, quando ficou patente que o Reino Unido iria aderir ao AIIB, o jornal 'Washington Times', declaradamente contrário ao Partido Democrata e ao presidente Obama, deu na manchete: "Desastre diplomático: Obama humilhado por aliados que correm para aderir ao novo banco da China".

No último sábado (16), num editorial mais moderado, o 'New York Times' sublinha as mudanças geopolíticas desde o final da Segunda Guerra e afirma que a fundação do NDB e do AIIB deve fazer com que os europeus ocidentais e os americanos reformem o FMI e o Banco Mundial.

O jornal acusa os republicanos de terem bloqueado em 2010 as mudanças nas duas instituições, propostas pelo presidente Obama ao Congresso. Mas diz também que os governos europeus e americanos, para começar, podiam abandonar a “tradição anacrônica” que sempre dá aos primeiros a direção do FMI e aos segundos a direção do Banco Mundial.

De um jeito ou de outro, as iniciativas chinesas nos cinco continentes, incluindo a viagem de Li Keqiang ao Brasil e aos países vizinhos, podem dar ao Congresso americano e aos parlamentos europeus uma visão mais realista da nova ordem mundial.