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Os imperadores nus da China não sabem o que estão fazendo

Mark Schiefelbein/AP
Imagem: Mark Schiefelbein/AP

Paul Krugman

31/07/2015 11h05

Frequentemente, políticos que presidem booms econômicos desenvolvem delírios de competência. Você pode ver isso no mercado interno: Jeb Bush acha que conhece os segredos do crescimento econômico, porque aconteceu de ser o governador da Flórida quando estava passando por uma bolha imobiliária gigantesca e teve a sorte de deixar o cargo pouco antes de ela estourar. Temos visto isso em muitos países: ainda me lembro da onisciência e onipotência atribuída a burocratas japoneses na década de 80, antes da longa estagnação se estabelecer. 

Este é o contexto para entender os estranhos acontecimentos no mercado de ações da China. Em si, o preço das ações chinesas não deveria importar tanto assim. Mas as autoridades decidiram colocar sua credibilidade em jogo tentando controlar esse mercado -e estão demonstrando que os governantes da nação não têm a menor ideia do que estão fazendo, não obstante o notável sucesso da China ao longo dos últimos 25 anos. 

Comece com os fundamentos. A China está no fim de uma era -a era do crescimento super-rápido -possibilitada, em grande parte, por uma vasta migração de camponeses subempregados do campo para as cidades costeiras. Esta reserva de trabalho excedente está cada vez menor, o que significa que o crescimento deve desacelerar. 

A estrutura econômica da China, entretanto, é construída em torno da presunção de crescimento muito rápido. As empresas, muitas delas de propriedade estatal, acumulam seus ganhos em vez de devolvê-los ao público, que tem uma renda familiar atrofiada; ao mesmo tempo, as poupanças individuais são elevadas, em parte porque a rede de segurança social é fraca, então as famílias juntam dinheiro para se precaver. Como resultado, o gasto chinês é desequilibrado, com taxas de investimento muito elevadas, mas uma participação muito baixa do consumidor no produto interno bruto. 

Essa estrutura era viável quando o crescimento econômico tórrido oferecia oportunidades de investimento suficientes. Mas agora o investimento está encontrando retornos decrescentes. O resultado é um problema de transição desagradável: o que acontece se o investimento cai, mas o consumo não sobe com a rapidez necessária para preencher a lacuna?

O que a China precisa é de reformas que disseminem o poder de compra –e é preciso dizer, para ser justo, que o país tem feito esforços nesse sentido. Mas estes esforços ficaram aquém do necessário. Por exemplo, foi introduzido um suposto sistema nacional de saúde, mas, na prática, muitos trabalhadores não entram nesta rede de segurança.

Enquanto isso, os líderes da China parecem estar aterrorizados -provavelmente por razões políticas- com a possibilidade de até mesmo uma breve recessão. Então, eles vêm bombeando a demanda com crédito excessivo, inclusive promovendo um boom do mercado acionário. Essas medidas podem funcionar por um tempo, e tudo poderia estar bem, se as grandes reformas estivessem ocorrendo em velocidade suficiente. Mas não, e o resultado é uma bolha que quer estourar. 

A resposta da China tem sido um esforço global para sustentar os preços das ações. Grandes acionistas foram impedidos de vender suas posições; instituições estatais receberam instruções para comprar ações; muitas empresas em queda foram autorizadas a suspender a negociação. Estas são coisas que você pode fazer por um par de dias para conter um pânico claramente injustificado, mas estão sendo aplicadas continuamente para um mercado que ainda está muito acima de seu nível. 

O que as autoridades chinesas pensam que estão fazendo? 

Em parte, elas podem estar preocupadas com consequências financeiras. Parece que uma série de empresas na China contraiu empréstimos de grandes somas dando ações como garantia, de modo que um mergulho do mercado poderia provocar calotes. Isto é especialmente preocupante porque a China tem um enorme setor bancário “alternativo” que, essencialmente, não é regulamentado e poderia facilmente vivenciar uma onda de corrida aos bancos. 

Por outro lado, também parece que o governo chinês, tendo incentivado os cidadãos a comprar ações, agora sente que deve defender os preços das ações para preservar sua reputação. E o que está fazendo, evidentemente, é destruindo essa reputação em velocidade recorde. 

Na verdade, cada vez que você acha que as autoridades fizeram todo o possível para destruir a sua credibilidade, elas se superam novamente. Ultimamente a mídia estatal vem atribuindo a culpa pela queda das ações a -você adivinhou- uma conspiração estrangeira contra a China, que é ainda menos plausível do que você pode pensar: há muito que a China mantém controles que efetivamente mantêm os estrangeiros fora de seu mercado de ações, e é difícil vender ativos que você nunca foi autorizado a possuir. 

Então, o que acabamos de descobrir? Que o incrível crescimento da China não era uma miragem, e sua economia continua a ser uma potência produtiva. Os problemas da transição para um menor crescimento são, obviamente, grandes, mas já sabíamos disso. A grande novidade aqui não é sobre a economia chinesa; é sobre os líderes da China. Esqueça tudo que você já ouviu falar sobre seu brilhantismo e visão de futuro. A julgar pelo seu fracasso atual, eles não têm ideia do que estão fazendo. 

Tradutora: Deborah Weinberg 

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