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A bancada da chantagem, também conhecida como Partido Republicano

17.jul.2014 - Jim Watson/AFP
Imagem: 17.jul.2014 - Jim Watson/AFP

28/09/2015 19h51

John Boehner foi um presidente da Câmara terrível, horrível, horroroso. Sob a liderança dele, os republicanos buscaram uma estratégia sem precedente de obstrucionismo de terra arrasada, que causou danos imensos à economia e minou a credibilidade dos Estados Unidos em todo o mundo.

Mesmo assim, as coisas poderiam ter sido piores. E sob seu sucessor quase certamente serão. Por pior que Boehner fosse, ele era apenas um sintoma do mal por trás, a loucura que consumiu seu partido.

Para mim, o momento definidor de Boehner continua sendo o que ele disse e fez como líder da minoria na Câmara no início de 2009, quando o recém-empossado presidente Barack Obama tentava lidar com a recessão desastrosa que teve início sob seu antecessor.

Havia e há um forte consenso entre os economistas de que um período temporário de gastos deficitários pode ajudar a atenuar uma recessão econômica. Em 2008, um plano de estímulo foi aprovado pelo Congresso com apoio bipartidário e era forte o argumento a favor de um estímulo adicional em 2009. Mas com um democrata na Casa Branca, Boehner exigiu que a política seguisse na direção oposta, declarando que "as famílias americanas estão apertando seus cintos. Mas elas não veem o governo apertando seu cinto". E pediu para que o governo fizesse "uma dieta".

Foi uma posição econômica de quem não sabe nada e foi incrivelmente irresponsável em um momento de crise. Há não muito tempo seria difícil imaginar uma figura política importante fazendo uma declaração dessas. Boehner de fato acreditava no que estava dizendo? Ou era apenas contra qualquer coisa que Obama fosse a favor? Ou estava promovendo uma sabotagem deliberada, tentando bloquear medidas que ajudariam a economia, porque problemas econômicos seriam bons para as perspectivas eleitorais republicanas?

Provavelmente nunca saberemos ao certo, mas esses comentários deram o tom para tudo o que se seguiu. A era Boehner foi uma na qual os republicanos não aceitaram nenhuma responsabilidade em ajudar a governar o país, na qual se opunham a tudo e qualquer coisa proposta pelo presidente.

Além disso, foi uma era de chantagem orçamentária, na qual ameaças de que os republicanos paralisariam o governo ou o obrigariam a dar calote a menos que a vontade deles fosse feita se tornou o procedimento padrão.

No todo, os republicanos durante a era Boehner justificaram plenamente a caracterização oferecida pelos analistas políticos Thomas Mann e Norman Ornstein, no livro deles "It's Even Worse Than You Think" ("É ainda pior do que você pensa", em tradução livre). Sim, o Partido Republicano se transformou em um "insurgente isolado", que é "ideologicamente extremo" e " impérvio ao entendimento convencional dos fatos, evidências e ciência". E Boehner não fez nada para combater essas tendências. Pelo contrário, ele atendeu e alimentou o extremismo.

Então por que ele saiu? Basicamente, porque o obstrucionismo fracassou.

Os republicanos não conseguiram frear severamente os gastos federais, que cresceram menos sob Obama do que sob George W. Bush, ou mesmo sob Ronald Reagan. A fraqueza dos gastos contribuiu muito para a demora para o país se recobrar da crise, provavelmente o maior motivo individual para o retardamento da recuperação da recessão de 2007-2009.

Mas mesmo assim a economia se saiu bem o suficiente para Obama conquistar a reeleição com uma maioria sólida em 2012, e sua vitória assegurou que sua principal iniciativa política, a reforma da saúde –aprovada antes dos republicanos assumirem o controle da Câmara– entrasse em vigor no prazo, apesar das várias tentativas de Boehner para derrubá-la. Além disso, a reforma da saúde está funcionando: o número de americanos não segurados caiu acentuadamente enquanto os custos do atendimento de saúde parecem estar sob controle.

Em outras palavras, apesar de todos os esforços de Boehner para derrotá-lo, Obama parece cada vez mais como um presidente altamente bem-sucedido. Para a base, que nunca considerou Obama como sendo um presidente legítimo –pesquisas sugerem que muitos republicanos acreditam que ele nem mesmo nasceu no país– isso é um pesadelo. E um grande número de políticos republicanos ambiciosos está disposto a dizer para a base que isso é culpa de Boehner, que ele não se empenhou mais em chantagear.

Isso é tolice, é claro. Na verdade, a controvérsia em torno da Planned Parenthood (organização que presta assistência à saúde da mulher, de exames de HIV até aborto) que provavelmente provocou a saída de Boehner –paralisar o governo em resposta a vídeos obviamente manipulados?– serve como uma ilustração sob medida de quão loucos os extremistas republicanos se tornaram, quão fora da realidade estão sobre o que políticas de confronto podem realizar.

Mas os líderes republicanos que encorajaram a base a acreditar em todo tipo de coisas inverídicas não estão em posição de começar a pregar a racionalidade política.

Boehner está deixando seu cargo porque se viu pego entre os limites do politicamente possível e uma base que vive em uma realidade própria. Mas não chore por Boehner (ou com ele), mas sim pelos Estados Unidos, que precisam encontrar uma forma de conviver com um Partido Republicano enlouquecido.