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A revolução da educação superior no mundo digital

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Imagem: Thinkstock

Em Palo Alto, Califórnia (EUA)

18/05/2012 00h01

Andrew Ng é professor de ciência da computação na Universidade Stanford e tem uma forma bem interessante de explicar como a nova companhia de educação interativa on-line da qual ele foi cofundador, a Coursera, espera revolucionar o ensino superior ao permitir que alunos de todo o mundo não só ouçam palestras, mas também façam deveres de casa, recebam notas, obtenham um certificado de conclusão de curso e utilizem isso para conseguir um emprego melhor ou o ingresso em uma escola de mais qualidade.

“Eu normalmente ensino 400 alunos”, explica Ng, mas no semestre passado ele ensinou 100 mil em um curso on-line com essa máquina de aprendizado. “Anteriormente, para alcançar tanto alunos, eu teria que lecionar a minha disciplina normal na Universidade Stanford durante 250 anos.”

Bem-vindos à revolução da educação superior. Grandes inovações ocorrem quando de repente se torna possível fazer aquilo que é desesperadamente necessário. Os custos de obtenção de um diploma superior têm aumentado mais rapidamente do que aqueles referentes aos serviços de saúde, de forma que a necessidade de fornecer educação superior de baixo custo e de qualidade tornou-se mais urgente do que nunca. Ao mesmo tempo, em uma economia baseada no conhecimento, a educação superior tornou-se mais vital do que nunca. E graças à disseminação de tecnologias wireless de alta velocidade, internet de banda larga, smartphones, Facebook, computação em nuvem e computadores tablets, o mundo fez uma transição da conectividade para a hiper-conectividade em um período de apenas sete anos.

Finalmente, uma geração que cresceu com essas tecnologias está se sentindo cada vez mais confortável para aprender e interagir com professores por meio de plataformas on-line. A combinação de todos esses fatores gerou o Coursera.org, que foi lançado em 18 de abril, com o apoio de fundos de investimentos do Vale do Silício, conforme o meu colega John Markoff anunciou em primeira mão.

Companhias privadas, como a Phoenix, vêm oferecendo há anos cursos universitários on-line pagos. E universidades como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts e Stanford oferecem palestras on-line gratuitas. O Coursera é o próximo passo nessa tendência: a criação de uma plataforma interativa que permita que as melhores escolas do mundo ofereçam não apenas uma ampla gama de palestras educativas on-line gratuitas, mas também um sistema de avaliação, notas, auxílio individualizado e certificados de conclusão de cursos por menos de US$ 100 (isso parece ser um bom negócio; anuidade de um curso tradicional na Universidade Stanford é de mais de US$ 40 mil).

O Coursera está começando com 40 cursos on-line --desde computação até ciências humanas-- oferecidos por professores da Universidade Stanford, Universidade Princeton, Universidade de Michigan e Universidade da Pensilvânia. “As universidades produzem e são proprietárias do conteúdo, e nós somos a plataforma que contém e transmite esse material”, explica Daphne Koller, professora de ciência da computação da Universidade Stanford que fundou o Coursera, juntamente com Ng, após ter presenciado dezenas de milhares de estudantes acompanhando as palestras gratuitas on-line da universidade.

“Nós trabalharemos também com empregadores para estabelecer uma conexão entre estudantes --somente com o consentimento destes-- e oportunidades de emprego que são apropriadas para as suas habilidades recém-adquiridas. Assim, por exemplo, uma companhia do setor biomédico que estiver procurando alguém que possua conhecimentos nas áreas de programação e biologia computacional poderá nos consultar para ter acesso a estudantes que tiveram um bom desempenho nos nossos cursos de computação em nuvem e genômica. Isso é ótimo para empregadores e empregados. É algo que permite que uma pessoa que teve uma educação menos tradicional obtenha o credenciamento para ter acesso a essas oportunidades.”

O Instituto de Tecnologia de Massachusetts, a Universidade Harvard e companhias privadas, como a Udacity, estão criando plataformas similares. Dentro de cinco anos essa será uma indústria enorme. Embora as palestras sejam em inglês, estudantes têm formado grupos de estudo nos seus próprios países para ajudarem uns aos outros. Os maiores índices de inscrição nesses programas são registrados nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Rússia, na Índia e no Brasil. “Um estudante iraniano me escreveu um e-mail para dizer que encontrou uma maneira de fazer download dos vídeos das aulas, e que estava gravando esses vídeos em DVD e distribuindo-os”, disse Ng na última quinta-feira. “Nós acabamos de ultrapassar a marca de um milhão de inscrições.”

Para tornar o aprendizado mais fácil, o Coursera divide as suas palestras em segmentos curtos e oferece testes on-line, cujas correções podem ser feitas pelo próprio aluno, a fim de cobrir cada ideia nova. O sistema é baseado na honestidade do estudante, mas estão sendo criadas ferramentas para reduzir as trapaças.

Em cada curso, o estudante faz perguntas em um fórum on-line para que todos vejam e, a seguir, votem nas questões e respostas. “Dessa forma, as questões mais úteis vão para o topo da lista, e as ruins acabam lá embaixo”, diz Ng. “Com 100 mil alunos, é possível analisar cada questão. Isso se constitui em uma enorme mina de dados”. Além disso, se um estudante tiver uma pergunta sobre a palestra do dia, e for de manhã no Cairo, mas 3h da madrugada em Stanford, não haverá nenhum problema. “Sempre há alguém acordado em algum lugar para responder à sua pergunta depois que você colocá-la no fórum”, diz Ng. “O tempo médio para se obter uma resposta é de 22 minutos.”

Essas plataformas de aprendizado de alta qualidade poderiam possibilitar que as faculdades comunitárias norte-americanas, que estão enfrentando orçamentos apertados, implementassem uma “inversão” nas salas de aula. Ou seja, fazer downloads dos melhores palestrantes do mundo sobre qualquer assunto e deixar que os seus próprios professores se concentrem apenas em trabalhar individualmente com os alunos. “Isso possibilitará que pessoas que não têm acesso a uma educação de qualidade internacional --devido a limitações de natureza financeira e geográfica ou à falta de tempo-- tenham a oportunidade de obter uma qualidade de vida melhor para si e para os seus familiares”, afirma Koller.

Considerando que vários problemas em todo o mundo devem-se à falta de escolaridade, isso se constitui em uma boa notícia. Que a revolução tenha início!