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Xi Jinping é a esperança chinesa por reformas políticas no país asiático

Thomas Friedman

Em Pequim (China)

19/09/2012 00h01

Aqui está a história da China de hoje, em cinco notícias breves. História Nº 1: Durante grande parte das duas últimas semanas, Xi Jinping, o homem escolhido para novo líder do Partido Comunista da China, desapareceu de vista. Isso mesmo. O homem que será o próximo líder da China – em outubro ou no início de novembro – desapareceu e só reapareceu no sábado (15), em duas fotos tiradas enquanto ele visitava a universidade de agricultura. Elas foram postadas online pela agência de notícias oficial “Xinhua”. Com a recusa do governo chinês em comentar seu paradeiro ou explicar sua ausência, não faltavam rumores. Teria adoecido? Seria uma disputa interna no Partido Comunista? Eu tenho uma teoria: Xi começou a perceber quão difícil será o trabalho de administrar a China na próxima década e se escondeu debaixo da cama. Quem poderia culpá-lo?

As autoridades chinesas se orgulham de como usaram os últimos 30 anos para educar centenas de milhões de seus habitantes, homens e mulheres, e tirá-los da pobreza. Mas entre meus interlocutores chineses, eu encontrei uma crescente sensação de que o que funcionou para a China nos últimos 30 anos –uma mobilização imensa liderada pelo Partido Comunista de mão de obra barata, capital e recursos– não funcionará por muito mais tempo. Há muita esperança de que Xi promoverá as reformas políticas e econômicas há muito adiadas e necessárias para tornar a China uma verdadeira economia de conhecimento, mas não há consenso sobre quais devem ser essas reformas e há vozes demais no diálogo. O monopólio de cima para baixo que o Partido Comunista tinha no diálogo está evaporando. Cada vez mais, o povo chinês, dos microblogueiros aos camponeses e estudantes, está exigindo que sua voz seja ouvida –e as autoridades claramente sentem que precisam responder. A China é no momento um híbrido estranho –uma autocracia com 400 milhões de blogueiros, que são ao mesmo tempo censurados, temidos e ouvidos.

Assim, Xi certamente fará história. Ele será o primeiro líder da China moderna que terá de manter um diálogo bidirecional com o povo chinês, enquanto tenta implantar algumas reformas políticas e econômicas imensas. A necessidade é óbvia.

História Nº 2: Em março, as autoridades chinesas apagaram rapidamente da blogosfera as fotos de um acidente de carro fatal em Pequim, supostamente envolvendo o filho de um aliado estreito do presidente Hu Jintao. O carro era uma Ferrari. O motorista morreu e duas mulheres jovens que estavam com ele ficaram gravemente feridas.

“As fotos do acidente horrível em Pequim foram apagadas poucas horas depois de aparecerem em microblogs e sites”, noticiou o jornal “The Guardian”. “Até mesmo pesquisas com a palavra ‘Ferrari’ foram bloqueadas no popular microblog Sina Weibo. (...) Fontes anônimas identificaram o motorista do carro esporte preto como filho de Ling Jihua, que foi removido da chefia do comitê central do partido neste fim de semana.” Foi o mais recente de uma série de incidentes expondo os estilos de vida opulentos da elite do Partido Comunista.

As autoridades chinesas são sensíveis a essas histórias, porque são a ponta de um iceberg –um sistema cada vez mais corrupto de laços entre o Partido Comunista e bancos, indústrias e monopólios estatais, que permitem a algumas autoridades, suas famílias e “príncipes” se tornarem enormemente ricos e até mesmo canalizar riquezas para fora da China.

“Marx disse que o pior tipo de capitalismo é o capitalismo monopolista, e Lênin disse que o pior tipo de capitalismo monopolista é o capitalismo monopolista estatal, e o estamos praticando ao máximo”, me disse um executivo de Internet chinês.

Como resultado, você ouve cada vez mais que “os riscos da não reforma se tornaram maiores do que os riscos da reforma”. Ninguém está falando de revolução, mas de uma evolução gradual para um sistema mais transparente, baseado em estado de direito, com as pessoas participando de modo mais formal. Mas dar até mesmo esse primeiro passo gradual está provando ser difícil para o Partido Comunista. Pode ser necessária uma crise (o motivo para os profissionais de classe média daqui estarem buscando levar seu dinheiro para o exterior, ou irem eles mesmos para o exterior). Enquanto isso, a desigualdade entre ricos e pobres só aumenta.

História Nº 3: Na semana passada, a agência de notícias oficial “Xinhua” noticiou que as autoridades na cidade de Macheng, na província de Hubei, na região central da China, concordaram em investir US$ 1,4 milhão em novos equipamentos escolares depois que fotos dos alunos e seus pais levando suas próprias mesas e cadeiras para a escola, juntamente com seus livros, “provocaram protestos na Internet. (...) A desigualdade na educação na China se tornou um assunto quente”.

História Nº 4: Hu sugeriu que seria bom se as pessoas em Hong Kong aprendessem mais sobre a China continental, de modo que as autoridades de Hong Kong anunciaram recentemente a adoção compulsória de aulas de “educação nacional e moral” nas escolas de ensino fundamental e médio. Segundo a “CNN”, “o material do curso foi esboçado em um livro escolar do governo chamado ‘O Modelo da China’, que foi distribuído às escolas em julho”. Ele descreve o Partido Comunista da China como “progressista, abnegado e unido” e critica sistemas multipartidários como “levando ao desastre países como os Estados Unidos”. Os estudantes colegiais de Hong Kong, que desfrutam de mais liberdade do que na China continental como parte da devolução do território pelo Reino Unido em 1997, organizaram um protesto contra a “lavagem cerebral” por Pequim, que rapidamente se espalhou para os grupos de pais e universidades. Como resultado, em 8 de setembro, um dia antes das eleições locais, o chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, o homem de Pequim lá, anunciou que o plano de educação compulsória estava sendo abandonado –para evitar uma derrota esmagadora dos candidatos pró-Pequim.

História Nº 5: Há poucas semanas, Deng Yuwen, um editor sênior do “The Study Times”, que é controlado pelo Partido Comunista, publicou uma análise no site da revista de negócios “Caijing”. Segundo a agência de notícias “France-Presse”, Deng argumentou que Hu e o primeiro-ministro Wen Jiabao “criaram ‘mais problemas do que realizações’ em seus 10 anos no poder. O artigo acentuou os 10 problemas enfrentados pela China que, segundo ele, foram causados pela falta de reforma política e que tinham o potencial de causar descontentamento popular, incluindo a reestruturação econômica estagnada, a desigualdade de renda e a poluição. ‘A essência da democracia é como restringir o poder do governo; esse é o motivo mais importante para a China precisar tanto de democracia’, escreveu Deng. ‘A concentração excessiva dos poderes do governo, sem freios e controles, é a principal causa de tantos problemas sociais’”. O artigo provocou um debate na blogosfera da China.

Isso é apenas uma amostra da China que Xi herdará. Essa não é a China comunista do seu avô. Após três décadas de crescimento econômico impressionante, mas quase sem nenhuma reforma política, há um “senso crescente da aproximação de um momento de transição, que exigirá um conjunto diferente de condições para as autoridades chinesas poderem manter a velocidade”, observou Orville Schell, um especialista em China da Asia Society.

As regras serão reescritas. É impossível dizer exatamente como e quando. A única coisa certa é que será por meio de um diálogo bidirecional.