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Em defesa de nossa aposta com o Irã

Thomas Friedman

23/07/2015 00h01

No minuto em que o Irã detectou que os Estados Unidos não estavam dispostos a usar sua força militar esmagadora para limitar o programa nuclear de Teerã - e isso remonta ao governo de George W. Bush, que não aceitava o direito do Irã de dominar o ciclo de combustível nuclear nem estruturava uma opção diplomática ou militar para detê-lo- nenhum acordo perfeitamente favorável para os EUA e seus aliados poderia emergir das negociações com o Irã. O equilíbrio de poder tornou-se demasiado igual.

No entanto, existem diferentes graus de imperfeição, e a opção diplomática estruturada pela equipe de Obama -se adequadamente implementada e aumentada por uma forte diplomacia - serve aos principais interesses norte-americanos melhor do que qualquer opção vinda dos críticos ao acordo.

A diplomacia impede o Irã de produzir material físsil para criar uma arma nuclear por 15 anos e cria um contexto que poderia capacitar as forças mais pragmáticas dentro do país ao longo do tempo - ao preço de restringir, mas não eliminar, a infraestrutura nuclear iraniana e dar um alívio às sanções reforçará Teerã como uma potência regional.

O fato de apoiar este acordo não torna ninguém um Neville Chamberlain; opor-se a ela não o torna um Dr. Strangelove. Ambos os lados têm argumentos legítimos. Mas tendo estudado ambos, acredito que os interesses dos Estados Unidos estão mais bem servidos hoje, quando as autoridades se concentram em tirar o melhor proveito deste acordo e evitam o pior, em vez de afundar o barco. Isso seria um erro que isolaria a nós e não ao Irã, e limitaria as nossas opções a entrar em guerra ou tolerar um Irã muito mais próximo de se tornar uma nação nuclear, sem quaisquer restrições ou fiscais em terra, e com as sanções em ruínas.

“O acordo nuclear é um negócio, não uma grande barganha”, argumentou Robert Litwak, do Centro Wilson, autor de “Iran’s Nuclear Chess” (“Xadrez Nuclear do Irã”). “Obama e o supremo líder do Irã, (aiatolá Ali) Khamenei, estão fazendo apostas tácitas. Obama está defendendo o acordo em termos transacionais (que o acordo trata de um desafio urgente), mas está apostando que desta forma irá capacitar a facção moderada do Irã e colocar o país em uma trajetória social mais favorável. Khamenei está fazendo a aposta oposta -que o regime pode se beneficiar da natureza transacional do acordo (com a suspensão das sanções) e ao mesmo tempo prevenir consequências potencialmente transformadoras do acordo para preservar o estado revolucionário do Irã”.

Podemos, contudo, fazer algumas coisas para aumentar as chances de que o pêndulo vá em nossa direção:

1. Não deixe que este negócio se torne o Obamacare do controle de armas, onde toda energia é dedicada à negociação, mas, em seguida, as ferramentas de execução -neste caso, as tecnologias de fiscalização- não funcionam. O presidente Barack Obama deve nomear uma figura militar respeitada para supervisionar todos os aspectos da aplicação do presente acordo;

2. O Congresso deveria aprovar uma resolução autorizando os presidentes, o atual e os futuros, a usar de força para impedir que o Irã possa se tornar uma nação com armas nucleares. O Irã deve saber desde já que o presidente dos EUA está autorizado a destruir -sem aviso ou negociação - qualquer tentativa de Teerã de montar uma bomba;

3. Concentrar no povo iraniano. As celebrações que ocorreram por este acordo no Irã dizem-nos que “o povo iraniano quer ser uma Coreia do Sul, não uma Coreia do Norte”, observa Karim Sadjadpour, especialista em Irã do Fundo Carnegie. Devemos procurar nos estender em todos os sentidos - vistos, intercâmbio e bolsas de estudo - para fortalecer suas vozes. Minha visita ao Irã me mostrou que os iranianos tiveram o suficiente do fundamentalismo islâmico para saber que querem menos dele e tiveram suficiente democracia para saber que querem mais dela. (A Guarda Revolucionária de linha-dura do Irã sabe muito bem disso, é por isso que ainda está tentando persuadir o líder supremo do Irã a rejeitar este acordo e a abertura para o mundo.); 

4. Evitar uma visão em preto-e-branco do Oriente Médio. A ideia de que o Irã é em todos os sentidos o nosso inimigo e os árabes sunitas são nossos aliados é um erro. A Arábia Saudita foi uma aliada firme dos EUA na Guerra Fria; muitos sauditas são pró-americanos. Mas o compromisso da liderança saudita é tóxico: ele diz para o povo saudita que a tribo al-Saud tem o direito de governar e, em troca, o estabelecimento religioso Wahhabi da Arábia recebe bilhões de dólares para transformar a face do islamismo sunita, que deixa de ser uma fé aberta e moderna para se tornar puritana, contra as mulheres, contra os xiitas e contra o pluralismo. Os sauditas perderam o controle dessa transformação puritana salafista do islã, que se transformou na ideologia que inspirou os sequestradores de 11 de setembro -11 dos 19 sequestradores eram sauditas- e do Estado Islâmico.

O Irã ajudou os EUA a derrubarem o regime do talibã no Afeganistão e, ao mesmo tempo, Teerã e a Hezbollah têm apoiado o regime sírio enquanto este perpetra um genocídio contra o seu próprio povo, em sua maioria sunitas sírios. Precisamos confrontar o comportamento regional do Irã quando contradiz os nossos interesses, mas nos alinhar com ele quando concorda com os nossos interesses. Queremos equilibrar os sunitas e xiitas autocráticos, não promover qualquer um. Nenhum compartilha dos nossos valores.

Finalmente, quando se trata de o Oriente Médio em geral, precisamos conter, ampliar e inovar: conter as forças mais agressivas, reforçar líderes ou pessoas com propostas decentes e inovar como loucos no domínio da energia para manter os preços baixos, reduzir o dinheiro do petróleo para maus atores e diminuir nossa exposição a uma região que vai estar em tumulto por um longo, longo, longo tempo.

Tradução: Deborah Weinberg