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Dá para saber se haverá mais peixes ou plástico nos oceanos em 2050?

Wu Lixin/Xinhua
Imagem: Wu Lixin/Xinhua

Leo Hornak

28/03/2016 07h50

Um preocupante relatório, calculando que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos, foi divulgado recentemente pela Fundação Ellen MacArthur e o Fórum Econômico Mundial.

Chamado The New Plastics Economy ("A Nova Economia do Plástico", em tradução livre), o relatório estimou que, no ritmo atual, os mares terão, em termos de peso, mais plástico do que peixes na metade deste século.

O relatório ganhou as manchetes de vários jornais, mas acabou sendo questionado e levantando a questão: como medir a quantidade de plástico e como contar os peixes?

O problema é que o próprio relatório reconhece que é difícil fazer uma medição precisa nos dois casos.

No caso dos plásticos, o estudo faz referência a um levantamento publicado em 2015 por Jenna Jambeck, professora da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos. Ela tentou fazer um censo global da poluição por plásticos e estimar o quanto disso vai parar nos oceanos.

O estudo de Jambeck analisa estimativas do total de lixo em todos os países que não são totalmente cercados por terra e, a partir disso, estima o quanto deste lixo pode ser plástico, o quanto é reciclado e assim por diante.

Mas para estimar o quanto deste plástico vai parar no mar, o estudo levou em conta apenas uma área - a Baía de San Francisco (EUA).

"Isso não representa o resto do planeta, então você pode ver o potencial para grandes divergências neste cálculo", criticou o professor Callum Roberts, da Universidade de York, na Grã-Bretanha.

O que a Fundação Ellen MacArthur fez foi pegar a pesquisa de Jambeck, que faz previsões apenas até 2025, e projetar essas estimativas até 2050.

Implícito

Fernando de Noronha é conhecido também pela abundância de peixes em suas águas, devido à proibição de pesca na área protegida. Desde 1988, esse arquipélago de origem vulcânica e com apenas 26 km² de área é declarado Parque Nacional Marinho - Tati Vasconcelos/All Angle/Divulgação - Tati Vasconcelos/All Angle/Divulgação
Imagem: Tati Vasconcelos/All Angle/Divulgação
Sendo assim, quanto plástico teremos nos oceanos em 2050?

Surpreendentemente, isso não é especificado no relatório, mas este deixa implícito que haveria um total de 750 milhões de toneladas de plástico nos oceanos na metade do século.

Quanto à estimativa dos peixes, o relatório não estima um número de toneladas esperadas de peixes nos mares em 2050 e não cita pesquisas sobre essas populações.

No entanto, um diagrama no relatório prevê uma proporção plástico/peixes de "maior do que 1:1" em peso em 2050.

Questionada pela BBC a respeito de seus números, a Fundação Ellen MacArthur enviou um documento chamado Background To Key Statistics e também uma nova versão do relatório publicada em 29 de janeiro deste ano. Os dois documentos trazem novos dados (nenhum dos autores estava disponível para entrevistas).

A Fundação atualizou o número de peixes no mar em 2050 para cerca de 899 milhões de toneladas.

Mas também aumentou a estimativa para a quantidade de plástico no oceano em 2050 para entre 850 milhões e 950 milhões de toneladas, ou cerca de 25% a mais do que originalmente previsto. Então, apesar de haver uma quantidade um pouco maior de plástico no mar em 2050, segundo estes números, a proporção continua sendo de um para um.

No entanto, eis o problema real: contar peixes é algo complicado.

Os novos cálculos da fundação são baseados em um estudo de 2008 liderado por Simon Jennings, do Centro para Meio Ambiente, Pesca e Ciência da Aquacultura do Reino Unido. A equipe dele usou imagens de satélite para medir a extensão de plantas microscópicas conhecidas como fitoplâncton em todos os oceanos do mundo.

Pelo fato de os fitoplânctons serem tão abundantes, eles alteram a cor da superfície do oceano em grandes áreas, e essas mudanças podem ser vistas do espaço.

E como quase toda a cadeia alimentar marinha é dependente do fitoplâncton, este dado por ser usado para estimar o total de toneladas de peixes vivendo nos mares. É desse trabalho que vem o número da Fundação Ellen MacArthur, de 899 milhões de toneladas de peixes.

Revisão

25.mar.2015 - Até a hora da pesca, milhares de peixes beijupirá (ou cobia) são armazenados em cercados em alto mar, na Ilha de Culebra, Porto Rico. A aquacultura parece ser uma boa aposta para fornecer uma fonte de proteína animal para 9 milhões de pessoas no futuro - Brian J. Skerry/National Geographic Creative - Brian J. Skerry/National Geographic Creative
Imagem: Brian J. Skerry/National Geographic Creative
No entanto, em 2015, Simon Jennings reviu seu próprio estudo e chegou a uma conclusão muito diferente. Ele disse à BBC que agora ele acredita que o fitoplâncton pode, potencialmente, sustentar quantidades muito maiores de vida marinha do que ele pensava anteriormente.

O novo estudo não diferencia entre peixes e outros predadores marinhos, mas conclui que pode haver entre 2 bilhões de toneladas e 10,4 bilhões de toneladas de criaturas marinhas nos oceanos.

"No momento não temos confiança absoluta em nossos métodos para determinar qual a proporção (desse volume) é formada de peixes. É um número muito incerto para prever", afirmou o pesquisador.

A previsão da Fundação Ellen MacArthur das previsões para plásticos também merece atenção.

Jenna Jambeck, que liderou o estudo sobre poluição por plásticos citado pela fundação, disse à BBC que não estava estava confiante com o método da fundação, de projetar os números de seu trabalho de 2025 para 2050.

Então: quanto de plástico há nos oceanos e quanto vai haver em 2050? Não se sabe, mas provavelmente é muito. Quanto de peixe? Também não sabemos, mas com certeza é muito.

E quando um vai superar o outro? Definitivamente não se sabe. Mas todas estas questões trazem à tona um problema muito real: sabemos que o plástico, quando vai para os oceanos, pode levar séculos para se decompor, e seu volume está em constante crescimento.