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No Dia Mundial Sem Carro, SP tem trânsito dentro da média; repórter aérea analisa a cidade do alto

UOL Notícias sobrevoa a cidade de São Paulo no Dia Mundial Sem Carro; VEJA AS FOTOS - Fabiana Uchinaka/UOL
UOL Notícias sobrevoa a cidade de São Paulo no Dia Mundial Sem Carro; VEJA AS FOTOS Imagem: Fabiana Uchinaka/UOL

Fabiana Uchinaka<br> Do UOL Notícias

Em São Paulo

22/09/2010 12h57

Manhã de sol e trânsito relativamente bom em São Paulo. Temperatura na casa dos 20ºC. Marginais Pinheiros e Tietê com trânsito carregado, mas fluindo. Sem problemas na chegada à capital. Avenida Brás Leme congestionada. Corredor Norte-Sul com lentidão. De dentro do carro e a bordo do helicóptero “Vermelhinho”, da rádio Jovem Pan, o UOL Notícias conferiu a movimentação da cidade neste Dia Mundial Sem Carro e constatou que os congestionamentos nas principais vias ficaram dentro de média para uma quarta-feira.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), não há como calcular o impacto da data no trânsito, mas por volta de 8h30 havia 68 km de lentidão (7,9%), índice abaixo da média máxima (10,2%) e um pouco acima da média mínima (7,5%) para o horário de pico.

“Infelizmente, o Dia Mundial Sem Carro não muda nada”, ressalta a repórter aérea Renata Perobelli Borba, que há 21 anos faz a cobertura do trânsito de São Paulo, sete deles de dentro do “Vermelhinho”.

Nesta quarta-feira (22), ela acordou às 4h50 e às 6h já estava narrando ao vivo a situação das ruas da capital. “O trânsito começa nesse horário. E de uns tempos para cá tem começado até mais cedo, porque colocaram equipamentos na marginal e quem antes driblava o rodízio agora está saindo mais cedo de casa”, conta.

Todos os dias, a jornalista percorre cerca de 300 km no ar e 200 km no chão para inspecionar as vias da cidade que ela conhece como poucos. “Nesses vinte anos a cidade mudou bastante. Existem menos áreas verdes, os bairros se verticalizaram, as encostas foram ocupadas. Depois da construção do Rodoanel, a área do entorno foi rapidamente ocupada por empresas de logística. Dá para ver tudo isso”, afirma.

Além dos carros, os olhos treinados também detectam a chegada da primavera e os ipês roxos da região do Ibirapuera, a sucata da Varig acumulada no aeroporto de Congonhas, os usuários de drogas na Cracolândia e até a carcaça de um carro dentro do Piscinão do Córrego das Águas Espraiadas.

Renata é capaz de dizer quando a construção de um prédio vai atrapalhar o trânsito de uma área ou onde estão os gargalos que não foram resolvidos pelas novas pistas da marginal Tietê. Também sabe que um problema na zona norte pode provocar um mega congestionamento na cidade inteira. “Uma coisa, lá na frente, que você não tem nem noção de que está acontecendo pode estar travando tudo. Você acha que não é possível, mas é”, diz.

De olho no trânsito

  • Fabiana Uchinaka/UOL

    A repórter aérea da Jovem Pan, Renata Perobelli Borba, acompanha há 21 anos o trânsito em São Paulo e dá dicas para se livrar dos congesionamentos

Segundo ela, o trânsito melhorou, mesmo que temporariamente, depois que novas regras de circulação de veículos foram adotadas e a marginal ganhou novas pistas. “Mas, em alguns lugares ainda existem problemas e as novas pistas só fazem as pessoas chegarem mais rápido ao congestionamento. O acesso à ponte da Casa Verde ainda trava a marginal nos dois sentidos, por exemplo. Já a proibição dos caminhões é um ponto complicado, porque os caminhões estão enchendo as ruas dos bairros. Além disso, o que a gente vê é que esses caminhões menores provocam mais acidentes, porque são mais leves, correm mais e costuram o trânsito”, analisa.

E, na palavra da especialista, quem são os maiores vilões do trânsito de São Paulo? “Os motoqueiros acidentados, os carros quebrados e os carrinheiros [também conhecidos como carroceiros, são os coletores de materiais recicláveis]”, responde. Quando esses eventos acontecem, a melhor opção é pegar as rotas alternativas. “A avenida Santo Amaro, apesar dos faróis, é uma boa opção. Hoje, a marginal Tietê também é um caminho. Para quem sai da zona norte em direção à zona sul, vale ir pelo centro”, explica.

Renata domina o mapa de São Paulo, mas lembra que no começou sofreu para dar conta dos nomes das ruas. “No começo a gente só sabe o lugar onde mora. Mas, hoje em dia, tem GPS até no celular. Antigamente, a gente usava sistema de rádio. Eu já cheguei a cobrir enchente usando orelhão”, ri.

Você foi aderiu ao Dia Mundial Sem Carro?

Mesmo com toda a experiência, os ouvintes reclamam quando ela se confunde e chama a avenida Salim Farah Maluf de algo como Roberto Salim Maluf. Ou quando chama as ruas pelo nome antigo, caso da avenida Jornalista Roberto Marinho, ex-Água Espraiada. “Também sofro para falar avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello”, confessa. “E tem pegadinha. Às vezes a gente vê a marginal livre e fala isso para o ouvinte. Mas, quando vai ver, está livre porque um acidente está bloqueando a passagem dos carros. Tem que tomar cuidado”.

Kit sobrevivência
Para quem passa o dia inteiro vigiando a cidade, um “kit sobrevivência” é essencial. Além de celular e rádio, a repórter carrega galocha, guarda-chuva, boné, binóculo, pilhas, bateria, máquina fotográfica, filmadora, óculos escuros, protetor solar, água e fruta na mochila. No inverno, a bagagem ganha também uma mantinha. “Preciso trabalhar confortável e lá em cima a sensação térmica é de mais frio”, explica.

A jornalista também nunca sabe quando vai precisar passar duas horas sobrevoando a cidade, como aconteceu nesta terça-feira, dia de caos no metrô paulista. “Ia de uma estação a outra. Via que em uma não havia mais pessoas na via, mas na outra estava cheio de gente. Via os pontos de ônibus lotados. De cima, eu tinha a verdadeira dimensão do problema e sabia que não seria resolvido rapidamente”, afirma.

Por outro lado, o trabalho faz com que ela conheça as melhores padarias e os mais inusitados banheiros de São Paulo. "A gente faz a pausa para o café e já aproveita para repercutir um assunto com as pessoas que estão na padaria", diz. "Uma vez, estava cobrindo uma rebelião e precisei usar o banheiro de um casebre que nem porta tinha. Faz parte", diverte-se.

Mas, mesmo longe do barulho e protegida pelo céu da cidade, Renata diz que a tensão pode tomar conta da cobertura jornalística e que qualquer emoção transparece na voz. Ela lembra quando precisou acompanhar o acidente aéreo com os integrantes dos Mamonas Assassinas, em 1996, a queda do helicóptero "Águia Dourada", da TV Record, em fevereiro deste ano, e o acidente com o avião da Tam em Congonhas, em 2007.

“Meus amigos sabem se eu estou bem só pela voz. Tenho que controlar a emoção. Ontem, por exemplo, na história do metrô, eu sabia que a situação era de caos, mas pensava: ‘não posso gerar pânico’”, diz.