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SP ganha quase 1.200 novos automóveis por dia; para analista, carro é visto como status

<b>Na capital, o incremento foi de 31% em 12 anos, um acréscimo total de 1.173.922 carros nas ruas</b> - Vanessa Carvalho/News Free/AE
<b>Na capital, o incremento foi de 31% em 12 anos, um acréscimo total de 1.173.922 carros nas ruas</b> Imagem: Vanessa Carvalho/News Free/AE

Raquel Maldonado<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

22/09/2010 07h00

Nesta quarta-feira (22), enquanto o mundo celebra o Dia Mundial Sem Carro, em uma tentativa de conscientizar a população dos problemas causados pelo uso intenso de automóveis, as ruas do Estado de São Paulo devem ganhar quase 1.200 carros novos.

Segundo dados do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito), a frota de automóveis no Estado mais rico do país cresceu 64% nos últimos 12 anos. Neste período, o número de carros em circulação passou de 8,1 milhões para 13,3 milhões, ou seja, uma média de 1.184 novos automóveis por dia.

Na capital, o incremento foi de 31% no mesmo período, um acréscimo total de 1,2 milhão de carros nas ruas.

Segundo Carlos Alberto Bandeira Guimarães, professor da área de transporte da Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, o aumento da frota no Estado pode ser explicado pelo crescimento do poder econômico da população do interior, motivada, entre outros fatores, pela interiorização da indústria.

“O aumento de carros nas ruas está ligado fortemente à melhoria da renda. Nos últimos anos, a riqueza cresceu mais rápido no interior do que na capital, devido à fixação de várias indústrias na região e também pelo aumento dos salários das atividades ligadas ao setor agrícola. Na nossa sociedade, carro é sinônimo de status, uma representação de que o sujeito é bem-sucedido”, explicou Guimarães.

Para o professor, a facilidade de aquisição de veículos também ajuda a explicar o aumento da frota. “Hoje em dia a gente pode comprar um carro financiado em até 72 meses. Ficou muito mais fácil.”

Guimarães considera razoável o crescimento da frota na capital, mesmo que tenha sido a metade do observado em todo o Estado (31% contra 64%). Entre as alternativas para diminuir o trânsito nos grandes centros, o professor da Unicamp aponta a cobrança de pedágio urbano, ainda que isso tenha um custo político alto.

“A médio prazo, o pedágio urbano e a limitação da circulação de veículos em áreas específicas poderiam ser alternativas interessantes para São Paulo. Mas nada disso será suficiente se o poder público não privilegiar a melhoria do transporte público”, afirmou o professor.

Entretanto, Guimarães defende que, ainda que a população tivesse acesso a ônibus e metrô de qualidade, ela não deixaria de comprar carro. “O uso do carro na nossa sociedade é algo muito cultural. O simples fato de ter transporte público de qualidade não significa que vamos deixar o carro em casa. Um exemplo disso é Londres que tem muitos quilômetros de metrô e ainda assim precisa cobrar pedágio urbano”, acrescentou.

Para ele, além de aumentar a quantidade de metrô e melhorar as condições dos ônibus, seria preciso a divulgação de campanhas paralelas para conscientizar a população da importância de deixar o carro em casa.

“Se a população tem acesso a transporte de qualidade, campanhas como o Dia Mundial Sem Carro realmente ajudam a conscientizar as pessoas e impulsiona a tomada de ação do poder público”, disse Guimarães.

Motos
Nem só a frota de carros tem crescido. Nos últimos 12 anos, a quantidade de motocicletas mais que triplicou no Estado de São Paulo. Segundo o Detran, com um aumento de 219%, esse foi o tipo de veículo que sofreu o maior acréscimo no período.

Enquanto que em janeiro de 1998 era 1,3 milhão de motos circulando no Estado, em janeiro deste ano, eram 3,8 milhões. Na capital, o incremento também foi significativo: no mesmo período a frota de motocicletas aumentou 175% na cidade (passou de 299.755 para 823.657).

Segundo o professor da Unicamp, esse aumento pode ser explicado principalmente com a ajuda de dois fatores: o barateamento e facilidade de aquisição das motocicletas, e a tentativa de ganhar mais fluidez no trânsito.

“Muitos jovens trabalhadores e estudantes estão optando pelas motos, pois além de mais baratas, em geral o custo diário da viagem compensa mais do que utilizar ônibus e metrô. Outro ponto positivo é a maior mobilidade que este tipo de veículo tem em comparação ao carro de passeio”, finalizou.