Todos os dias, duas crianças sofrem violência ou abuso sexual em Goiânia
Duas crianças sofrem violência ou abuso sexual por dia em Goiânia. Nos seis primeiros meses do ano foram registrados, só na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia (GO), 350 boletins de ocorrência, o que mostra mais de dois casos diários apenas na região da capital. No mesmo período do ano passado houve 254 registros.
Um dos últimos relatos foi o de um menino de dois anos que sofreu arranhões, queimaduras, cortes no pênis e enforcamento em Hidrolândia (25 km de Goiânia). A violência foi praticada pelo pai e pela madrasta da criança, que foram investigados pela polícia por mais de 90 dias.
A constante participação de familiares nos crimes é outro dado que preocupa as autoridades. A delegada Ana Elisa Gomes afirma que cerca de 90% dos abusos são cometidos por pais, avós, tios ou companheiros, namorados e outras pessoas que se relacionam com a família das vítimas.
A assistente social Márcia Pires disse que na maioria desses casos com crianças e familiares, há o envolvimento de drogas. “Em quase 100% dos casos que a gente ouve falar os pais são drogados e quase nunca a família está completa. Ou é o pai com a madrasta ou a mãe com o companheiro dela”.
Alguns casos
No final de maio, o menino Kauã, de quatro anos, foi afogado, abusado sexualmente e morto com pedradas no rosto, em Aparecida de Goiânia (GO). O menor teria sido enganado por um maior e um menor de 16 anos que lhe prometeram uma pipa.
Em Goianira (20 quilômetros de Goiânia), uma garota de seis anos e estava na casa da avó, sofreu com o tio que foi flagrado tentando enforcá-la e estuprá-la. No começo de junho, depois de ser molestado e espancado pelo pai, um bebê de cinco meses morreu.
A DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia) apresentou os números de algumas das principais ocorrências registradas até maio de 2011. Ameaça contra criança e adolescente foram 117; 46 lesões dolosas e 27 estupros. Durante todo o ano de 2010, foram registradas quase 7.000 ocorrências em Goiás.
É possível ver que muitos desses menores, vítimas de algum tipo de agressão, ficam sem ter para onde ir, considerando a grande incidência de casos envolvendo algum membro da família como agressor.
Não basta apenas conscientizar, é preciso ação dos conselhos tutelares, defende Márcia. “Já existe muita luta, mas ainda é preciso fazer muito. Para a criança, a situação deve ser outra, com carinho, respeito e confiança”. Ela ainda lembrou que o abuso causa traumas que podem ser levados para toda a vida.
Violência em família
Nos casos de abuso sexual, muito do que ocorre na relação intra-familiar se dá por conta da relação de confiança, afirma a psicóloga forense Alice Silveira. “Nunca se espera isso dos pais, então a carícia a mais pode não ser entendida pela criança como algo perigoso, criminoso.”
O que chama atenção é que normalmente pessoas que cometem esse tipo de ato também sofreram abuso, têm algum distúrbio de personalidade ou transtorno do ponto de vista da convivência social, alertou a psicóloga.
Os agressores tentam justificar seus atos como se as crianças os estivessem seduzindo. “Para quem comete um ato de abuso, a culpa nunca é deles, sempre da criança”, relatou a psicóloga que lida com casos de abusos no Tribunal de Justiça de Goiás.
Segundo ela, muitos negam terem cometido a violência, mas outros reconhecem. “Aí já é caso de um transtorno maior”. As vítimas, que são as crianças, geralmente negam, por medo de retaliações.
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