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Todos os dias, duas crianças sofrem violência ou abuso sexual em Goiânia

Rafhael Borges

Especial para o UOL Notícias<br> Em Goiânia

06/07/2011 16h35

Duas crianças sofrem violência ou abuso sexual por dia em Goiânia. Nos seis primeiros meses do ano foram registrados, só na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia (GO), 350 boletins de ocorrência, o que mostra mais de dois casos diários apenas na região da capital. No mesmo período do ano passado houve 254 registros.

Um dos últimos relatos foi o de um menino de dois anos que sofreu arranhões, queimaduras, cortes no pênis e enforcamento em Hidrolândia (25 km de Goiânia). A violência foi praticada pelo pai e pela madrasta da criança, que foram investigados pela polícia por mais de 90 dias.

A constante participação de familiares nos crimes é outro dado que preocupa as autoridades. A delegada Ana Elisa Gomes afirma que cerca de 90% dos abusos são cometidos por pais, avós, tios ou companheiros, namorados e outras pessoas que se relacionam com a família das vítimas.

A assistente social Márcia Pires disse que na maioria desses casos com crianças e familiares, há o envolvimento de drogas. “Em quase 100% dos casos que a gente ouve falar os pais são drogados e quase nunca a família está completa. Ou é o pai com a madrasta ou a mãe com o companheiro dela”.

Alguns casos

No final de maio, o menino Kauã, de quatro anos, foi afogado, abusado sexualmente e morto com pedradas no rosto, em Aparecida de Goiânia (GO). O menor teria sido enganado por um maior e um menor de 16 anos que lhe prometeram uma pipa.

Em Goianira (20 quilômetros de Goiânia), uma garota de seis anos e estava na casa da avó, sofreu com o tio que foi flagrado tentando enforcá-la e estuprá-la. No começo de junho, depois de ser molestado e espancado pelo pai, um bebê de cinco meses morreu.

A DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia) apresentou os números de algumas das principais ocorrências registradas até maio de 2011. Ameaça contra criança e adolescente foram 117; 46 lesões dolosas e 27 estupros. Durante todo o ano de 2010, foram registradas quase 7.000 ocorrências em Goiás.

É possível ver que muitos desses menores, vítimas de algum tipo de agressão, ficam sem ter para onde ir, considerando a grande incidência de casos envolvendo algum membro da família como agressor.

Não basta apenas conscientizar, é preciso ação dos conselhos tutelares, defende Márcia. “Já existe muita luta, mas ainda é preciso fazer muito. Para a criança, a situação deve ser outra, com carinho, respeito e confiança”. Ela ainda lembrou que o abuso causa traumas que podem ser levados para toda a vida.

Violência em família

Nos casos de abuso sexual, muito do que ocorre na relação intra-familiar se dá por conta da relação de confiança, afirma a psicóloga forense Alice Silveira. “Nunca se espera isso dos pais, então a carícia a mais pode não ser entendida pela criança como algo perigoso, criminoso.”

O que chama atenção é que normalmente pessoas que cometem esse tipo de ato também sofreram abuso, têm algum distúrbio de personalidade ou transtorno do ponto de vista da convivência social, alertou a psicóloga.

Os agressores tentam justificar seus atos como se as crianças os estivessem seduzindo. “Para quem comete um ato de abuso, a culpa nunca é deles, sempre da criança”, relatou a psicóloga que lida com casos de abusos no Tribunal de Justiça de Goiás.

Segundo ela, muitos negam terem cometido a violência, mas outros reconhecem. “Aí já é caso de um transtorno maior”. As vítimas, que são as crianças, geralmente negam, por medo de retaliações.

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