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Jornalista que matou criança durante discussão de trânsito é condenado a 14 anos de prisão

Celso Bejarano

Do UOL Notícias, em Campo Grande

29/11/2011 19h15Atualizada em 29/11/2011 19h28

Em julgamento que durou sete horas, o jornalista Agnaldo Ferreira Gonçalves, 62, foi condenado nesta terça-feira (29) a cumprir, em regime fechado, 14 anos e cinco meses de prisão por ter matado uma criança durante uma discussão de trânsito. O menino de 2 anos foi morto com um tiro em uma das ruas centrais de Campo Grande (MS), em novembro de 2009.

Antes de atirar, o jornalista –que estava preso desde setembro do ano passado– havia discutido num semáforo com o tio da vítima. Logo adiante, ele disparou tiros contra o veículo, que era ocupado por quatro pessoas. Os projéteis atingiram o garoto e o avô, que sobreviveu.

Para os jurados, o réu praticou três crimes: homicídio simples, três tentativas de homicídio e ainda porte ilegal de arma.

Gonçalves, dono de um jornal semanário, tentou se livrar da pena ao dizer durante a audiência que, após discutir com o tio da vítima –Aldemir Pedra, 23– ele desceu do carro, levou um tapa no rosto e ainda sofreu ameaças do homem. Ele teria agido sob forte emoção, segundo seu defensor, o advogado Valdir Custódio.

O réu disse ainda que não sabia que havia crianças dentro do veículo e, antes de atirar, achou que o outro motorista também estaria armado e ia fazer disparos contra seu carro.

A versão do jornalista foi contestada pelo tio do garoto: Pedra afirmou, ao depor no julgamento, que demorou a sair com o veículo assim que o semáforo abriu e isso teria irritado o réu, que buzinou.

Daí em diante, os dois discutiram por quatro quarteirões, até o jornalista, num outro semáforo, sacar a arma e disparar quatro tiros contra o veículo.

Antes dos disparos, Gonçalves e Pedra desceram e trocaram ofensas. O réu, segundo o tio, teria dito: “Sou jornalista e tenho poder de polícia”. Os dois teriam trocado empurrões e retornado aos veículos, mas o bate-boca continuou.

Os tiros atingiram o pescoço do menino, que sentava no banco de trás e o queixo do avô, que seguia no banco dianteiro. A criança morreu quatro horas depois –já o avô foi submetido a uma cirurgia e hoje tem dificuldades para falar.

Prisões

Duas horas após os disparos, o jornalista foi à delegacia para registrar a ocorrência como ameaça. Lá, durante depoimento, soube que a criança tinha morrido. Ele então ficou detido por 80 dias, mas conseguiu um habeas corpus.

O homem, contudo, foi preso de novo em setembro do ano passado. Isso porque, depois de solto, Gonçalves tentou forjar documentos indicando que ele havia se separado da mulher, segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MPE). A suposta manobra, segundo o MPE, seria um meio de o jornalista escapar de uma ação movida pela família da criança, que pede R$ 1,3 milhão de indenização pela morte do menino.

Com a denúncia, a Justiça decretou a prisão do jornalista, mas, o acusado conseguiu novamente um habeas o corpus para mantê-lo em liberdade. Depois disso, Gonçalves mudou-se para Praia Grande (SP), sem avisar a Justiça. Por conta disso, ele está detido desde setembro do ano passado.

O julgamento do jornalista foi assistido por ao menos cem pessoas. Familiares da criança disseram que se sentiram “aliviados” a ouvirem a sentença.