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Brasileiro aponta falha no socorro aos turistas em naufrágio de navio na Itália

Do UOL, em Porto Alegre

15/01/2012 16h36

Um dos brasileiros que se salvaram no naufrágio do navio cruzeiro na costa italiana na sexta-feira (13), o advogado gaúcho Luis Augusto Luz, 47 anos, avalia como imprudência as ações tomadas pelo comando do Costa Concordia logo após o choque com as rochas. “O comandante comunicou pelo rádio interno do navio que seria um problema no gerador, quando, na verdade, houve uma colisão.”

Luz, que estava acompanhado pela noiva e pela mãe, chegou ao Brasil na manhã deste domingo (15). Ele desembarcou em um grupo de cinco turistas no aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre.

Ele conta que fazia compras em uma loja a bordo quando percebeu que a embarcação se aproximava perigosamente da costa, na ilha de Giglio, no Mar Tirreno. “Nós estávamos viajando tão próximo às rochas que não havia um espaço prudente para que houvesse o deslocamento da embarcação. O navio estava quase na margem.”

O advogado relata que o aviso para deixar o navio pegou todos desprevenidos. “Simplesmente anunciaram que era para abandonar o barco. Evidentemente isso gerou pânico total.” Com o corre corre, muita coisa ficou para trás: “Não deu tempo de resgatar nada da cabine. Todos nós deixamos passaporte, máquinas fotográficas, saímos apenas com a roupa do corpo”. Segundo o brasileiro, fazia 8°C, com uma sensação térmica beirando 0°C.

O navio partiu na sexta-feira de Civitavecchia, na região de Roma, para navegar por uma semana pelo Mar Mediterrâneo. À noite, a embarcação se chocou contra uma rocha e encalhou em um banco de areia próximo à ilha de Giglio, na Toscana. O casco do Costa Concordia foi perfurado fazendo com que ele tombasse para a direita.

Viajavam 4.231 pessoas, entre elas 47 passageiros e seis tripulantes brasileiros. Todos sobreviveram e passam bem. Até agora, foram encontrados cinco corpos, e ainda há desaparecidos.

Passageiros ficam tensos ao tentar sair em bote de navio

Causas

O ministro italiano da Defesa, Giampaolo Di Paola, declarou hoje, em entrevista à emissora de TV Rai Tre, que o naufrágio do navio Costa Concordia foi "um enorme erro humano que teve consequências dramáticas, infelizmente".

"Navios daquela dimensão não podem passar perto de uma costa onde se sabe ser rasa", afirmou. "Estão em curso inspeções na parte emersa, pode haver outros passageiros presos", disse o ministro.

Por sua vez, o procurador-chefe de Grosseto, Francesco Verusio, reiterou que "a caixa-preta vai nos dizer sobre as manobras que foram feitas pelo navio antes do acidente e imediatamente após" e o resultado de sua análise deve ficar pronto em "alguns dias".

"Estamos avaliando as eventuais responsabilidades de outras pessoas que poderiam ser responsáveis por essas manobras tão arriscadas. Esperamos um relatório da Capitania dos Portos de Livorno que, nestas circunstâncias, é preciso, pontual e muito eficiente".

Superstição no mar

Pesadelo

A terceira vítima resgatada com vida do navio Costa Concordia, o comissário-chefe de bordo, Marrico Giampetroni, afirmou: "sempre esperei pela salvação, mas vivi 36 horas de pesadelo".

O comissário-chefe relatou sua dramática experiência já no hospital de Grosseto, para o qual foi levado de helicóptero logo depois de ser resgatado. A mãe de Giampetroni afirmou que o filho contou a ela que se empenhou durante horas para ajudar as pessoas a localizar os botes salva-vidas e que, ao descer um andar para verificar se não tinha ficado mais ninguém nas cabines, caiu e quebrou uma perna, o que o deixou imobilizado.

"Minhas irmãs me informaram hoje de manhã que Marrico estava vivo", explicou a mulher. "Assim que soube, chorei. Meu filho é muito cuidadoso, me liga sempre para me manter informada, motivo pelo qual a falta de uma ligação sua me fez pensar o pior. Rezei dia e noite", disse a mãe.

Comandante preso

O comandante do Costa Concordia foi detido e interrogado pelo procurador chefe da localidade, Francesco Verusio. Francesco Schettino, de 52 nos e natural de Nápoles, foi ouvido por várias horas por Verusio. A promotoria o acusa de homicídio culposo múltiplo, naufrágio e abandono do navio enquanto muitos passageiros ainda se encontravam na embarcação.

De acordo com a imprensa italiana, o comandante deixou o cruzeiro por volta das 23h30 (hora local), quando parte dos tripulantes e dos passageiros ainda aguardavam para serem levados. As últimas pessoas só deixaram o navio por volta das 2h30 e 3h deste sábado.

Outro tripulante do Costa Concordia, o primeiro oficial da ponte de comande, Ciro Ambrosi, também está sendo investigado, de acordo com a imprensa local.

A caixa-preta da embarcação, na qual se encontram as gravações das conversas entre o navio e o porto de Livorno, o mais importante da região, já foi recuperada, informou o procurador chefe. Verusio disse que o impacto com as rochas aconteceu às 21h45 e que as capitanias dos portos próximos não foram avisadas imediatamente.

De acordo com a primeira reconstituição feita por Verusio, o capitão se aproximou demais da ilha de Giglio, fez uma manobra errada e o lado esquerdo do casco do navio se chocou com as rochas. Em pouco tempo, muita água entrou na embarcação.

De acordo com a companhia proprietária do navio, a Costa Cruzeiros, o comandante Schettino assegurou neste sábado que as pedras não apareciam no mapa que estava no Costa Concordia.

O acidente trouxe à memória o desastre do Titanic, a mais emblemática tragédia marítima da história. Mais de 1.500 pessoas morreram no naufrágio que virou filme, o luxuoso transatlântico britânico que colidiu no dia 15 de abril de 1912 contra um iceberg em frente à ilha de Terra Nova, no Atlântico Norte.

O acidente mais grave da história da navegação comercial ocorreu em 20 de dezembro de 1987, no litoral da ilha filipina de Leyte, quando o choque entre a embarcação Doña Paz e um petroleiro causou a morte de ao menos 4.300.

A maior catástrofe naval ocorrida na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial envolveu a embarcação Estonia, que afundou em 28 de setembro de 1994 no Mar Báltico provocando a morte de 852 pessoas. (Com agências)