Topo

Polícia já ouviu 16 testemunhas sobre desabamento de prédios no centro do Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

30/01/2012 13h05

A Polícia Civil do Rio de Janeiro ouviu neste fim de semana mais duas pessoas que trabalharam no edifício Liberdade, o maior entre os três que desabaram na semana passada na rua Treze de Maio, no centro do Rio de Janeiro. O conteúdo dos depoimentos não foi divulgado. O acidente provocou 17 mortes já confirmadas e deixou cinco pessoas desaparecidas, segundo contagem da Defesa Civil municipal.

De acordo com o delegado da 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá), Alcides Alves Pereira, 16 testemunhas apresentaram suas versões, entre as quais o síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, um operário que foi resgatado após buscar proteção no elevador do prédio, o auxiliar de pedreiro Alexandro Ferreira da Silva, entre outros.

O delegado confirmou que "pessoas serão ouvidas" nesta segunda-feira (30), porém não especificou o número de depoentes nem a relevância que estes possuem para a investigação. Os horários também não foram divulgados.

Neste domingo (29), Pereira visitou o local do desastre e analisou o trabalho dos bombeiros durante 20 minutos. Após conversar com peritos que o acompanhavam e profissionais envolvidos no processo de resgate, o delegado deixou o local sem falar com a imprensa.

Desde a última semana, a Polícia Civil evita apontar potenciais causas e possíveis culpados pelo desastre, mas admite que o trabalho de perícia técnica será altamente prejudicado em razão das dimensões do acidente. Segundo o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, "não sobraram partes inteiras, apenas escombros".

Além disso, muitos documentos e outras pistas que poderiam auxiliar na investigação se perderam com a tragédia. Com isso, a ideia dos investigadores é reconstruir o contexto do desabamento a partir de relatos de pessoas que trabalhavam no local e comparar os dados com as versões do síndico e da empresa TO (Tecnologia Organizacional), além de resultados periciais.

Punição

De acordo com Alcides Alves Pereira, os possíveis responsáveis pelo acidente podem pegar de um a quatro anos de detenção só pelo desmoronamento. “Quem quer que seja responsabilizado poderá ser indiciado por desmoronamento e desabamento qualificado”, disse, referindo-se ao artigo 256 do Código Penal. A punição seria referente apenas ao desmoronamento e não às mortes registradas.

De acordo com ele, a Polícia Civil investigará apenas a responsabilidade penal, que é resultante de crimes contra a pessoa. As questões que envolvem danos materiais não serão apuradas pela Polícia Civil.

A testemunha mais aguardada era o síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, que compareceu ao distrito policial na última sexta-feira acompanhado de pelo menos quatro advogados. No depoimento, Renha entregou para a polícia cópias de dois pedidos de detalhamento técnico à empresa responsável pelas obras no terceiro andar e no nono andar do prédio mais alto.

Segundo o advogado Eduardo de Moraes, o primeiro ofício teria sido encaminhado à empresa TO – Tecnologia Organizacional em novembro do ano passado. O documento referia-se às obras realizadas no terceiro andar. A resposta teria sido enviada no mesmo mês pela empresa, atestando que a reforma não apresentava nenhum problema.

O segundo pedido de explicações técnicas, ainda segundo o advogado, teria sido enviado nas primeiras semanas de janeiro à empresa, mas a resposta não chegou antes do acidente.

O advogado da TO, Jorge Willians, afirmou que a exigência de um laudo técnico para as obras do nono andar seria um “capricho do síndico”, pois as reformas não necessitariam de tal autorização.

O síndico do edifício Liberdade disse ter tomado “todas as providências necessárias para que isso (o acidente) não acontecesse”. “Porém, não sou engenheiro para prever o que aconteceria”, acrescentou.

O sócio-diretor da empresa, Sérgio Alves, disse que “jamais existiu omissão por parte da TO”. Ele ainda relatou que há 11 funcionários envolvidos na tragédia, entre mortos e desaparecidos.