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Clima na base da Antártida era de "uma verdadeira casa", conta pesquisadora

Momento do incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira na Antártida - Armada Chile/Reuters
Momento do incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira na Antártida Imagem: Armada Chile/Reuters

Rodrigo Teixeira

Do UOL, no Rio

27/02/2012 12h09

A pesquisadora Juliana Souza, 23, ficou pouco mais de um mês na Estação Antártica Comandante Ferraz (de 7 de janeiro a 13 de fevereiro deste ano) para realizar uma pesquisa sobre pinguins. Segundo ela, que acompanhou do Rio de Janeiro toda a repercussão da explosão que matou dois militares, o clima na base de pesquisa era de “uma verdadeira casa”.

“Fazíamos tudo juntos, café da manhã, almoço e jantar. Compartilhávamos os ambientes: sala de estar, biblioteca, academia, sala de informática e a cozinha. Éramos como uma grande família”, disse ela.

Juliana participa do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), criado em 1982, para promover a pesquisa científica na Antártida. A pesquisadora, especificamente, trabalha no Projeto Pinguins e Skuas, que estuda a vida das aves marinhas.

Ao receber a notícia da tragédia, diz a pesquisadora, ela até pensou que fosse brincadeira. “Recebi uma ligação no sábado (25) por volta do meio dia e disseram que havia acabado tudo, que não tinha sobrado quase nada e que todo o pessoal voltaria hoje. Imaginei que algum colega do Rio poderia estar me passando um trote e liguei direto para a estação. Só tive certeza quando falei com a Adriana -- do mesmo projeto que eu trabalho – que confirmou a história.”

Juliana ressalta que a estação era um lugar onde se estudava de tudo, como, por exemplo, algas e mamíferos marinhos. Quanto à sua pesquisa com pinguins, ela contou que muito material foi deteriorado. “Tudo que foi realizado nessa terceira fase do nosso projeto foi perdido, tanto amostras como equipamentos. Todos saíram da estação apenas com a roupa do corpo.”

Estrutura da base

Juliana disse que havia cerca de 60 pessoas na Estação Antártica Comandante Ferraz durante o período que ficou por lá. “Havia 15 militares do grupo-base, 12 do arsenal de Marinha, um alpinista, um representante do Ministério do Meio Ambiente e 32 pesquisadores.”

Sobre a segurança, ela relatou que tudo era muito controlado. “Nossa principal regra era nunca sair da estação sem autorização do chefe. A maior preocupação lá é com o clima, que muda de repente”, disse a pesquisadora.

Acidente

A Marinha do Brasil informou, por meio de nota, que aproximadamente 70% das instalações foram destruídas pelo fogo.

O prédio principal da estação, onde ficavam as habitações e alguns laboratórios de pesquisas, foi completamente atingido pelo incêndio, tendo permanecidos intactos os refúgios (módulos isolados para casos de emergência), os laboratórios (de meteorologia, química e estudo da alta atmosfera), os tanques de combustíveis e o heliporto da estação, que são estruturas isoladas do prédio principal.

A equipe da Marinha localizou os corpos do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e do primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos. Eles foram para o continente na cidade de Punta Arenas, no Chile,  e já estão a caminho do Brasil.

O militar ferido Luciano Gomes Medeiros foi recebido em Punta Arenas por um médico da Marinha e transferido para o Hospital das Forças Armadas do Chile, onde está internado para observação e curativos. Ele não corre risco de morte e não possui restrições quanto ao regresso ao Brasil.