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Catorze brinquedos do Hopi Hari serão alvo de perícia detalhada nos próximos dias

Imagem divulgada pela família mostra Gabriela Nichimura (última à esquerda, olhando para baixo) momentos antes do acidente; a foto representou uma reviravolta no caso, já que comprova que a perícia foi feita na cadeira errada e que a jovem ocupava um assento desativado - Reprodução
Imagem divulgada pela família mostra Gabriela Nichimura (última à esquerda, olhando para baixo) momentos antes do acidente; a foto representou uma reviravolta no caso, já que comprova que a perícia foi feita na cadeira errada e que a jovem ocupava um assento desativado Imagem: Reprodução

Fabrício Calado

Do UOL, em Vinhedo (SP)

05/03/2012 13h49

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) informou que 14 brinquedos do parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo (a 79 km de São Paulo) serão alvo de perícia mais detalhada nos próximos dias. Serão periciados a Montezum, Vurang, Ekatomb, Vulaviking, Leva i Traz, Lokolorê, Evolution, Rio Bravo, Crazy Wagon, West River, Trakitanas, Simulákron, Giranda Di Musik e Dispenkito.

A definição dos brinquedos periciados integra o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), acordado entre a direção do parque e o MP. Outros brinquedos do parque também serão análisados, mas os 14 supracitados passarão por uma vistoria mais detalhada.

As perícias serão realizada em razão da morte da adolescente Gabriela Nichimura, 14, morta no último dia 24 após cair do brinquedo “La Tour Eiffel”. O parque permanecerá fechado até o próximo dia 12 para a realização das perícias.

Segundo Sérgio Ferreira, chefe do laboratório de estruturas do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) --órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado--, a perícia será feita nos brinquedos que oferecem maior risco à segurança dos usuários.

O IPT também analisará documentos disponibilizados pelo parque. “Podemos fazer muita coisa, ou podemos não fazer nada, dependendo dessa análise”, afirmou Ferreira.

Estiveram no parque nesta segunda-feira (5) representantes do Corpo de Bombeiros, Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), peritos da Polícia Científica e do Instituto de Criminalística, além de integrantes do IPT e do MP. As autoridades definiram o cronograma dos trabalhos e procedimentos de avaliação dos equipamentos do parque.

Nenhum brinquedo foi periciado hoje. Apenas uma simulação foi realizada no equipamento “La Tour Eiffel”. Não há informações sobre o resultado do teste.

O acidente ocorreu por volta das 10h30 de sexta-feira (24). A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes. O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do parque.

Negligência

Na avaliação do MP, houve uma negligência no sistema de operação do parque. "As pessoas que operavam não estavam devidamente capacitadas e orientadas para operar o brinquedo”, disse a promotora de defesa do direito do consumidor de Vinhedo, Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira.

Segundo ela, porém, “a pirâmide de responsabilização pelo acidente precisa ser construída dentro da hierarquia do parque”. A promotora disse ainda que o brinquedo tem "um sistema de segurança ineficaz, pois o travamento da cadeira dependia unicamente da ação humana, que é falível”.

A promotora disse que, após os dez dias, se não houver a resolução de eventuais problemas que ainda sejam apontados, pode ser determinada uma nova suspensão de mais dez dias, "e, em último caso, a aplicação de multa diária de R$ 95 mil”.

Conforme Vieira, além da suspensão, o parque será chamado a assinar um segundo TAC para pagamento de indenização a um fundo coletivo do MP, o Fundo Especial de Reparação dos Direitos Difusos Lesados --o valor vai ser definido com base na capacidade financeira da empresa e no grau de negligência constatado. Em relação ao direito do consumidor lesado, a promotora foi taxativa. “Não resta dúvida de que o direito coletivo do consumidor foi lesado, pois isso poderia ter acontecido a qualquer outra pessoa.”

Em nota, o Hopi Hari confirmou o fechamento do parque por dez dias, disse que está cooperando "irrestritamente com todos os questionamentos relativos ao caso" e reafirmou "seu total interesse na elucidação do caso, bem como seu compromisso com a segurança de todos os visitantes".

Advogado de parque assume erro

Mais cedo, o advogado do Hopi Hari, Alberto Toron, admitiu pela primeira vez que pode ter havido um erro na operação do brinquedo e que a jovem estava em uma cadeira desativada. “Estava absolutamente clara [a interdição da cadeira], naquele dia. Mas alguém, inadvertidamente, num erro crasso, habilitou aquela cadeira”, disse.

Toron, que informou que a cadeira usada pela vítima estava inativa havia dez anos por um problema técnico, disse que o acidente pode ter sido resultado da falha de algum funcionário da operação ou da manutenção. "Talvez alguém tenha aberto inadvertidamente a trava da cadeira que não deveria funcionar. Mas se isso acontecesse, o funcionamento do brinquedo deveria ter sido imediatamente interrompido", afirmou.

O advogado ressaltou que os funcionários do parque passam por treinamento para operação e manutenção dos brinquedos, mas reconheceu que o caso de sexta aponta para um "erro crasso". "Estamos investigando e queremos que eventuais culpados sejam responsabilizados."

Para o delegado Álvaro Santucci Noventa Júnior, o inquérito vai apurar a hipótese de dolo eventual, ou seja, quando o responsável, ainda que não intencionalmente, assume um risco. Somente agora, após o acidente, o parque admite ser necessária alguma faixa ou outro tipo de barreira para impedir o acesso do público àquela cadeira.

Conforme Santucci, isso é reforçado também pela ausência de barreira à cadeira danificada e pela forma de operação de funcionários que não interromperam, durante o funcionamento, o brinquedo. "Além de negligência, foi imprudência não haver um aviso de interdição", disse.

Na sexta passada, tanto o delegado quanto o advogado do parque disseram ter sido surpreendidos pela foto divulgada na quinta pela familia --na qual Gabriela aparece na extremidade do brinquedo. Até então, a informação era a de que a adolescente estava na segunda cadeira da direita para a esquerda.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Trava abre durante descida

Semana passada, após o depoimento da mãe da menina, que apresentou fotos de minutos antes do acidente, o delegado e o promotor Rogério Sanches Cunha, concluíram que a primeira perícia havia sido feita na cadeira errada e que o assento onde realmente estava Gabriela deveria estar interditado.

"A cadeira era inoperante há anos, o parque não nega. O que o parque talvez quis negar em um primeiro momento era que alguém havia sentado nela." O promotor diz que as fotos mostram Gabriela "sentando e subindo na cadeira inoperante". 

Após a descoberta do erro, o delegado determinou uma nova perícia no brinquedo e foi constatado que a trava da cadeira de fato ocupada pela vítima abre durante a queda do elevador. "[Constatou-se] que, na descida, quando a atração é colocada em atividade, aquela trava se levanta quando está em queda livre", afirmou ele. 

Segundo o delegado, a confusão aconteceu porque, no dia do acidente, uma testemunha disse que a menina estaria em outra posição.

"Apuramos inúmeras falhas que acabaram, em uma sucessão de erros, provocando a morte da Gabriela", disse o promotor. "A partir do momento em que o parque reconhece que aquela cadeira é inoperante, ele sabe que aquela cadeira tem problemas mecânicos. Então não é que houve falha mecânica, a falha na cadeira já era previsível. O que houve foi uma falha humana em não se impedi-la de entrar naquela cadeira”, afirmou.

De acordo com o promotor, a menina levantou sozinha a trava do assento interditado --que não contava com nenhum aviso-- e entrou em “uma verdadeira arma”. “Hoje praticamente trabalhamos com a certeza de que, no momento da frenagem ou talvez um pouco antes, por falta de força de ficar se segurando, ela efetivamente caiu, pendendo o corpo para frente. Essa menina entrou em uma verdadeira arma, em um brinquedo que era fatal”, disse Cunha.

(Com informações de Janaina Garcia e Débora Melo)