Ao viajar de avião, fique atento aos cuidados e às regras para embarcar com seus bichos
Às vésperas de embarcar para a Espanha e sem nem cogitar deixar sua mascote sozinha com estranhos, a funcionária pública Joelma del Bono se deparou com um grande dilema: como levar sua cadela Nena, uma daschund de pouco mais de um ano, para a Europa? Foi então que a turista, de Porto Alegre (RS), descobriu que colocar um animal em um avião não é nada simples.
Primeiro, existe uma tarifa de embarque para bichos, que varia de R$ 70 a R$ 90 (para voos nacionais), mais uma porcentagem do trecho multiplicado pelo peso do animal. Depois, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e o Ministério da Agricultura estabelecem uma série de normas para o transporte de animais domésticos, como cães e gatos (veja outros bichos abaixo).
OUTROS BICHOS
Animais como tartarugas, furões, papagaios e coelhos precisam ter o CZI e uma autorização de importação, emitida pelo Ibama (o pedido deve ser feito antes do embarque às superintendências de Agricultura nos Estados ou ao Departamento de Saúde Animal, em Brasília).
Os veterinários alertam que aves, por exemplo, são muito suscetíveis ao estresse. Já tartarugas e répteis sentem menos o impacto do voo. Vale consultar um especialista.
Além disso, as regras variam em cada companhia aérea e há restrições particulares para o ingresso de animais em diversos países. Dependendo do tipo e do tamanho do animal, ele pode receber autorização para ser levado no porão das aeronaves ou junto com os passageiros. Como esse serviço não está incluso no preço da passagem e cada companhia possui suas particularidades, é essencial que o turista consulte, com antecedência, os sites das áreas ou os telefones de atendimento ao cliente.
O embarque do animal é autorizado mediante a apresentação de uma série de documentos, como atestado de sanidade e condições físicas do bicho, assinado pelo veterinário, e carteira de vacinação atualizada, com comprovação de vacina múltipla, antirrábica e tratamento anti-helmíntico. Dependendo do porte e da raça do cachorro, ainda é necessário que ele use focinheira na área comum do aeroporto.
Cães e gatos muito filhotes, com menos de três meses não podem embarcar. Fêmeas no cio também não são permitidas.
Em geral, os animais pequenos (aqueles que junto com a gaiola pesam até 10 kg) podem viajar com seus donos. Os demais têm de ser despachados no compartimento de cargas, e o transporte está sujeito à disponibilidade de cada voo (em geral, são apenas dois animais por voo). Por isso, é preciso fazer uma reserva com pelo menos 24 horas de antecedência ao embarque.
Focinho curto
A Gol impede o embarque de animais de focinhos curtos. A medida foi tomada em setembro de 2011, após um cão da raça pug passar mal e morrer depois de aguardar 10 horas para embarcar (veja abaixo). Veterinários explicam que raças com esse tipo de focinho possuem dificuldade de respiração.
“Nos cães, a troca de temperatura ocorre apenas pela respiração, enquanto em nós é pelo suor. Como essas raças têm anatomia diferenciada, que dificulta a troca de temperatura com o ambiente, aconselhamos que esses cães não fiquem muito tempo confinados ou no sol”, explica o veterinário Rodrigo Lorenzoni, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul.
Nesta categoria estão boston terrier, boxer, buldogue, cavalier king charles spaniel, chow chow, dogue de bordeaux, grifon de bruxelas, lhasa apso, pequinês, pug e shih tzu.
Voos internacionais
Para voos internacionais, as regras em geral são as mesmas. Dependendo da companhia e do destino, as restrições podem variar em relação, por exemplo, a vacinas. Vale verificar quais os requisitos sanitários cobrados pelo país de destino e solicitar a emissão do Certificado Zoossanitário Internacional (CZI) por um médico veterinário do Ministério da Agricultura, emitido em unidades do Sistema Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) em aeroportos, portos e postos de fronteira.
Para sua emissão, são necessários atestado de saúde assinado por um veterinário e carteira de vacinação em dia, além dos documentos exigidos pelo país de destino para o trânsito de animais.
CASOS ESPECIAIS
Os cães guia têm trânsito liberado nos aeroportos, viajam sem focinheira e junto ao seu dono.
Para embarcar, precisam ter carteira de vacinação atualizada, com comprovação de vacina múltipla, antirrábica e tratamento anti-helmíntico. Em voos internacionais, também é obrigatório o CZI.
Eles são transportados gratuitamente e viajam em um local próximo ao dono, na primeira fileira. Para tanto, a empresa deve ser avisada com antecedência.
Na União Europeia e no Japão, por exemplo, é exigido, além do CZI, que os animais estejam com um chip de identificação contendo informações como idade, raça, sexo e o nome do proprietário. No caso de Joelma, para poder entrar na Espanha, a cadela Nena precisou implantá-lo. “Na época, fiquei indignada. Mas depois vi que era para a segurança do animal. No momento que se tem o chip é muito mais fácil localizá-lo em caso de perda”, lembra.
O Ministério da Agricultura possui 18 modelos de CZIs, destinados à África do Sul, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Hong Kong, Índia, Japão, México, Noruega, Nova Zelândia, Omã, Suíça, Taiwan e Venezuela; além dos países do Mercosul e da União Europeia. Por isso não custa procurar o consulado do seu país de destino para tirar todas as dúvidas.
Atenção: caso no desembarque faltar alguma documentação, o animal é obrigado a retornar ao Brasil.
Sedativo
A não ser que o animal seja considerado feroz, não é necessário que ele esteja sedado para a viagem, mas, se for o caso, o ideal é que seja medicado por um veterinário. “Existem alguns tranquilizantes que podem ser administrados. Mas o proprietário deve consultar o veterinário que acompanha o animal, que é a melhor pessoa a indicar o tipo de medicamento e a quantidade a se fornecida”, explica Lorenzoni.
VEJA A SITUAÇÃO DOS 10 MAIORES AEROPORTOS DO BRASIL
O especialista também alerta para que o dono não medique o animal por conta própria, pois, por desconhecimento técnico, pode acabar causando uma sedagem muito profunda, colocando-o em risco.
Antes e depois de voar
O veterinário Rodrigo Lorenzoni ensina que para evitar ao máximo o estresse do animal, o melhor é colocá-lo na caixa de transporte no último momento. “É bom acomodá-lo na gaiola só na hora do despacho para tentar reduzir seu tempo de confinamento ao mínimo possível.”
Ele também recomenda que os mascotes fiquem em jejum de 6h a 8h antes do embarque. Para acalmá-lo, o dono pode deixar algum brinquedo ou objeto dentro da gaiola, para que ele se sinta mais à vontade. Isso deve ser informado à companhia aérea.
Também é importante, ao desembarcar, retirar o animal do kennel para que ele possa se esticar, e não é aconselhável colocá-lo para caminhar em lugares com movimento intenso. “Ao deixar a aeronave, o dono deve retirar o mais rápido possível o animal da área de transporte e levá-lo a uma área externa para ele se movimentar”, aconselha Lorenzoni. Uma voltinha para que ele possa fazer suas necessidades já está bom.
Problemas recentes
Apesar dos cuidados de rastreio e acondicionamento dos animais em aeroportos e aeronaves, alguns casos recentes puseram luz em algumas falhas no sistema de despacho.
Além do caso do pug que morreu de parada cardiorrespiratória depois de esperar 10 horas para viajar de avião de São Paulo para Vitória (ES), no dia 25 de abril do ano passado, o pesquisador Maicon Saul Faria perdeu seu gato de estimação no aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. O gato, chamado Esquilo, fugiu quando funcionários transferiam bagagens de aeronave na pista do aeroporto.
Recentemente, um caso transformou um cão em celebridade. Pinpoo desapareceu em 2 de março de 2011 enquanto embarcava de Porto Alegre para o Espírito Santo no terminal de cargas do Aeroporto Internacional Salgado Filho. Depois de muita confusão e notícias publicadas sobre a história, o filhote foi encontrado próximo à pista de pouso por um sargento do Batalhão de Aviação da Brigada Militar.
O mascote de dona Nair Flores, que inclusive deu origem a um quadro na televisão, voltou para casa com um quilo a menos, machucado nas patas e completamente sujo. Durante a procura por Pinpoo, Nair se queixou das poucas informações dadas a ela pela companhia aérea.
“Eu acho um absurdo a gente pedir dinheiro por ter passado por momentos terríveis, como passamos. Eu queria cadeia para essa gente. Mas não dá. Eu não vou botar preço por 14 dias de sofrimento intenso, tanto da minha parte quanto da dele [Pinpoo]. Deixarei a cargo do juiz”, disse ela, sobre uma possível indenização.
De volta ao Rio Grande do Sul depois de uma temporada no Espírito Santo, Pinpoo já está recuperado do susto e aproveitando suas férias no litoral.
O publicitário Fábio Canale, 27, que também se prepara para uma temporada no Espírito Santo, diz que vai ficar atento ao transporte de seu border collie Kino. “Ele já viajou outras vezes e nunca tive nenhum problema. Mas vou ficar em cima. Serei bem chato”, afirmou.
Trânsito intenso
Segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2010, passaram pelos três principais aeroportos brasileiros (Guarulhos, em São Paulo; Galeão, no Rio de Janeiro; e Juscelino Kubitschek, no Distrito Federal) 13.281 cães e gatos. Desses, 9.357 em São Paulo, 3.469 no Rio de Janeiro, e 455 em Brasília.
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