Topo

Insuficiência de táxis credenciados gera filas e prejudica fiscalização em aeroporto do Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

13/04/2012 06h00

O programa "Táxi Boa Praça", iniciado há dois meses no principal aeroporto do Rio, o Galeão, na zona norte, reduziu a circulação de veículos piratas e/ou "bandalhas" nas áreas de desembarque, porém agravou outro problema que afeta diretamente os passageiros que chegam à capital fluminense em horários de grande fluxo: a insuficiência de táxis comuns.

Para quem não quer pagar as altas tarifas pré-fixadas de táxis especiais, que atuam em maior número (são cinco cooperativas cadastradas contra duas de táxis normais) resta apenas a opção de encarar as enormes filas à espera dos chamados "amarelinhos".

Recentemente, mais cenas de violência gratuita na área de desembarque do Galeão foram flagradas pelas câmeras de segurança. Um casal gay foi espancado por motoristas de táxis piratas ao recusar uma oferta. Durante a briga, um dos criminosos deu um chute no rosto da vítima, que teve os ossos da cabeça e da face quebrados.

Cerca de 3.000 passageiros desembarcam diariamente no Galeão, segundo dados da Infraero -- em 2011, a movimentação anual registrada foi de mais de 11,5 milhões de pessoas. Somadas as frotas das duas cooperativas de táxis comuns autorizadas a oferecer o serviço na área de desembarque, são apenas 364 veículos, isto é, média de 0,12 por pessoa.

Histórico de agressões

  • A Prefeitura começou a organizar o serviço de táxi nos aeroportos do Rio há dois anos, após sucessivos casos de agressões.

    Um dos casos mais grave foi o do taxista Kléber da Rosa (vídeo acima), que em 2010 foi linchado por cinco colegas, depois que a vítima parou seu táxi na área das cooperativas credenciadas.

  • Recentemente, mais cenas de violência gratuita na área de desembarque do Galeão foram flagradas pelas câmeras de segurança. Um casal gay foi espancado por motoristas de táxis piratas ao recusar uma oferta. Durante a briga, um dos criminosos deu um chute no rosto da vítima, que teve os ossos da cabeça e da face quebrados.

A Infraero admite o problema e pretende cadastrar mais empresas para prestar o serviço. "Até o fim do ano, vamos abrir licitação para reforçar o serviço de táxi do Galeão. Acreditamos que esse problema pode ser resolvido com o cadastramento de mais duas cooperativas", diz o superintendente regional do órgão, Abib Ferreira Júnior.

O resultado da visível insuficiência de táxis autorizados a atuar nas áreas de desembarque dos Terminais 1 e 2 do Galeão faz com que as diretrizes do programa "Táxi Boa Praça" sejam contraditórias, uma vez que veículos de cooperativas não credenciadas são comumente chamados para reforçar o atendimento em situações de alta demanda.

Durante três dias, em horários alternados, a reportagem do UOL circulou pelos terminais do Galeão de forma anônima, e constatou a formação de grandes filas em diversos momentos. A demora faz com que muitos passageiros optem por se dirigir aos setores de embarque -- onde a circulação é livre --, o que facilita o trabalho dos agenciadores de táxis piratas, os populares "jóqueis".

Além disso, a reportagem constatou que falsos agenciadores de táxi mudam local e horário para burlar fiscalização no Galeão.

O empresário Márcio Pereira, 32, que desembarcou no Rio na tarde da última quarta-feira (28 de fevereiro), afirmou ter rejeitado uma oferta de um jóquei ainda no saguão do aeroporto antes de entrar na fila de táxis autorizados. Ele esperou cerca de 30 minutos por um veículo de uma das duas cooperativas de táxis comuns que atuam no Galeão.

"Todo aeroporto tem fila de táxi, mas a situação aqui está piorando. Eu escolho esperar porque me sinto mais seguro, sei que, se acontecer alguma coisa durante a corrida, tenho com quem reclamar. Mas quem vem com o objetivo de pagar mais barato ou se irrita com a demora acaba optando por esse tipo de serviço", disse ele, referindo-se aos jóqueis.

Passados 20 minutos do atendimento ao empresário, a fila continuava a crescer, e não havia nenhum veículo credenciado parado na baia destinada aos táxis amarelinhos. Neste tempo, pelo menos três carros de outras cooperativas se dirigiram ao local após solicitação de agentes da Infraero. Os clientes embarcaram nesses veículos normalmente.

De acordo com o policial militar responsável pelo patrulhamento no local, este procedimento é autorizado pela Infraero quando há formação de grandes filas. "Nesses casos, há uma exceção. O passageiro não pode ficar esperando", argumentou.

Câmeras desligadas

A reportagem do UOL conversou com dois taxistas de cooperativas não credenciadas que citaram casos nos quais foram chamados para a área de desembarque a fim de atender passageiros que já aguardavam por mais de uma hora. Ambos afirmam que a solicitação partiu dos próprios agentes da Infraero, que teriam garantido que as câmeras de vigilância estavam desligadas.

"Eles falam que a gente pode ir lá, que não vai rolar multa porque as câmeras são desligadas. E aí que eu pergunto: qual a real funcionalidade desse Táxi Boa Praça? Eles privilegiam as cooperativas do aeroporto, mas é impossível dar conta", afirmou um taxista da cooperativa Rádio Táxi 2000.

Veículos de outras cooperativas não podem circular pela área de desembarque e caso sejam flagrados pelas câmeras da CET-Rio instaladas no aeroporto, recebem multas de R$ 85 e perdem quatro pontos na carteira.

Taxistas fazem curso de inglês para evitar "embromation" na Copa

Ferreira Júnior nega que as câmeras tenham sido desligadas. "A vigilância é feita 24 horas, e isso não procede. As câmeras não são desligadas e futuramente esse sistema será interligado com o Centro de Operações da prefeitura. Mas, quando há fila, realmente outros táxis são liberados para atender passageiros", disse.

Nem todos ofereceram serviço de táxi pirata. Além dos falsos taxistas, os chamados "bandalhas" -- não credenciados e/ou que rodam com o taxímetro adulterado -- também são um antigo problema para a administração do aeroporto e para a polícia.

MP quer igualar tarifas

Se depender do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), a vantagem financeira dos táxis especiais --que chegam a cobrar o dobro em comparação com os amarelinhos-- não terá vida longa.

O promotor Pedro Rubim Borges Fortes já entrou com uma ação civil pública com o objetivo de igualar as tarifas, o que, em tese, poderia acabar com as grandes filas.

O MP compreende que os serviços oferecidos pelas cooperativas ditas especiais não se diferenciam em nada do atendimento dos táxis comuns, e que as frotas são atualmente parecidas. Já as empresas argumentam que o serviço oferecido é considerado "luxuoso", e que as tarifas mais caras são autorizadas por lei.