Taxistas do Rio fazem curso de inglês para evitar "embromation" na Copa e nas Olimpíadas
O Departamento Estadual de Trânsito do Rio de Janeiro (Detran) iniciou neste mês um projeto de qualificação para 120 taxistas da cidade, que estão participando de cursos gratuitos de idiomas (inglês e espanhol básicos), turismo, direção defensiva, entre outras disciplinas. A 3ª edição do programa "Táxi! Corrida para o Futuro" faz parte da preparação da capital fluminense para receber os jogos da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. As aulas vão até o dia 1º de dezembro.
Os alunos foram divididos em três turmas com carga horária total de 150 horas --são três aulas por semana. A reportagem do UOL Notícias acompanhou a aula de inglês da última quarta-feira (10), em uma unidade da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) em Manguinhos, na zona norte da cidade, na qual os motoristas aprenderam a conjugar verbos no passado.
De acordo com a professora Ivonete Simões, 53, a maioria dos motoristas tem um conhecimento básico a respeito do idioma, proporcionada pela rotina de trabalho. De acordo com a docente, cerca de 30% dos alunos devem terminar o curso com condições de compreender as solicitações de passageiros de outros países.
"Eles lidam com turistas e acabam aprendendo algumas palavras. Mas o curso é importante porque eles não teriam como conversar com um estrangeiro sem apelar para o gestual", afirma Simões, ressaltando a importância da iniciativa para a classe dos taxistas.
A turma demonstra empolgação com a possibilidade de aprender novas línguas. O taxista Jorge Alves, 54, já pensa em procurar uma escola particular após o fim do projeto de capacitação. "Já que é para aprender, vamos levar a sério. É uma coisa que pode nos ajudar muito no dia a dia", afirma. O taxista Paulo Dutra, por sua vez, diz que aprendeu em uma semana mais palavras em inglês do que nos seus 38 anos de vida.
"Cheguei aqui com conhecimento zero, uma base escolar muito fraca. Sempre nos comunicamos com os turistas na base do 'embromation'. Mas agora já dá para entender algumas coisas", afirma.
Mas nem todos os motoristas estão plenamente satisfeitos com o projeto de capacitação. De acordo com Luiz César, 59, não houve benefício prático para os alunos formados nos outros dois cursos similares já realizados pelo Detran. Ele afirma que apenas um certificado de conclusão não é o suficiente para valorizar o motorista que investiu 150 horas para se qualificar (nas quais poderia estar trabalhando).
"Nós vamos terminar o curso, ok. E depois? Como os taxistas que, em tese, estão capacitados a lidar com os turistas vão ter uma garantia de que isso será colocado em prática? Ao mesmo tempo que eu estou aqui estudando, tem táxi pirata na rua pegando turista ou dono de hotel fechando acordo por fora com as cooperativas", disse.
Os alunos também cobram do Detran o início das aulas de espanhol, que ainda não começaram em razão da falta de professores. Segundo o coordenador educacional do órgão estadual de trânsito, Jorge Moreno, o docente que deveria assumir a função recebeu uma oferta de emprego melhor e não pôde continuar no projeto. Ele diz que as aulas foram remanejadas.
"O processo de contratação de um novo professor não é tão rápido, há uma série de aspectos. Mas eu garanto que todos os alunos terão as aulas de espanhol até dezembro. Nós reorganizamos o calendário e eles terão essas aulas mais para frente", disse.
Moreno explica que o conteúdo do programa de capacitação é uma adaptação de um curso direcionado a motoristas de ônibus, e preparado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
"O curso original é obrigatório para motoristas de ônibus por meio da resolução 168 do Contran [Código Nacional de Trânsito], e foi adaptado para abranger a atividade dos taxistas. O foco do conteúdo é justamente estabelecer uma relação mais próxima entre motorista e passageiro. A partir disso, incluímos outras disciplinas que são interessantes para a capacitação da classe", explicou.
Rio pioneiro
Segundo o coordenador educacional do Detran, o Rio de Janeiro é o primeiro Estado brasileiro a oferecer uma oportunidade de qualificação multidisciplinar para a classe dos taxistas.
Segundo Moreno, já houve algumas iniciativas espalhadas pelo território brasileiro que buscavam oferecer um treinamento especializado sobre direção defensiva, mas com foco na questão da segurança, e não da qualificação profissional.
Contos de taxista
Na linguagem dos taxistas, a palavra "embromation" significa a conversação irregular entre o condutor e o passageiro internacional, que não conseguem estabelecer uma comunicação fluente em razão da barreira do idioma. A situação vivida diariamente por muitos motoristas quase sempre rende histórias engraçadas, de acordo com os alunos do curso "Táxi! Corrida para o Futuro".
O taxista Paulo Dutra, por exemplo, já recebeu um desenho feito por um passageiro inglês que não conseguia informar o destino da corrida. "O cara me deu um desenho do Pão de Açúcar e ficava apontando para o papel", explicou.
Segundo Dutra, alguns turistas utilizam palavras genéricas em português para indicar os destinos, o que dificulta a compreensão. "Em vez de falar Corcovado, o gringo fala 'estátua'. Aí fica difícil", relata.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.