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Policial cai em túnel do lado de fora do maior presídio do RN e evita fuga em massa

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

27/07/2012 15h04

Uma tentativa de fuga em massa de cerca de 50 reeducandos acabou de forma inusitada na Penitenciária de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, na noite de quinta-feira (26). 

A queda acidental de um policial militar em um túnel que liga os pavilhões 1 e 4 à área externa da unidade prisional pôs fim ao plano de fuga marcado para ser executado durante a madrugada desta sexta-feira (27).

Segundo informações da chefia de segurança da penitenciária, o policial caiu quando caminhava em direção a uma das guaritas, por volta das 23h30, para assumir o plantão.

"Ao pisar no chão, que estava com uma camada fina de areia e se tratava do teto do túnel, a terra desmoronou. No momento chovia, e acreditamos que a água contribuiu para o desmoronamento”, disse o chefe de segurança de Alcaçuz, Cleidson Câmara.

Apesar do susto de ter caído em um buraco de cerca de 2 metros de profundidade, o policial não se machucou e foi retirado do túnel com ajuda dos próprios colegas. Em uma das partes do túnel e da nova ramificação descoberta há escavações de até 5 metros de profundidade.

A segurança da penitenciária foi reforçada com a presença de homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) para manter a calma dos presos e intimidar a ocorrência de motins devido à descoberta do plano de fuga.

Após o episódio, o serviço de inteligência e investigação da penitenciária descobriu que cerca de 50 presos do pavilhão 1, da ala nova, já trabalhavam há algum tempo abrindo uma ramificação que chegou a um túnel antigo, construído em 2006 no pavilhão 4. O local estava com entrada e saída fechadas apenas com pedras, para escaparem da prisão.

A unidade prisional já é conhecida pelos problemas enfrentados pela administração devido às constantes fugas ocorridas pelos túneis abertos, que não foram preenchidos com concreto e estão apenas com as entradas e saídas escoradas com pedras. Em janeiro deste ano, a antiga administração de Alcaçuz admitiu que não tem como fechar por completo os túneis abertos pelos presos para fugas.

Segundo o chefe de segurança de Alcaçuz, Cleidson Câmara, o pavilhão 1 abriga cerca de 270 presos, mas nem todos “teriam o direito de usar a ramificação que levava ao túnel principal, aberto no pavilhão 4, porque somente os que fazem o trabalho é que os líderes do plano deixam participar.”

“Não sabemos ao certo quando a nova ramificação foi aberta, mas já sabemos que 50 iriam fugir e também quem participou da abertura da ramificação. A segurança tem problemas porque não sabemos quantos túneis existem, nem quantas ramificações levam até eles e suas localizações. Esta ramificação que foi descoberta ontem levava a um túnel usado em 2006 na fuga de 15 reeducandos”, informou o chefe de segurança de Alcaçuz.

Câmara destacou ainda que, apesar de ocorrerem revistas constantes nas celas e em outros locais de uso comum dos presos, os agentes têm dificuldade de encontrar novos pontos de escavações.  “Os presos sempre arrumam um jeito de esconder a areia, seja colocando-a em outras ramificações, em tubulações de esgoto ou ainda enchendo travesseiros, colchões.”

Nesta manhã, a administração da penitenciária enviou um ofício à Sejuc (Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania) solicitando que sejam tomadas providências para fechar em definitivo os túneis que os agentes têm conhecimento.

“O nosso grande problema é que o prédio foi construído em uma área de dunas, e o trabalho para fechar em definitivo esses túneis não é simples. Corremos risco dentro e fora do prédio, pois não sabemos onde estamos pisando, se tem túnel embaixo ou não. Observamos que a estrutura do prédio também fica prejudicada com os buracos e túneis que podem desmoronar a qualquer momento”, disse Câmara, destacando que espera que seja dada uma solução para o problema das escavações na unidade prisional de Alcaçuz.

Em entrevista ao UOL, um agente penitenciário que estava de plantão na quinta-feira afirmou que os próprios colegas de trabalho e os PMs não sabem se o local em que estão pisando têm escavações subterrâneas.

“Não sabemos onde estamos pisando nas áreas externas, porque são muitos túneis existentes aqui e a única providência tomada é colocar pedras nas entradas e saídas deles. A área de construção do presídio contribui para essas construções porque está em cima de dunas, com areia fofa e inexistência de barreiras de pedras", contou o agente penitenciário, que pediu para não ser identificado por temer represálias.

A Penitenciária de Alcaçuz abriga presos de alta periculosidade, com condenações que atingem entre 100 e 200 anos de prisão e, segundo o agente, “como eles não conseguem o regime semiaberto ou a liberdade, ficam repassando para os novatos os mapas dos túneis e traçando rotas para fugir.”

“Existem presos com quase 15 anos de prisão aqui em Alcaçuz. Eles sabem de tudo que se passa aqui dentro, porque não têm ocupações e ficam o tempo todo maquinando uma forma de fugir. Como são os mais antigos, são os que mandam nos que chegam depois. E eles dão todas as instruções para abrirem ramificações que levam às rotas antigas, abertas com túneis principais que chegam a medir cerca de 30 metros de cumprimento e 5 metros de profundidade.”