Policial cai em túnel do lado de fora do maior presídio do RN e evita fuga em massa
Uma tentativa de fuga em massa de cerca de 50 reeducandos acabou de forma inusitada na Penitenciária de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, na noite de quinta-feira (26).
A queda acidental de um policial militar em um túnel que liga os pavilhões 1 e 4 à área externa da unidade prisional pôs fim ao plano de fuga marcado para ser executado durante a madrugada desta sexta-feira (27).
Segundo informações da chefia de segurança da penitenciária, o policial caiu quando caminhava em direção a uma das guaritas, por volta das 23h30, para assumir o plantão.
"Ao pisar no chão, que estava com uma camada fina de areia e se tratava do teto do túnel, a terra desmoronou. No momento chovia, e acreditamos que a água contribuiu para o desmoronamento”, disse o chefe de segurança de Alcaçuz, Cleidson Câmara.
Apesar do susto de ter caído em um buraco de cerca de 2 metros de profundidade, o policial não se machucou e foi retirado do túnel com ajuda dos próprios colegas. Em uma das partes do túnel e da nova ramificação descoberta há escavações de até 5 metros de profundidade.
A segurança da penitenciária foi reforçada com a presença de homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) para manter a calma dos presos e intimidar a ocorrência de motins devido à descoberta do plano de fuga.
Após o episódio, o serviço de inteligência e investigação da penitenciária descobriu que cerca de 50 presos do pavilhão 1, da ala nova, já trabalhavam há algum tempo abrindo uma ramificação que chegou a um túnel antigo, construído em 2006 no pavilhão 4. O local estava com entrada e saída fechadas apenas com pedras, para escaparem da prisão.
A unidade prisional já é conhecida pelos problemas enfrentados pela administração devido às constantes fugas ocorridas pelos túneis abertos, que não foram preenchidos com concreto e estão apenas com as entradas e saídas escoradas com pedras. Em janeiro deste ano, a antiga administração de Alcaçuz admitiu que não tem como fechar por completo os túneis abertos pelos presos para fugas.
Segundo o chefe de segurança de Alcaçuz, Cleidson Câmara, o pavilhão 1 abriga cerca de 270 presos, mas nem todos “teriam o direito de usar a ramificação que levava ao túnel principal, aberto no pavilhão 4, porque somente os que fazem o trabalho é que os líderes do plano deixam participar.”
“Não sabemos ao certo quando a nova ramificação foi aberta, mas já sabemos que 50 iriam fugir e também quem participou da abertura da ramificação. A segurança tem problemas porque não sabemos quantos túneis existem, nem quantas ramificações levam até eles e suas localizações. Esta ramificação que foi descoberta ontem levava a um túnel usado em 2006 na fuga de 15 reeducandos”, informou o chefe de segurança de Alcaçuz.
Câmara destacou ainda que, apesar de ocorrerem revistas constantes nas celas e em outros locais de uso comum dos presos, os agentes têm dificuldade de encontrar novos pontos de escavações. “Os presos sempre arrumam um jeito de esconder a areia, seja colocando-a em outras ramificações, em tubulações de esgoto ou ainda enchendo travesseiros, colchões.”
Nesta manhã, a administração da penitenciária enviou um ofício à Sejuc (Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania) solicitando que sejam tomadas providências para fechar em definitivo os túneis que os agentes têm conhecimento.
“O nosso grande problema é que o prédio foi construído em uma área de dunas, e o trabalho para fechar em definitivo esses túneis não é simples. Corremos risco dentro e fora do prédio, pois não sabemos onde estamos pisando, se tem túnel embaixo ou não. Observamos que a estrutura do prédio também fica prejudicada com os buracos e túneis que podem desmoronar a qualquer momento”, disse Câmara, destacando que espera que seja dada uma solução para o problema das escavações na unidade prisional de Alcaçuz.
Em entrevista ao UOL, um agente penitenciário que estava de plantão na quinta-feira afirmou que os próprios colegas de trabalho e os PMs não sabem se o local em que estão pisando têm escavações subterrâneas.
“Não sabemos onde estamos pisando nas áreas externas, porque são muitos túneis existentes aqui e a única providência tomada é colocar pedras nas entradas e saídas deles. A área de construção do presídio contribui para essas construções porque está em cima de dunas, com areia fofa e inexistência de barreiras de pedras", contou o agente penitenciário, que pediu para não ser identificado por temer represálias.
A Penitenciária de Alcaçuz abriga presos de alta periculosidade, com condenações que atingem entre 100 e 200 anos de prisão e, segundo o agente, “como eles não conseguem o regime semiaberto ou a liberdade, ficam repassando para os novatos os mapas dos túneis e traçando rotas para fugir.”
“Existem presos com quase 15 anos de prisão aqui em Alcaçuz. Eles sabem de tudo que se passa aqui dentro, porque não têm ocupações e ficam o tempo todo maquinando uma forma de fugir. Como são os mais antigos, são os que mandam nos que chegam depois. E eles dão todas as instruções para abrirem ramificações que levam às rotas antigas, abertas com túneis principais que chegam a medir cerca de 30 metros de cumprimento e 5 metros de profundidade.”
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