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Histórias de vida falam sobre o prazer do trabalho voluntário

A fotógrafa Monalisa Lins (centro) posa com os filhos durante ação voluntária no Lar Vicentino, em São Paulo - Arquivo Pessoal
A fotógrafa Monalisa Lins (centro) posa com os filhos durante ação voluntária no Lar Vicentino, em São Paulo Imagem: Arquivo Pessoal

Daniel Santos

Do BOL, em São Paulo

05/12/2012 13h30

Fenômeno mundial, o trabalho voluntário é considerado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como uma das ferramentas de peso para o desenvolvimento socioeconômico dos países. Porém, mais do que transformar a sociedade, o voluntariado é uma via de mão dupla - traz benefícios tanto para quem doa parte do seu tempo para atividades solidárias quanto para quem recebe a ajuda.

Nesta quarta-feira (5) é comemorado o Dia Internacional do Voluntário. A data, que foi instituída em 1985 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, visa a estimular ações voluntárias e comemorar os resultados dos trabalhos realizados por pessoas munidas de solidariedade. E há sempre oportunidades e muita gente que precisa daquela “forcinha”, capaz de mudar variadas realidades. Conheça a seguir histórias de voluntários que uniram o desejo de ajudar, o prazer em contribuir para uma sociedade mais justa e a satisfação de se sentir útil.

Histórias solidárias

Moradora de Perdizes, mas nascida em Ermelino Matarazzo, periferia de São Paulo, a fotógrafa Monalisa Lins, 41, sentiu necessidade de dar "outras vivências" e mostrar "outros mundos" aos filhos. Foi então que ela teve a ideia de retornar ao Lar Vicentino, asilo localizado no mesmo bairro onde nasceu, e iniciar um trabalho voluntário contando histórias para os idosos da instituição. Ela ainda levou o marido e os filhos, Leonardo, 7, e Ana Laura, 2.

"Não queria que meus filhos se encaminhassem somente para essa coisa de 'ter'. Quero que eles entendam a importância de 'ser'. Além disso, quis mostrar a minha origem pra eles, conscientizá-los de que existem outras realidades e que não podemos ficar em uma 'zona de conforto'. É importante ter essa vontade de transformar", diz ela.

Comunicativa, Monalisa passa a impressão de quem sempre contou histórias. Mas ela começou a ter um contato maior com o mundo das fábulas em julho deste ano. Logo procurou se especializar e agora se arrisca a criar suas próprias narrativas. A contadora de histórias, que também atua no Bosque da Leitura do Piqueri, relata que também estimula os idosos a contarem suas histórias e diz que percebeu uma transformação na vida dos internos do Lar Vicentino.

"O mais gratificante é perceber a mudança que esse trabalho causa na vida dos idosos. Antes, eles eram mais reservados, não se relacionavam entre si. Hoje, eles interagem mais, se descobriram amigos e não ficam mais reclusos em seus quartos", contou Monalisa.

Vontade de transformar

Foi também com "vontade de transformar" que a administradora Izabel Cristina Amaral Pereira, 59, aderiu ao projeto "Papai Noel dos Correios". A campanha, que acontece desde 1997, atende pedidos de presentes de Natal de crianças carentes, que enviam suas cartas à central dos Correios e são apadrinhadas por voluntários. Em 2006, quando iniciou o trabalho, Izabel levou12 cartas. No ano seguinte, ela realizou o desejo de 72 crianças. Em 2011, adotou 400 cartas, e neste ano vai enviar 500 presentes.

Para atender aos pedidos, Izabel realiza ações durante o ano inteiro, como bazares beneficentes e divulgação da campanha entre os familiares, amigos e através do Facebook. Foi assim que ela levou a bibliotecária Regiane Pereira dos Santos, 49, para participar do projeto.

"Eu fico muito sensibilizada com as histórias e os pedidos das crianças. Então, durante o ano, faço ações para atender sempre mais. Acredito que o Natal, especialmente, não tem sentido se você não ajudar e não pensar no próximo", disse Izabel.

Durante o ano, Izabel e Regiane fazem estoques com os presentes mais solicitados, como bonecas Barbie e carrinhos de controle remoto. Mas também atendem a pedidos que refletem com a situação de vulnerabilidade social dos pedintes. Algumas cartas trazem solicitações de inaladores e cestas básicas, por exemplo.

Neste ano, a ação corporativa teve início no dia 14 de novembro e tem prazo para adoção das cartinhas até 14 de dezembro. Em 2011, os Correios receberam 317.876 cartas – dessas, 63.003 foram adotadas. Neste ano, até o fechamento desta matéria, a instituição havia recebido 27.000 (número somente da região metropolitana de São Paulo), e 5.500 já haviam sido adotadas.
Para ser voluntário na campanha dos Correios, basta ir até um dos pontos de adoção e leitura de cartas.

Justin, o cão voluntário

O sobrenome dele não é Bieber, mas o golden retriever Justin é a atração mais esperada nas tardes de quinta-feira no Hospital Metropolitano, na Lapa, em São Paulo.

O cartaz na entrada do prédio, com a foto do pet, deixa bem claro que o cãozinho é um dos "funcionários mais queridos", como grita uma médica ao avistá-lo. Há três anos, Justin e o irmão, Nick, realizam trabalho voluntário em instituições de saúde. Integrantes do projeto "Amicão", os animais fazem a alegria dos pacientes e ainda incentivam a dona, Maria Cristina Silva de Lacerda, 59, a se envolver em ações que beneficiam o próximo.

“No início, fui tachada de ‘louca’", revelou Maria Cristina. "Hoje, as pessoas entendem o bem que a presença dos animais faz a quem está debilitado em um hospital, em tratamentos mais rigorosos. A zooterapia está ganhando força em instituições de saúde", disse a voluntária referindo-se ao tratamento por intermédio de animais, comum em outros países, como Inglaterra e Estados Unidos.

"E eu me sinto muito privilegiada em poder contribuir com o bem-estar das pessoas", completou. A médica pediatra Aline Lacerda Vieira explica que é notório o estimulo que os cães proporcionam na recuperação. "As crianças despertam daquele estado de letargia, por estarem doentes. Elas ficam animadas, recebem melhor o tratamento, ganham mais vida. Os cães terapeutas provocam emoções. A presença deles é sempre satisfatória", comentou.

Comum em outros países, como Inglaterra e Estados Unidos, a zooterapia é uma técnica de tratamento por intermédio de animais. 

Trabalho de "gente pequena"

Ainda que grande parte das ações voluntárias tenham como propósito beneficiar crianças, os pequenos também podem se envolver em trabalhos que ajudem ao próximo.

Vitória Jamile Brasileiro, 9, se interessou pelo voluntariado depois que ouviu histórias de uma tia, também voluntária. Foi assim que a pequena ingressou na trupe de palhaços "Operação Conta Gotas" - que promove campanhas para doação de sangue, medula óssea e plaquetas - e hoje é conhecida como Doutora Dorotéia Sapeca. "No inicio, fiquei preocupada com o impacto que alguns trabalhos poderiam causar à Vitória. Então, passei a acompanhá-la e logo também estava envolvida", contou a mãe da garota, Kelly Brasileiro, que se tornou voluntária e atende por Doutora Sara Joanina.

"A chegada da Vitória ao grupo foi uma injeção de motivação. Ela sempre está disposta, e nós, os adultos, ganhamos novas experiências. É sempre bom aprender com o trabalho de 'gente pequena'", diz Sandro Castilho - ou Doutor Esquindô- Lelê -, líder do grupo. "Já consigo entender que ajudo a mim mesma quando penso nas pessoas que precisam", falou a animada doutora Dorotéia Sapeca.