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Percurso feito por carro da PM que levou Amarildo tem pelo menos 8 câmeras

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

17/08/2013 06h00

O veículo policial que levou o pedreiro Amarildo de Souza, 43, à sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro, percorreu trajeto monitorado por pelo menos oito câmeras até a estrada da Gávea, caminho para um dos acessos à comunidade.

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"Houve uma gravíssima violação de direitos humanos. Na hipótese A, B ou C, a Polícia Militar, portanto o Estado, tem responsabilidade pelo desparecimento de Amarildo"

Os equipamentos podem ajudar os investigadores na tentativa de descobrir o que aconteceu com o morador da Rocinha, que está desaparecido desde o dia 14 de julho. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de homicídio.

Na última vez em que Amarildo foi visto, ele estava acompanhado por PMs em um posto de comando e controle da UPP situado na rua 2. Em seguida, o pedreiro entrou em um carro da polícia e foi levado à sede da UPP para averiguação.

Na versão dos policiais envolvidos, o morador foi liberado após ser confundido com um traficante da região.

  • Arte UOL

Nesta sexta-feira (16), a reportagem do UOL percorreu o trajeto feito pelo mesmo veículo policial no qual Amarildo entrou antes de desaparecer, e que foi descoberto a partir do GPS (Sistema de Posicionamento Global) do equipamento de radiocomunicação do carro. As informações foram obtidas pela TV Globo.

Há três dias, a Secretaria de Estado de Segurança Pública admitiu pela primeira vez que o veículo policial possuía um outro dispositivo, acoplado ao rádio de comunicação, que permitia saber o trajeto feito pelos policiais. Durante a investigação, a Polícia Civil constatou que o rastreador do carro não estava funcionando.

Da zona sul à zona norte

  • Segundo nota da Secretaria de Estado de Segurança Pública, a extração dos dados do sistema de georreferenciamento "se dá de forma manual e, consequentemente, muito mais lenta". O trabalho para decodificar as informações levou cerca de duas semanas e os dados foram anexados ao inquérito da Delegacia de Homicídios.

A rota tem início no posto de comando e controle da rua 2 e segue até uma localidade conhecida como Portão Vermelho, onde está situada a sede da UPP, no alto da comunidade. O itinerário considera o momento em que Amarildo foi detido e as 24 horas seguintes.

A partir desse local, a reportagem contabilizou oito câmeras, entre as quais uma posicionada de frente para a chamada "Curva do S" --onde o veículo policial ficou parado por quatro minutos, segundo o GPS do rádio-- no caminho até a estrada da Gávea.

Em seguida, o policial que dirigia o carro trafegou pelos túneis Zuzu Angel, Rafael Mascarenhas e Rebouças. Durante duas horas e 20 minutos, o carro rodou pela região portuária e pelas zonas norte e sul da cidade. Pouco mais de uma hora após ter deixado a favela, fez a sua primeira parada: no quartel da Tropa de Choque, no centro.

Na sequência, o veículo seguiu pela avenida Salvador de Sá em direção ao Hospital da Polícia Militar e ao morro do São Carlos, no Estácio, na zona norte, onde também há uma UPP. Após curto período parado nas imediações do hospital da PM, o carro seguiu para o 23º BPM (Leblon).

  • Arte UOL

Em seu primeiro depoimento, o soldado Sidnei Felix Cuba, omitiu ter passado pela zona portuária, o hospital da PM e o batalhão da PM no Leblon. Ele também não explicou a demora de mais de uma hora entre o Batalhão de Choque e a favela da Rocinha, um trajeto que levaria 20 minutos, num domingo.

Na quinta-feira (15), o policial prestou novo depoimento à Delegacia de Polícia Judiciária Militar. Para justificar o fato de ter rodado por duas horas pela cidade, Cuba disse ter errado o caminho ao seguir pela saída do túnel Rebouças em direção à Rodoviária Novo Rio.

O PM argumentou ainda ter sido chamado para buscar um colega atendido no Hospital da Polícia Militar e levá-lo para o 23º BPM no momento em que voltava para a favela da Rocinha.

Segundo carro

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, policiais da Divisão de Homicídios procuram o proprietário de um carro cinza, modelo Cobalt, que seguiu o veículo policial que levou Amarildo à sede da UPP Rocinha no dia em que ele desapareceu. A suspeita inicial é de que o carro pertença a um policial e que tenha sido usado para retirar o pedreiro da favela.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

O Cobalt aparece nas imagens das câmeras instaladas ao longo da estrada da Gávea, que atravessa a favela da Rocinha, na zona sul do Rio. Enquanto o veículo da PM está na sede da UPP, o Cobalt espera do lado de fora, com os faróis acesos. Quando o carro da polícia sai, o outro o segue. Há um "ponto cego" no trajeto, trecho que não é coberto pelas câmeras.

Policiais vão investigar se esse trecho coincide com um momento em que, de acordo com a rota registrada no GPS do equipamento de radiocomunicação, o automóvel da polícia fica parado por quatro minutos na Curva do S. Em outro trecho, é possível ver um policial descendo do veículo e se dirigindo ao Cobalt para conversar com o motorista.

Ainda segundo a reportagem da Folha, não é possível ver o interior do carro. As janelas têm películas de proteção. (Com Estadão Conteúdo)