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Rio de Janeiro perde apenas para Bogotá em ciclovias na América Latina

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

19/09/2013 06h00

O Rio de Janeiro é a única cidade da América Latina incluída no ranking elaborado pela consultoria dinamarquesa Copenhagenize, que lista as cidades mais amigáveis ao trânsito de bicicletas. Em 2013, ocupou a 16ª posição da lista, novamente encabeçada pela capital holandesa, Amsterdã. Com isso, subiu duas posições em relação à edição anterior.

Mas há outros casos brasileiros de sucesso na adoção das bicicletas como meio de transporte. Sorocaba (SP), Rio Branco e Aracaju foram apontadas por ciclistas como bons exemplos de integração dos ciclistas ao trânsito urbano. Outras capitais, como Recife e Vitória, prometem abrir espaço para o uso da bicicleta no trânsito.

Rio de Janeiro

Atualmente, o Rio conta com 320 km de ciclovias. Nesse total, incluem-se os 150 km de pistas à beira-mar, consideradas como “de lazer”. Até 2016, quando a cidade sediará os Jogos Olímpicos, a prefeitura promete que a malha chegará a 450 km, “em todas as regiões da cidade”.

Os números atuais são suficientes para dar à cidade o status de segunda maior rede de ciclovias da América Latina, atrás apenas de Bogotá, na Colômbia.

A distribuição das pistas exclusivas, porém, é desigual: fica concentrada na zona oeste (188 km), zona sul e centro (somadas têm 89 km). A populosa zona norte, onde vivem predominantemente os cariocas de renda mais baixa, conta apenas com 28 km de ciclovias. Segundo a prefeitura, 42 dos 159 bairros da cidade têm pistas exclusivas para bicicletas.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, responsável pela administração da rede, estima que ocorram mais de 1 milhão de deslocamentos diários em bicicletas. Parte considerável deles é feita com os equipamentos oferecidos pelo sistema de aluguel batizado de Bike Rio, com 60 estações (todas na zona sul e no centro) e mais de 600 bicicletas disponíveis.

A prefeitura informa que, desde a criação, o Bike Rio já contabiliza 1,8 milhão de viagens, mais de 150 mil usuários cadastrados e uma média superior a 4.000 viagens por dia.

Trens do MetrôRio e da SuperVia, bem como as barcas que ligam a cidade a Niterói, permitem o embarque com bicicletas em determinados dias e horários.

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Apesar dos números robustos, o Rio acumula um histórico de acidentes de trânsito graves envolvendo ciclistas. Até o fim de julho, houve ao menos cinco mortes de usuários de bicicletas, todas referentes a atropelamentos por ônibus do transporte público carioca. Os números podem ser maiores, mas faltam estatísticas confiáveis.

Sobre números de acidentes envolvendo ciclistas, a Secretaria do Meio Ambiente diz não que tais dados “não existem”. A reportagem procurou também a Secretaria dos Transportes e a Polícia Militar, mas ambas orientaram o UOL a buscar os números junto ao Corpo de Bombeiros. Este, por fim, informou não possuir “este tipo de detalhamento no banco de dados”.

O UOL também procurou entidades como a Federação de Ciclismo do Rio de Janeiro e grupos de cicloativistas do Rio, mas não conseguiu informações precisas a respeito de acidentes.

Sorocaba

Segundo a prefeitura, a maior rede de ciclovias do Estado de São Paulo está em Sorocaba (92 km a sudoeste da capital). A cidade de quase 600 mil habitantes conta com 106 km de ciclovias, quase todos de pistas exclusivas (apenas 3 km são de ciclofaixas, em que se destina parte da via utilizada por automóveis às bicicletas).

Boa parte das ciclovias acompanha o trajeto de 25 das principais avenidas da cidade. Segundo a prefeitura, a rede pistas exclusivas para ciclistas é interligada, e não segmentada, cortando toda a cidade. A maior parte das ciclovias atende a zona norte, a mais populosa de Sorocaba.

A estrutura é relativamente recente. Começou a ser implantada em 2006 e está bem equipada. Além das ciclovias, quem usa a bicicleta como transporte dispõe de 50 paraciclos (estacionamentos), um deles no terminal de ônibus Santo Antonio, um dos principais da cidade, além de oito quiosques com capacidade para até 60 bicicletas cada um.

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  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/09/18/voce-usa-a-bicicleta-como-meio-de-transporte.js

Como no Rio, um programa oferece bicicletas para uso temporário. A diferença é que no Integrabike o usuário não precisa pagar. Em contrapartida, deve ter ao menos 18 anos e um cartão do transporte coletivo. O sistema tem 19 estações no centro e na zona norte, com 152 bicicletas.

Chama a atenção, também, a fartura de dados sobre a utilização do sistema, mantidos pelo município. Com base em pesquisa realizada com os habitantes, a prefeitura estima em 300 mil bicicletas a frota sorocabana – ou uma a cada dois habitantes.

Desde 2009, o Setor de Estatísticas de Trânsito da prefeitura acompanha o desempenho do sistema cicloviário de Sorocaba. Segundo a assessoria da Urbes, gestora do sistema, desde então foi registrado apenas um acidente com vítima fatal: um ciclista morreu, fora da ciclovia, ao ser atropelado por um caminhão. Em 2011 e 2012, 190 e 70 acidentes, respectivamente, deixaram ciclistas feridos.

Rio Branco

É da capital do Acre o título de maior extensão de ciclovias por habitante entre as cidades pesquisadas pela reportagem – e uma das maiores do Brasil, segundo o portal do programa "Cidades Sustentáveis". Com 336.038 habitantes, Rio Branco tem 60 km de ciclovias – ou 5.600 pessoas por quilômetro de pista exclusiva, relação superior à de Rio de Janeiro e de Sorocaba. Além disso, a rede é bem distribuída e atende 60% dos mais de 200 bairros da cidade.

São pistas exclusivas em avenidas como a Via Chico Mendes, uma das principais da cidade. Ali, o antigo canteiro central foi transformado em ciclovia sinalizada e com iluminação noturna, que liga Rio Branco às rodovias de acesso ao interior do Estado e a Bolívia e Peru.

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Além disso, a única ponte estaiada da cidade é vedada aos automóveis. A Passarela Joaquim Macedo é exclusiva para que ciclistas e pedestres cruzem o rio Acre. Ainda no centro, o parque da Maternidade é cortado por ciclovias que dão acesso a outras vias exclusivas, o que permite que usuários de bicicleta não precisem trafegar pelas avenidas do anel central.

Tal infraestrutura acabou por incentivar a adoção da bicicleta pela população de Rio Branco. A prefeitura estima em 100 mil a frota de bicicletas da cidade. Mas parte delas foi encostada nos últimos tempos.

“A facilidade na compra de motocicletas tirou muitas bikes das ruas, em especial as dos operários que encontram facilidades para comprar motonetas ou motos de baixa cilindrada importadas”, lamentou o engenheiro Ricardo Torres, que comanda a RBTrans (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito).

Enquanto isso, a prefeitura diz ter projetos para aumentar em 100 km a malha viária para ciclistas. “[Ao todo] São cerca de 160 km de vias cicláveis projetadas”, informou Torres. Mas, até 2014, a malha deve crescer apenas 10 km. “Também buscamos parceiros para a recuperação de mais 50 km. O desgaste do tempo e a baixa capacidade de manutenção tornaram alguns trechos pouco utilizados.”

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Também busca um patrocinador interessado em tornar viável um sistema de aluguel de bicicletas. “O projeto esta em andamento e esperamos licitar ainda neste ano. [Mas ainda] estamos buscando um patrocinador, como o banco Itaú em São Paulo”, disse o chefe da RBTrans.

Aracaju, Vitória e Recife

Capital sergipana, Aracaju, cidade de 571.149 habitantes, oferece aos ciclistas 56 km de ciclovias, em 21 de seus 39 bairros – a maior malha do Nordeste, segundo informou a própria prefeitura. À reportagem, a prefeitura informou ter projetos para outros 23,63 km de pistas exclusivas. Nos últimos anos, porém, a expansão da rede foi tímida: 1,8 km (em 2010), 0,5 km (2012) e 1,5 km (2013).

Ao contrário de muitas cidades litorâneas, em Aracaju, as pistas exclusivas não se limitam à orla e estão em vias importantes como as avenidas Augusto Franco, São Paulo e Santa Gleide.

Navegue por infográfico sobre mortes de ciclistas em SP

  • Arte UOL

A prefeitura não tem dados sobre o número de ciclistas que trafegam pela cidade e contabiliza apenas acidentes com vítimas fatais. Em 2013, houve ao menos um morto em acidentes envolvendo bicicletas. No ano passado, foram seis vítimas fatais.

Com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) quase igual ao de Aracaju (ambas lideram o ranking na região Nordeste), o Recife possui malha cicloviária tímida em relação ao tamanho da cidade. A prefeitura informa que há atualmente 28,5 km de ciclovias e ciclofaixas ligando 21 bairros da cidade – ao todo, são 94.

Os primeiros trechos de vias exclusivas para ciclistas foram lançados em 2003, na região central. A secretaria de Mobilidade e Controle Urbano de capital pernambucana prometeu que, até o final de 2016, a malha deve chegar a 76 km de extensão.

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No Recife, também é possível alugar bicicletas num sistema batizado de Porto Leve. Para isso, é preciso se cadastrar e, em seguida, liberar a bicicleta em uma das 30 estações espalhadas pela cidade a partir de um telefone celular. O aluguel diário custa R$ 5, e o mensal, R$ 10. Questionada, a prefeitura não soube informar quais os números de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas na cidade.

Em Vitória, a prefeitura diz que irá “promover o uso da bicicleta como meio de transporte na cidade”. Em material enviado à reportagem, a assessoria afirmou que “a primeira obra desta  administração foi a recuperação física da ciclovia da rodovia Serafim Derenzi, a mais perigosa e deteriorada da cidade. Na segunda etapa, vamos seguir com o plano cicloviário, que será finalizado até 2016”.

Em fins de agosto, estava previsto o início de obras em ciclovias como a da avenida Munir Hilal, no Jardim Camburi, e a conclusão da ciclovia da rodovia Serafim Ferenzi, de 9 km. Segundo a prefeitura, a ciclovia, que começa na Vila Rubim, será interligada ao calçadão da avenida Beira-Mar. Ainda há outras obras em estudo, informou a administração.

Com quase 380 mil habitantes, a capital capixaba tem uma atualmente uma rede modesta, com 29 km de extensão. A prefeitura diz que outros 16 km estão em projeto, além de 29 km com “tratamento cicloviário a definir” – ou seja, vias em que ainda se fez opção entre ciclovia e ciclofaixa. Além disso, a cidade tem 20,8 km de vias com “potencial de implantação” de vias para ciclistas.

Apesar da extensão ainda modesta da rede cicloviária, Vitória exibe um bom banco de dados a respeito do uso da bicicleta. Segundo a prefeitura, são 22.835 deslocamentos diários, a maioria deles de moradores que pedalam rumo ao local de trabalho ou estudo.

A capital capixaba tem pronto um projeto de compartilhamento de bicicletas que, de acordo com a administração municipal, deverá ser licitado em breve. A ideia é comprar 250 bicicletas, que serão distribuídas em 25 pontos estratégicos da cidade.

Em 2012, a cidade registrou 119 acidentes envolvendo ciclistas, com 105 feridos e nenhuma morte. No primeiro semestre de 2013, caíram o número de acidentes (46) e de feridos (37). Em compensação, dois ciclistas morreram.

“Observa-se uma queda pequena, mas não se pode afirmar que é uma tendência. Acredito que o número deve permanecer estável [em relação a 2012]”, disse o tenente-coronel Marcelo Luiz Bermudes Rangel, comandante do BPTran (Batalhão de Polícia de Trânsito) da PM capixaba.